Do latim “communicare”, o termo comunicação abrange múltiplos significados. Um dos mais relevantes talvez seja “compartilhar”, verbo bitransitivo que resume a máxima “tornar algo comum”. Comunicação pressupõe interação, contato, troca.
Se a natureza do ato é o diálogo, por que, entre parte dos especialistas da área, existe tanto monólogo?
Por que a arrogância, o pedantismo, a soberba e a presunção, como verdadeiras epidemias, têm “contaminado” mais e mais jornalistas, RPs, publicitários e uma gama extensa de profissionais que atuam nas diversas especialidades da comunicação social?
Nem estagiários estão escapando.
Outro dia, no contato a um grande veículo, pensei estar falando com a própria Miranda Priestly, a chefe megera de “O Diabo Veste Prada” (2006), vivida pela todo-poderosa Meryl Streep. “Você é a nova coordenadora de conteúdo?”, perguntei. “Estagiária. Por quê?”, devolveu rispidamente a moça, que nem se deu ao trabalho de ouvir a informação exclusiva que eu iria passar. O editor atencioso do veículo concorrente, que se deu ao trabalho de escutar, acabou publicando a notícia com exclusividade. C’est la vie…
Escutar. Parece que esse é o ponto:
“Acho que nunca escutamos tão pouco. E talvez por isso nunca fomos tão solitários. Quando faço palestras sobre reportagem, os estudantes de jornalismo costumam perguntar o que devem fazer para se tornarem bons repórteres. Minha resposta é sempre a mesma: escutem. Acredito que mais importante do que saber perguntar é saber escutar a resposta. Não apenas para ser um bom jornalista, mas para ser uma boa pessoa. Escutar é mais do que ouvir. Como repórter e como gente esforço-me para ser uma boa ‘escutadeira’”, ensina a brilhante jornalista Eliane Brum no igualmente brilhante artigo “Por que as pessoas falam tanto?”.
“É a escuta que nos leva ao mundo. E é a escuta que nos leva ao outro. Quando não escutamos, nos tornamos solitários, mesmo que estejamos no meio de uma festa, falando sem parar para um monte de gente. Condenamo-nos não à solidão necessária para elaborar a vida, mas à solidão que massacra, por que não faz conexão com nada. Não escutamos nem somos escutados. Somos planetas fechados em si mesmos. Suspeito que essa é uma época de tantos solitários em grande parte pela dificuldade de escutar”, completa Brum.
Uma pessoa presunçosa tem poucas chances de evoluir, justamente porque imagina que não precisa mais aprender. É um comportamento nocivo, que tolhe o desenvolvimento, pessoal e profissional. Na comunicação, então, é nefasto. “A arrogância dos jornalistas trava o crescimento. Comparado a outros setores, esse é um dos mais arrogantes”, afirma a psicóloga especializada em comportamento organizacional Betânia Tanure, ex-diretora da Fundação Dom Cabral, conselheira de empresas e colunista do Valor Econômico.
“A cultura das empresas de comunicação no Brasil ainda é muito hierarquizada. Existe o ‘manda quem pode, obedece quem tem juízo’. Num momento de mudanças profundas [como o enfrentado atualmente pelo setor], é preciso ousar, arriscar e errar, necessariamente. Aqui entra, também, a questão da arrogância, pois se você erra num sistema autoritário, acaba por não alimentar o seu processo de inovação. Aqui está um grande desafio a ser enfrentado”, destaca.
Saber escutar, reconhecer o próprio erro e ter humildade para aprender, além de digno, é fundamental para as relações.
Comunicação, no final das contas, é estabelecer pontes.
E atravessando os percalços, juntos, podemos crescer.
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