Falar em público ainda hoje, pode ser considerado um grande problema para muita gente. De acordo com um estudo realizado pelo jornal britânico Sunday Times em que foram entrevistadas cerca de 3 mil pessoas sobre seus maiores medos, 42% afirmaram que ter que se expor e falar com pessoas dá mais medo do que ter problemas financeiros, desenvolver alguma doença e até mesmo morrer.
A boa comunicação pode ser uma ferramenta diferenciada para obter bons resultados em processos seletivos, palestras e cargos políticos, por exemplo. O Centro de Pesquisas e Tratamento de Transtornos de Ansiedade de São Paulo realizou uma pesquisa com 452 residentes da capital paulista e apontou que, dentre os entrevistados, 32% apresentaram ansiedade excessiva quando falavam para um grande grupo de pessoas. Ainda segundo o levantamento, 13% das pessoas relataram que o medo de falar em público resultou em grande interferência em seu trabalho, vida social e educação, ou foi capaz de causar um sofrimento considerável.
Marcelo Hespaña, especialista em Media Training do Grupo Comunicarte, empresa que oferece treinamentos relacionados à comunicação, esclarece como uma apresentação assertiva pode afetar diretamente a performance de quem precisa falar em público.
De que forma a oratória pode comprometer uma oportunidade?
Marcelo: Nós somos avaliados e julgados muito mais pela forma com que falamos do que propriamente pelo conteúdo que expressamos. Isso pode parecer um absurdo. Mas o fato é que o jeito que conseguimos ou não nos expressar é que transmite ao outro a nossa capacidade, conhecimento, segurança e domínio do tema. Em ano eleitoral, por exemplo, a comunicação faz muita diferença. É hora do eleitor não só ouvir, mas avaliar os candidatos pela televisão, rádio e internet. Um desempenho ruim ao se falar pode gerar um distanciamento do seu público, do seu potencial eleitor.
O que leva uma pessoa a ter mau desempenho na hora de falar em público?
Marcelo: Falar bem é um processo de escolha. Quem decide se preparar, ensaiar, treinar e repassar muitas vezes o que será feito e como será feio, provavelmente terá um desempenho melhor do que aquele que aposta no improviso. O controle emocional passa muito pela certeza que você vai ganhando ao ensaiar repetidamente seu conteúdo e mostrar para você mesmo, antes de apresentar aos outros, que você está preparado e confiante.
O que se pode fazer para melhorar a oratória?
Marcelo: Existem diversas etapas que passam muito mais pela transpiração do que pela inspiração. A primeira dica é roteirizar seu conteúdo. Não só pensar no que vai falar, mas especialmente em como vai falar. E esse “como” passa pela escolha de cada palavra, da entonação, do exemplo que você vai trazer para ilustrar o que deseja esclarecer. Gosto muito da roteirização em 3 atos, onde você primeiro impacta o público com uma informação relevante ou surpreendente, depois explica bem para demonstrar conhecimento e domínio. E por fim, no terceiro ato, busca algo para criar ainda mais conexão com o público, de preferência algo mais emocional em vez de racional. Por fim, uma boa performance passa pelo domínio desse conteúdo e depois pela forma em que vai apresentar. O ideal é que o apresentador seja o centro das atenções e não a apresentação.
Como a prática de media training pode ajudar para uma boa performance?
Marcelo: Não é mais possível chegar para um cliente e falar “faça isso” ou “faça aquilo”. Considero que, hoje, há mais para falar do que apenas “regras” de: como se portar, o que fazer com as mãos, olhar ou não pra câmera. A prática do media training deve respeitar o estilo da pessoa, para que sua apresentação continue genuína, original e não fake. Trabalhar com uma equipe multidisciplinar com jornalistas, fonoaudiólogos, professores de expressão e arte, personal stylist e equipe técnica de gravação também deve ser uma característica desses treinamentos. A gente comunica o tempo todo e não só quando fala. Comunicamos com nosso olhar, nossa roupa, nossa postura e também com a nossa fala. Por isso é preciso olhar para o cliente como um comunicador no todo e não como alguém que vai cumprir regras para obter melhor desempenho.
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