O mundo da publicidade e da mídia foi surpreendido recentemente com uma decisão do Facebook de mudar (mais uma vez) a maneira como seu feed de notícias prioriza a distribuição de conteúdo. Ao ler a notícia e perceber o desespero que se instalou no mercado, chamei um dos executivos-chave da empresa na Califórnia para pedir sua perspectiva. Ele finalizou nossa conversa com um: “confia no nerd”…
E isso me fez lembrar da minha primeira interação com Mark Zuckerberg, quando ainda estava indeciso sobre ajudá-lo a montar a operação da empresa na América Latina.
Isso é parte do que lembro:
Numa tarde de temperatura amena, em agosto de 2010 um carro para na frente do meu hotel, no Vale do Silício. A empresa havia oferecido me trazer para um papo com seu fundador. Nessa época, ainda estava no Google. E eles me cortejavam para comandar uma rede social que tinha tudo para estourar no Brasil. É o que os gráficos estavam mostrando, apesar da realidade ser, na época, totalmente diferente.
Achei estranho que, ao chegar na sede da empresa, o motorista evitou a entrada principal. Ao invés disso, parou ao lado de uma quadra de basquete. Alguns jovens se alternavam entre conversas nas mesas ao ar livre e um jogo despretensioso de bola ao cesto. Lá me esperava uma jovem, seguramente de ascendência oriental. Me pediu para segui-la. Atrás da quadra havia uma escada e na parte de baixo do prédio uma porta que parecia uma saída de emergência qualquer.
Por lá entrei e fui encaminhado a uma sala totalmente vedada. De luz, de ruídos. Toda revestida com material de estúdio de som. Nela, uma mesa simples e dois sofás. Em poucos minutos, entra um rapazote. Calças jeans. Camiseta cinza escura e tênis. Fala rápido e com pouco contato visual. Mas é brilhante. Ele me explica a lógica pela qual entende ser a hora de abrir as operações do Facebook no Brasil e expandi-las na América Latina. Olho desconfiado e digo: “mas o Orkut tem 5 vezes mais usuários ativos que o Facebook”. Mark Zuckerberg me olha por alguns segundos e diz: “confia no que te digo…”.
Para quem acompanhou a história que veio a seguir, não é preciso dizer que ele estava absolutamente correto.
Quase três anos depois de deixar o Facebook ainda acompanho muito de perto os caminhos da empresa. Faz parte do meu dia a dia. E na semana passada fomos surpreendidos pela postagem do Zuck (como é conhecido pelos funcionários), no qual, em meros 12 parágrafos, ele explica que decidiu, mais uma vez, priorizar os usuários.
Quem trabalha com marcas e meios de comunicação tem toda razão em temer essa medida. Afinal, passaram anos construindo uma base de seguidores e, em breve, Zuck vai despriorizar suas mensagens e passar a dar preferência ao que ele chama de “interações sociais mais relevantes”.
E eu acho que isso faz todo sentido. No curto prazo, a mudança será difícil. As empresas terão de se adaptar. Mas do ponto de vista de relevância aos usuários, e da longevidade do Facebook, eu entendo que Zuck está certo.
A grande pergunta que fica é: “e agora, o que faço?”.
A decisão do Facebook é importante também para que os profissionais de marketing e das empresas de mídia repensem sua estratégia de distribuição de informação. Como diminuir a dependência do feed? É uma combinação de voltar às raízes e focar em novas tecnologias.
Desde que saí do mundo corporativo, me dedico a entender as necessidades e ajudar empresas com suas estratégias de marketing através de empresas de serviço e tecnologia.
Uma das áreas a que mais tenho dedicado tempo é a de Inteligência Artificial (AI, na sigla em inglês). Por mais desconectada que possa parecer, eu acredito que AI é uma das melhores oportunidades para enfrentar essa nova realidade.
O momento é de transformar a estratégia de distribuição massiva de conteúdo através do feed para uma distribuição massiva, mas muito mais personalizada, através de conversas automatizadas. Dentro da AI, os chatbots são a melhor opção para que as empresas retomem o controle da distribuição de seu conteúdo, aumentem o engajamento e a frequência de sua comunicação.
As plataformas de AI ainda são uma novidade. Mas algumas estão bastante avançadas. Elas permitem aumentar a audiência através de interações 1:1, com a frequência que faça mais sentido e com volumes do tamanho da base de seguidores. Essas mensagens podem trafegar em qualquer plataforma de comunicação (FB messenger, Twitter, Whatsapp e os próprios sites das empresas).
A decisão comunicada pelo Facebook na semana passada deve ser definitiva. Por isso, é hora de deixar as lamentações e repensar sua estratégia. Uma coisa é certa, eu confio que a decisão tomada será positiva no longo prazo. E você, está preparado?
*Alexandre Hohagen. Sócio-fundador e Investidor da BotMaker, plataforma de inteligência artificial para negócios, Sócio e CEO da Nobox, Sócio e Conselheiro da Ampfy e MarketUp, ex-CEO do Google e Facebook na América Latina e US Hispanics.
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