Marcus Aurélio de Carvalho — jornalista, professor e pesquisador de rádio — foi repórter, apresentador e gerente de emissoras, passando por Super Rádio Tupi do Rio de Janeiro, Sistema Globo de Rádio (Globo/CBN) e MEC AM. Com toda essa bagagem, ele afirma que parte do problema da gestão do rádio está no conceito equivocado de que fazer um curso MBA, ou outro de gestão, por si já garante experiência suficiente para administrar uma emissora, uma produtora ou qualquer instituição do meio radiofônico. Isso porque, para ele, o setor tem um perfil único que não permite um bom trabalho sem conhecimento de causa, somando entendimento do mercado e das tendências acadêmicas.
“A convergência de mídia é um fenômeno inevitável. A pessoa da mídia convergente que vem dirigir nem sempre é a de rádio. Para uma pessoa administrar uma rádio, no mínimo tem que ter alguma vivência de rádio”, afirma o pesquisador.
Para Marcus, as tecnologias aplicadas ao meio rádio trouxeram uma infinidade de possibilidades, mas com duas perguntas fundamentais para os gestores: o que fazer com todos esses recursos? Como utilizá-los de forma eficiente sem descaracterizar a emissora ou o meio? As respostas estão na postura do gestor em ter atitudes proativas em buscar entender desse “novo mundo” e capacitar sua equipe para enfrentar esses desafios com trabalho. O que nos leva a outro questionamento fundamental, na opinião do radialista: saber para quem estamos falando…
Ele lembra que muitos profissionais fazem um bom trabalho na parte de gestão do rádio. Outros, no entanto, não conseguem identificar as características do público para o qual se está oferecendo conteúdo. Dessa forma, a comunicação se perde, pois “fala” para um público com a linguagem de outro. Ou, pior ainda: usa-se os microfones sem uma linguagem definida.
O radialista usa como exemplo a Rádio Globo de São Paulo no período em que foi gerente, de 2007 a 2012. Quando chegou à capital paulista, a emissora já era líder de audiência entre as rádios do segmento talk (faladas), mas tinha a missão de qualificar mais o perfil dos ouvintes para ampliar o trabalho do comercial da empresa. Foi assim que, em cinco anos com ele responsável pela gestão da rádio, a emissora passou de aproximadamente 24% de público D/E para apenas 11% a 14% (dependendo do mês) e algo em torno de 86% a 89% de público A/B/C.
Para Marcus Aurélio de Carvalho, a estratégia só funcionou pelo empenho e engajamento das equipes de produção, sob o seu comando, e das demais, como a de operações com o comando de Alberto “Mamão” Pastre e Rosan Camilo Bento. O mesmo ocorreu no departamento de esportes, que contava com liderança do narrador Oscar Ulisses e do comentarista e apresentador Osvaldo Pascoal.
A pessoa tem que ter a humildade de mergulhar em livros, pesquisas e materiais sobre rádio
Em oposição a esse case de sucesso, Marcus recorda que também há casos de profissionais com uma bela trajetória no meio radiofônico, porém sem formação ou competências de gestão do rádio. O que leva a outros erros, como a má gestão de verbas e a inabilidade em administrar pessoas.
O jornalista e radialista dá a receita para quem quer atuar no setor de gestão do rádio. “A pessoa tem que ter a humildade e mergulhar em livros, pesquisas e materiais sobre rádio. Também tem que ouvir, ouvir e ouvir rádio. Só assim se pode entender o setor”, analisa.
Essa talvez seja a melhor escolha que o próprio Marcus tenha feito. Ele conta que desde muito cedo seus pais deixavam um “radinho” de pilha no berço para distrair o menino, nascido no bairro de Inhaúma, mais precisamente na comunidade da Fazendinha, subúrbio da zona oeste da cidade do Rio de Janeiro. O pai do radialista era técnico em consertos de aparelhos de rádio e televisores. Por isso, o menino e seu irmão, Hélio, cresceram em meio a transistores, tubos de TVs e carcaças de equipamentos.
O jovem Marcus Aurélio de Carvalho nasceu com catarata congênita e glaucoma, o que levou à perda do globo ocular direito aos sete anos e a ter apenas 10% de visão no olho esquerdo. O menino suburbano enfrentou a situação junto com sua mãe, dona Marly, que foi orientada a mantê-lo na escola comum para que pudesse se adaptar à realidade que viria pela frente. Com isso, Marcus acabou tendo uma infância pobre, mas feliz.
Ele conta que, aos 12 anos, já ouvia muitas emissoras cariocas e paulistas, pois o rádio já havia se tornado um companheiro de muitas horas. Foi quando decidiu que queria trabalhar no meio radiofônico. E não só conseguiu, mas se tornou o primeiro repórter de campo com baixa visão a atuar em rádio no Brasil. Foram oito anos, de 1984 a 1992, período em que foi repórter da Super Rádio Tupi do Rio de Janeiro. Porém, não foi fácil. Para poder ver melhor as jogadas, ele utilizava um óculos especial com uma outra lente sobreposta à da armação. Com ela, era (e ainda é) possível aumentar a imagem o suficiente para que ele pudesse dizer aos ouvintes os detalhes da jogada que acabara de ser feita.
“Eu ficava atrás do gol. Só que o problema é que a lente de aumento é cilíndrica e não tem um campo visual bom. Então eu ficava torcendo para o jogador não fazer lançamento longo porque eu me perdia. Cadê a bola? Porque se fizesse o passe curto, eu estou acompanhando com o olho ali, com a lupa. Mas se ele fizesse lançamento longo, eu ficava perdidinho”, relembra o jornalista.
Parte dessa história vitoriosa, Marcus atribui a sua mãe, dona Marly, que foi quem o levava aos médicos e buscava ajudá-lo com em suas necessidades especiais de baixa visão.
Em 1987, no o jogo do Campeonato Brasileiro entre Flamengo e Internacional, ele foi escalado para acompanhar a partida pela Tupi, ficando atrás do gol. O narrador o chamava e Marcus entrava comentando os detalhes ocorridos próximos da área — e ainda falava o nome do patrocinador.
Naquele jogo, o seu irmão conta que a família estava na casa do avô assistindo quando houve o gol e o Marcus entrou para comentar na rádio. Foi então que chamaram a dona Marly e colocaram os fones de ouvido nela e disseram: o Marquinhos está dando detalhes do jogo na rádio! Ela ficou incrédula, pois havia percebido que o menino que ela ajudara a contar e fazer as lições de casa tinha se tornado um profissional de comunicação.
A minha mãe ganhou a Copa da Ajuda para que o filho dela construísse e realizasse os sonhos
“A dona Marly faleceu dois anos depois, em 1989, mas viu o resultado de sua luta. Ela foi muito batalhadora para que eu conseguisse estudar. Então, para ela, aquilo era uma era uma sensação. Naquele domingo, em que o Flamengo ganhou a Copa União, a minha mãe ganhou a ‘Copa da Ajuda’ para que o filho dela construísse e realizasse os sonhos, porque ela deve ter pensado: caramba, se ele conseguiu isso, cumpri minha missão!”, fala, emocionado, o radialista.
Atualmente, Marcus Aurélio de Carvalho é diretor de comunicação da Organização Nacional dos Cegos do Brasil (ONCB) e apresentador de alguns programas na rádio mantida pela instituição A emissora tem como foco uma programação voltada para pessoas cegas e com baixa visão. Por isso, o veículo busca fazer uma série de ações inclusivas e de cidadania para o seu público-alvo. Um bom exemplo disso: shows com audiodescrição de artistas como Marília Mendonça, Bruno & Marrone, Maiara & Maraísa e Paralamas do Sucesso.
Queremos sempre ser percebidos como melhor e mais qualificado conteúdo de rádio para as pessoas cegas e de baixa visão no país
A emissora da ONCB também se engajou na prestação de serviços, em tempos de Covid-19, produzindo uma série de conteúdos sobre como os seus ouvintes poderiam se manter seguros contra o vírus. Sobre esse trabalho, o radialista explica como é o dia a dia. “Falamos para um segmento. Somos uma organização social sem fins lucrativos, mas queremos sempre ser percebidos como melhor e mais qualificado conteúdo de rádio para as pessoas cegas e de baixa visão no país”.
Sobre o impacto das tecnologias e o futuro do rádio, Marcus relembra que as ferramentas digitais vieram para ficar e expandiram as possibilidades de uso do áudio. E cita como exemplo a Rádio ONCB, onde utilizam site, YouTube, Instagram e transmissões de áudio e vídeo ao vivo para envolverem os internautas em sua programação. E lembra que esse tipo de trabalho inclusivo deveria ser feito por todos os veículos de comunicação, pois há uma legislação que determina esse processo.
Sobre o futuro do meio radiofônico, Marcus aposta na convergência e na expansão do consumo de áudio em diferentes formatos, como o podcast.
“Podcast é uma forma de comunicação que tem como fio condutor principal o áudio. Esse produto aqui é áudio. Nós não dependemos da imagem para fazer esse produto (o podcast ‘RadioFrequencia‘). Ele é uma conversa, um talk show!”, pontua o jornalista com experiência em gestão do rádio.
O podcast é o quê? Rádio!
“Um bate-papo é um podcast. O podcast é o quê? Rádio! É todo meio de comunicação que se comunica por meio do som, que conecta por meio do áudio. Essa convergência de mídia vai continuar. Vai até aumentar… Então, o rádio vai morrer? E por que eu aposto que não? Porque os podcasts estão nos mostrando que não…”
Marcus Aurélio de Carvalho finaliza dizendo ser um homem de amores correspondidos. Entre eles, o rádio.
E mais: Audiência milionária: rádios de SP registram mais de 2 milhões de alcance
E ainda: O podcast é o novo rádio?
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A entrevista com Marcus Aurélio de Carvalho foi originalmente divulgada em formato podcast e pode ser ouvida na íntegra por meio da plataforma Anchor.fm.
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