Os jovens não estão mais lendo jornais e revistas, foram todos para a internet. Certo? Errado. Essa máxima é tão antiga, que hoje até os consumidores mais grisalhos estão se informando pelas redes sociais. Não é só um privilégio dos jovens. Google e Facebook respondem, respectivamente, por 38% e 43% dos acessos aos 400 maiores sites de notícias do mundo. Somente o Facebook gera seis bilhões de visualizações diárias e um bilhão de visitantes únicos por mês para esses sites. Chama a atenção o ritmo de crescimento da rede para o acesso a notícias em curto espaço de tempo: em janeiro de 2014, a empresa respondia por somente 20% dele. Uma pesquisa feita pelo Reuters Institute for the Study of Journalism, a Digital News Report, revelou que nada menos que 41% dos usuários de internet usam as redes sociais para acessar notícias, um aumento de seis pontos percentuais em relação ao ano anterior. Detalhe, esse dado é de 2015. Hoje, o número certamente é maior.
Mas, e daí? Onde está o problema? Antes as pessoas liam jornais e revistas, sujavam as mãos de tinta. Agora a leitura é digital. Essa é uma boa notícia. Deve ter mais gente lendo. O que mudou foi apenas o distribuidor. Certo? Errado. O tema é um pouco mais complexo. Durante anos os jornais de papel brigaram com os jornaleiros por conta de comissão de 20% que eles recebiam pela venda dos exemplares. A venda era em consignação. Se vendessem recebiam os 20%. Se não vendessem devolviam os produtos para as empresas. Hoje, o Sr. Mark Elliot Zuckerberg, dono do Facebook, se transformou no maior jornaleiro do mundo. Só que ele não recebe comissão pela venda de exemplares, isso é muito pouco. Zuckerberg encontrou forma muito mais rentável de ganhar dinheiro: ele cobra caro para expor as notícias na sua enorme banca digital.
Na verdade, para ser honesto, ele não cobra. As notícias são distribuídas gratuitamente. Só que, se o veículo não pagar, apenas 6% ou 7% dos seus leitores verão a informação. É como se o nosso jornaleiro virtual escondesse os jornais embaixo da banca. O Projeto #Colabora, por exemplo, site de jornalismo independente que discute temas ligados à sustentabilidade, existe há menos de dois anos e tem cerca de 150 mil seguidores no Facebook. Pessoas que aprovaram a proposta e que gostariam de receber o conteúdo produzido. Só que, sem o chamado “impulsionamento”, nome novo para compra de visibilidade, menos de 10 mil fãs saberão diariamente o que foi produzido.
Mas este é apenas um dos problemas. Redes como o Facebook, o Twitter, o Instagram e o Youtube, que não têm nenhum compromisso com a informação, muito menos com a informação de qualidade. São negócios, que possuem regras próprias sobre o que pode ou não ser veiculado. O jornaleiro do século XXI decide, não apenas que jornal estará exposto do lado de fora da banca, como qual será a manchete ou a foto de capa. Esta semana, por exemplo, um vídeo produzido pelo #Colabora que mostrava 11 quadros com nus artísticos criados por pintores famosos como Picasso, Dalí e Bosch foi censurado pelo Facebook. A publicação foi ao ar na segunda-feira, dia 2 de outubro, e já havia alcançado mais de 15 mil visualizações, centenas de compartilhamentos e dezenas de comentários quando foi retirada na quarta-feira, dia 4 de outubro.
Entre as obras censuradas, quadros como “Nu, folhas verdes e busto”, de Pablo Picasso, que foi arrematado num leilão em Nova York por mais de U$S 100 milhões. Procurado pelo site, o Facebook se recusou a rever a decisão. Alegou que as imagens usadas violavam os Termos de uso da rede: “Não permitimos posts que retratem a nudez, mesmo que não seja de natureza sexual. Isso inclui o uso de nudez para fins artísticos ou educativos”. O pior é que não dá nem para saber se a resposta veio de um ser humano ou de um robô, que não sabe a diferença entre um filme pornô e uma obra de arte.
E agora? Não dá para entrar com ação na justiça e dizer que esse tipo de censura viola a leis brasileiras. E as americanas também. Quem julgaria essa ação? O que fazer? Quem controla uma empresa com tamanho poder? Estamos falando de informação, de liberdade de expressão, da circulação livre de pensamentos. Não vendemos sapatos, panelas ou aparelhos eletrônicos. Nestes tempos de radicalismos variados, a situação só tende a piorar. Imagine como será na eleição de 2018?
Aliás, um subproduto desse poder das redes sociais começa a ganhar corpo de forma preocupante e polêmica. Alguns veículos no Brasil e no mundo estão produzindo conteúdo específico para cada rede social. Ou direcionando as reportagens de acordo com o perfil dos consumidores. Fazendo paralelo com os jornais de papel, é como se as mulheres recebessem em casa apenas o suplemente feminino, as crianças o infantil e os homens o caderno de esportes. Reforçando estereótipos, preconceitos e bolhas digitais. Nesse ritmo, no futuro, podemos pensar em enviar certo tipo de notícia para os eleitores do Bolsonaro e um outro, completamente diferente, para os que acreditam no Lula. É o velho e amarelado papel social do jornalista sendo trocado pela audiência das redes sociais no papel.
*Agostinho Vieira foi diretor do Globo, do Extra, da Rádio CBN e hoje é o editor do Projeto #Colabora.
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