Se confirmada a versão propagada pelo jornalista e político filiado ao Psol Cid Benjamin no Facebook neste fim de semana, a saída do repórter Caio Barbosa do jornal O Dia vai além da simples decisão de um veículo de mídia em não contar mais com um profissional em seu quadro de funcionários. De acordo com o comunicador veterano, o colega foi demitido da publicação carioca controlada pela Empresa Jornalística Econômico S.A. (Ejesa) a mando do prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB).
Crítico do trabalho de Crivella, a quem se refere como “bate-pau” e “bedel religioso”, Cid Benjamin denunciou o caso na noite de sábado, 18. O jornalista relata que o próprio repórter dispensado lhe confidenciou que o prefeito carioca teria pedido a sua cabeça. O que teria sido feito diretamente aos donos da Ejesa, empresa que também controla o popular Meia Hora. O suposto ato de censura e ataque à liberdade da atividade jornalística comandado pelo político do PRB teria ocorrido por causa de uma reportagem. Na quinta-feira, 16, Caio Barbosa produziu a matéria “Febre amarela: população critica filas e falta de informações nos postos”. Como o título sugere, o texto aborda a ineficácia gestão da saúde pública da cidade.
Prefeito nega acusação
Diante da repercussão da acusação, o prefeito do Rio de Janeiro na tarde deste domingo, 19. Em nota oficial, Marcelo Crivella nega ter pedido a dispensa do repórter de O Dia. “É falsa a informação divulgada nas redes sociais atribuindo a mim o pedido de demissão do jornalista Caio Barbosa”, afirma. “Jamais faria isso. Declaro de forma veemente que respeito os profissionais de comunicação e a liberdade de imprensa”, prossegue o chefe do Executivo carioca.
Além de negar envolvimento na demissão de Caio Barbosa, Crivella sugere ser um político perseguido. Mas não afirma por quem. “Repudio, tenho desprezo e nojo a perseguições políticas”, pontua. “No meu primeiro discurso depois de eleito, roguei a Deus que nos livrasse da praga maldita da vingança”, garante o prefeito. Sem relação com o caso envolvendo o jornalista, o político encerra a nota oficial informando que a prefeitura do Rio de Janeiro emprega Guilherme Freixo, irmão do candidato derrotado no segundo turno das eleições do ano passado, Marcelo Freixo.
Repórter demitido rebate Crivella
Caio Barbosa estava na redação de O Dia desde 2012. Ele é jornalista formado pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e tem mais de 20 anos de carreira. Anteriormente, passou por veículos como portal SRZD (editor-chefe), Globo.com (editor), Extra, UOL, Globoesporte.com e Diário Lance (repórter). Fora do jornal em que trabalhou por mais de quatro anos, usou a rede social para rebater Crivella. “A nota oficial do prefeito é uma mentira. Não apenas sobre mim. Sobre ele”, lamenta. “Mente do início ao fim. Uma pena. Mentir é pecado. Deve ter sido escrita por um assessor. Espero”, critica o comunicador. “Errar e reconhecer o erro é virtude que Deus perdoa. Insistir na mentira é feio”, enfatiza o jornalista. Ele tem recebido apoio de colegas e internautas.
Jornal fala em reestruturação e tira reportagem do ar
Assim como Crivella, o comando do jornal O Dia se posicionou sobre o tema neste domingo. Em texto publicado em sua versão online, a gestão do veículo afirma que “não houve, e nem poderia haver, qualquer interferência externa nas decisões de corte, em nenhuma área da empresa. O jornal O Dia repudia qualquer insinuação neste sentido”. Sem a assinatura de nenhum executivo, a nota da publicação não menciona os nomes do repórter Caio Barbosa e do prefeito da capital fluminense. O site do diário afirma ter promovido “reestruturação de pessoal” na última semana. A ação, segundo a publicação, ocorreu em prol da saúde financeira dos negócios. “Manutenção do emprego de 250 funcionários diretos e mais de 1.000 parceiros indiretos”, destaca.
O veículo também não comentou o motivo de a reportagem assinada pelo repórter demitido ter sido retirada do ar. Quem tenta acessar a matéria é avisado de que a página não foi encontrada.
Em conjunto, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro (SJMRJ) e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) repudiaram a situação e afirmaram que receberam informações de que, sim, a reportagem sobre a falta de atenção da prefeitura carioca em relação à febre amarela teria desagradado o prefeito Marcelo Crivella. As duas entidades exigem explicações por parte dos controladores de O Dia. “Para surpresa geral, Caio foi demitido após um suposto telefonema do prefeito ao dono do jornal”, pontuam. As instituições destacam, ainda, serem “contra a censura, a intimidação e o assédio moral – venham de onde vierem – e não irão tolerar esse tipo de postura em relação aos profissionais de imprensa”.
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