A música sempre desempenhou um papel fundamental na cultura brasileira e ao longo das décadas a forma como ela é selecionada e apresentada ao público passou por uma notável evolução. Desde os anos 60, quando se identificou a necessidade de um profissional apto a fazer a seleção de obras nas artes visuais, a figura do curador se expandiu para diversas áreas, incluindo a música. Durante essa expansão no mercado musical a figura do curador esteve mais presente em gravadoras, emissoras de TV e em grandes festivais como Rock in Rio ou naqueles que traziam à tona grandes promessas, como o memorável Humaitá Pra Peixe, fundado em 1994 por Bruno Levinson que também, como curador do festival, trouxe à tona novos nomes da música brasileira que ascenderam posteriormente.
A curadoria musical se tornou uma força motriz no cenário musical brasileiro, mas ainda assim, era um ramo quase exclusivo de gravadoras e festivais. Agora, com a força do streaming e a aderência de públicos às playlists juntamente com a facilidade na criação de sites e espaços de divulgação nas redes sociais, a curadoria musical tem se estabelecido como uma área e cada vez mais importante. No epicentro desse movimento dinâmico estão empresas como o Divulguei, que criou um portal para conectar artistas independentes a curadores de playlists, rádios, sites, redes sociais, festivais, selos, etc.
A curadoria humana x curadoria algorítmica
De acordo com a Pro-Música, entidade que representa as principais gravadoras e produtoras musicais do país, no primeiro semestre de 2023 o setor musical brasileiro registrou um faturamento expressivo de R$ 1,2 bilhão, sendo que 99,2% desse montante provêm das receitas geradas pelo streaming.
Os serviços de streaming simplificaram o acesso e a descoberta de músicas com uma vasta coleção musical de forma irrestrita e sob demanda. A curadoria, realizada por seres humanos e algoritmos, desempenha um papel crucial ao filtrar, selecionar e orientar a experiência de consumo, tornando-se uma estratégia eficaz para lidar com a abundância excessiva de conteúdo disponível.
“Estamos vivendo a era do streaming. Nesse cenário, a curadoria humana assume um papel muito importante. Com milhões de álbuns, singles e playlists, as grandes corporações, por meio de suas práticas de curadoria algorítmica, acabam homogeneizando a experiência musical do usuário”, explica Paulo Nepomuceno, fundador do Divulguei.
O Spotify emprega uma mistura de curadoria humana e algorítmica para sugerir e apresentar músicas alinhadas aos gostos e preferências musicais anteriores dos usuários, desempenhando um papel central na experiência dos ouvintes. Grande parte da curadoria é automatizada por meio de algoritmos que analisam diversos dados sobre o comportamento do usuário e tomam decisões de maneira pouco conhecida. No entanto, mesmo com o avanço contínuo dos algoritmos, eles ainda não conseguem reproduzir a mesma sensibilidade da curadoria humana. Mesmo que esses algoritmos se aprimorem ao longo do tempo, eles baseiam suas sugestões apenas no histórico de comportamento do usuário. “Já a curadoria humana é menos previsível e tem o poder de ser ousada, sendo capaz de surpreender as pessoas com experiências inesperadas ou simplesmente com algo que elas nem imaginavam existir num mundo onde a diversidade musical e artística é gigantesca”, acrescenta Paulo Nepomuceno.
O novo mercado de curadoria no Brasil
De selos independentes a redes sociais de divulgação, o papel do curador tem se tornado cada vez mais importante nas diferentes mídias frente à crescente demanda de artistas independentes que buscam meios de divulgar suas músicas. Neste universo do empreendedorismo musical, não é difícil encontrar donos de playlists e portais de música que tiram o seu sustento ou boa parte dele através do trabalho de divulgação artística que passa pelo filtro da curadoria, e que muitas vezes é feita pelos próprios donos dessas mídias.
No site criado pelo Divulguei, por exemplo, existem centenas de curadores de diferentes estilos musicais e meios de divulgação que trabalham ativamente no portal selecionando músicas enviadas por artistas independentes para serem divulgadas.
“O nosso portal é um verdadeiro hub que conecta artistas independentes e curadores de rádios, blogs, playlists, influenciadores, festivais, selos, etc. Os artistas pagam um valor acessível e em real pela curadoria e o curador recebe uma parte desse valor. Isso aquece o mercado e traz mais pessoas apaixonadas pela música para essa roda porque elas enxergam uma oportunidade de renda e de trabalharem com aquilo que amam”, finaliza Paulo Nepomuceno.
Empreendimentos como os da empresa Divulguei desempenham um papel crucial na configuração de um momento histórico em que uma contradição é superada. Anteriormente, o cargo de curador estava limitado a grandes corporações culturais e de entretenimento, as quais eram, por natureza, elitizadas e inacessíveis para certos contextos sociais.
No cenário atual, entretanto, há uma multiplicidade de iniciativas que transcendem essas barreiras, criando novas demandas e oportunidades, como é o caso de curadores independentes que são donos de sites, blogs, playlists e até selos musicais. Essas relações artísticas e econômicas já não estão mais sob o estrito domínio de grandes gravadoras, o que torna o crescente mercado de curadoria musical muito atrativo, contribuindo ainda mais para a diversidade artística e o sucesso dos diferentes nichos musicais brasileiros.
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