O colesterol é muito importante na formação das estruturas de todas as células do corpo humano, bem como na produção de hormônios, dos ácidos biliares, que atuam na digestão de gorduras, e da vitamina D. Ao mesmo tempo, ele se torna um problema quando os níveis de LDL, conhecido como colesterol ruim, estão muito elevados. Como consequência, ocorre acúmulo de gordura nas artérias, contribuindo para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, como insuficiência cardíaca, infarto e AVC, principais causas de morte no país e no mundo. Das 17 milhões de mortes prematuras (pessoas com menos de 70 anos), por condições crônicas não transmissíveis ocorridas no mundo em 2019, 38% foram causadas por doenças cardiovasculares. De acordo com documento publicado pela OMS em setembro de 2022, 86% das mortes por doenças cardiovasculares poderiam ter sido evitadas ou retardadas por meio de prevenção e tratamento. Um dos maiores obstáculos para o diagnóstico e tratamento precoce da elevação do colesterol e dos triglicerídeos, ou dislipidemia, é a ausência de sintomas na maior parte dos casos.
Em relação aos fatores de risco causadores da elevação do colesterol, o principal deles é o consumo excessivo de gordura saturada, encontrada em alimentos como carne vermelha e pele de frango, e em produtos ultraprocessados. De acordo com a nutricionista Dra. Valéria Machado, Coordenadora do Ambulatório de Nutrição do setor de Lípides, Aterosclerose e Biologia Vascular da disciplina de Cardiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e autora do livro Nutrição em Cardiologia, “a gordura saturada traz palatabilidade, ou seja, mais sabor ao alimento, mas aumenta o colesterol LDL”.
Durante anos, o ovo foi considerado um grande inimigo do colesterol. Mas a Dra. Valéria esclarece que hoje “não existe um determinado alimento que seja o vilão da história, assim como não há um superalimento que forneça todos os nutrientes que precisamos. O que existe é a palavra equilíbrio. Em linha geral, devemos adotar uma alimentação equilibrada”. Ela destaca também a importância da educação das famílias sobre alimentação saudável. “Estudos mostram que o consumo de 3 porções de fruta por dia, além de 2 porções de legumes e 2 porções de verduras reduz em 30% o risco de morte por doença cardiovascular.”
Outra causa do colesterol alto é a Hipercolesterolemia Familiar (HF), uma doença silenciosa e grave, provocada por “uma falha genética que altera a retirada do colesterol, pelo organismo, da circulação sanguínea, provocando seu acúmulo”, explica Patrícia Vieira de Luca, Cofundadora do FórumDCNTs e CEO da Associação Brasileira de Hipercolesterolemia Familiar (AHF). “Adultos com colesterol total acima de 310 mg/dL e crianças e adolescentes com colesterol total acima de 230 mg/dL devem pensar em HF”, acrescenta. Estima-se que no mundo todo existam mais de 34 milhões de pessoas com HF. No entanto, menos de 10% têm diagnóstico conhecido e menos de 25% recebe tratamento hipolipemiante, para baixar o colesterol no sangue. No Brasil, estima-se que 1 a cada 263 pessoas vive com HF, o equivalente a cerca de 800 mil indivíduos.
Segundo Patrícia, a HF se manifesta com níveis aumentados de colesterol total e LDL desde a infância, expondo todo o sistema cardiovascular e provocando morte prematura por infarto ou AVC. “O primeiro grande desafio é o diagnóstico precoce para que seja feito o tratamento o mais breve possível. Infelizmente, a pessoa descobre que tem HF após o primeiro evento cardiovascular. “Por isso, insistimos no rastreamento universal de crianças a partir dos 10 anos de idade, principalmente, quando há casos na família de morte prematura por eventos cardiovasculares, como infarto ou AVC”. A Dra. Valéria completa que “pessoas com HF devem manter uma alimentação saudável e o uso do medicamento sempre. Essa recomendação está na última Diretriz Brasileira de Hipercolesterolemia Familiar (2021), que todos os profissionais da área da saúde precisam conhecer para atender bem a pessoa”.
A fim disseminar estratégias para melhorar a saúde cardiovascular da população e prevenir e tratar de forma efetiva o colesterol elevado, o FórumDCNTs promoverá uma reunião na sexta-feira, dia 30 de setembro. Entre os especialistas confirmados estão o Sr. Alessandro Chagas, do CONASEMS, Dr. Eduardo Nilson, da Fiocruz, Dra. Gláucia Moraes, da UFRJ, Dr. Eduardo Macário, da Secretaria de Estado da Saúde de Santa Catarina, e a Sra. Kátia Audi, da ANS. Mais informações estão disponíveis em www.ForumDCNTs.org.