O drama de muitos estagiários de jornalismo
Finalmente, o tão sonhado estágio foi conquistado. Pintou aquela oportunidade para colocar o jornalismo em prática, ouvindo conselhos e dicas, aprendendo com jornalistas formados, que transmitem suas experiências profissionais. Correto? Bem… Nem sempre.
São mais de dez anos lecionando jornalismo em diferentes instituições e, durante todo esse tempo, fico impressionada com casos de alunos que me procuram, naquela conversa pós-aula, para desabafar e pedir ajuda: “Meu chefe diz que meu texto é ruim e que eu faço o serviço errado, mas não explica onde estou falhando, para que eu possa me aperfeiçoar. O que eu faço?”.
Já escrevi sobre isso informalmente algumas vezes em meus perfis nas redes sociais, mas vejo a necessidade de fazer esse alerta nesse espaço seleto, composto por número expressivo de jornalistas. E nada mais faço do que lembrar o óbvio ululante: ora, se é estágio, o empregador não deve esperar que o estudante venha pronto, como um jornalista formado. Ele obviamente terá deficiências de apuração, texto, edição, relacionamento e no uso das ferramentas jornalísticas. Cabe à chefia (o jornalista responsável por acompanhá-lo ou o profissional que está a cargo desse aluno) treiná-lo, mostrando no que exatamente ele precisa melhorar, destacando exemplos positivos que possam ser seguidos. E isso, fazendo uso de elemento que às vezes parece estar em falta no nosso mercado: EDUCAÇÃO.
Tudo bem que o ambiente jornalístico é estressante, que mexe com os nervos e o equilíbrio de qualquer um. Tudo bem que, em especial em uma redação, é impossível algumas vezes não desabafar, sendo um pouco mais ríspido, por conta do clima de bomba relógio que pode tomar conta de um fechamento. Acho importante sim que o estudante conheça esse cenário e saiba lidar com ele, mas isso não quer dizer que dar esporro e ser grosso tenha que ser o padrão de relacionamento com quem está inseguro, fazendo as coisas com medo de errar. Tudo o que um estudante NÃO precisa é de alguém que baixe a sua autoestima, dizendo que ele não serve para o jornalismo e que deveria desistir da profissão, ou que seu texto está horrível (críticas algumas vezes feitas em público, expondo o estagiário perante seus colegas de trabalho). Há formas e formas de apontar onde uma pessoa errou.
Se o jornalista tiver um pouco de paciência e boa vontade diante de um estudante ávido por aprender (sei que existem alunos que realmente não estão nem aí com nada e nesse caso não tem o que fazer; refiro-me aqui ao estagiário esforçado), certamente a médio e longo prazo terá um excelente ajudante no seu dia a dia, que facilitará muito o seu trabalho. E, o melhor, ficará orgulhoso e feliz por sentir que contribuiu com a formação de um bom jornalista.
Nas vezes em que estive no papel de empregadora (e quem foi meu estagiário pode entrar aqui para comentar essa coluna, dizendo se é verdade ou mentira), sempre procurei ensinar, com paciência e boa vontade, o passo a passo da rotina jornalística que o estagiário deveria seguir, explicando detalhadamente os pontos que ficaram a desejar e como eles poderiam ser melhorados. Por mais que minha rotina fosse intensa, considerava esse tempo para ensinar essencial, pois sabia que, mais pra frente, eu poderia contar com aquela pessoa. Também sempre procurei destacar os acertos do estagiário. Uma coisa muito chata que existe no nosso mercado é que parece que é proibido elogiar. E isso não só com estagiários. Quando se erra, se ressalta ao máximo a falha cometida. Já quando se acerta, raras vezes a atitude é exaltada.
A experiência como professora tem me mostrado que, ensinando com compreensão e disposição, é possível desenvolver habilidades no estudante que antes ele não possuía. Já tive diversos exemplos de alunos que começaram a faculdade com muitos problemas e terminaram o curso com um bom texto, e dominando as técnicas e ferramentas da profissão. Vale a pena investir no estagiário. Lembre-se de que um dia você já esteve naquele lugar, e de que o futuro do jornalismo depende da formação e do perfil dos nossos focas.
Além disso, é muita cara de pau exigir de um estudante, que muitas vezes recebe bolsa-auxílio que mal cobre a mensalidade de sua faculdade, a mesma competência e desempenho de um jornalista formado, para o qual se teria que pagar, no mínimo, o piso.
Pode ser muita inocência da minha parte, mas quero crer que os jornalistas recém-formados atuantes na área possam pelo menos amenizar essa situação, tratando seus estagiários com mais paciência, respeito, ética e parceria. Sim, isso é possível.
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