Mais um jornalista brasileiro deu os primeiros passos rumo ao meio político. Ainda sem ter uma decisão definitiva a respeito de ter ou não o seu nome presente nas urnas eletrônicas nas eleições gerais deste ano, Daniel Penna-Firme entrou para a lista de filiados do União Brasil, partido que nasceu como fruto da fusão do PSL com o Democratas. Ele assinou a ficha de filiação nesta semana e, na sequência, avisou sobre tal movimentação à direção do trabalho que exerce há anos na imprensa fluminense, o de repórter e âncora eventual do SBT Rio.
Filiado a um partido político e, com a possibilidade de pedir uma licença não remunerada ao Sistema Brasileiro de Televisão, a expectativa é a de que o jornalista lance candidatura a deputado estadual. Assim, brigaria por uma das 70 cadeiras em jogo na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). Receoso em cravar se entrará de vez para a política, o comunicador, que já foi produtor e âncora da Rádio Globo e neste ano estreou um programa semanal na Roquette-Pinto, demonstra ter em mente propostas para auxiliar o dia a dia de trabalho de profissionais que movimentam a própria imprensa.
Entre outros pontos, Daniel Penna-Firme chama a atenção para a questão de segurança — tema que sempre é debatido em território fluminense. “Tenho várias propostas que o sindicato de jornalistas nunca conseguiu tocar”, conta, em entrevista exclusiva ao Portal Comunique-se. “O sujeito que bota a cara no vídeo ou que assina matéria [em jornal] e entra em comunidade carente, entra em favela, e é repórter investigativo tem que ter o deslocamento casa-trabalho promovido pela empresa, com um carro da empresa [de mídia]. Ele não pode pegar transporte público”, exemplifica o jornalista.
Já houve caso de colega de imprensa ameaçado dentro de ônibus
Figura conhecida entre telespectadores e profissionais do meio da comunicação, o recém-filiado ao União Brasil destaca que já soube de casos em que um jornalista enfrentou momentos de tensão após produzir material a respeito de um criminoso. “Já houve caso de colega de imprensa ameaçado dentro de ônibus”, revela, sem mencionar nome. “Hoje, noticia-se a prisão do traficante ‘Zé Coquinho’. Amanhã, se está dentro de um ônibus que é assaltado pelo bando do Zé Coquinho. Aí, o bando do ‘Zé Coquinho’, que já estará solto, leva para a favela”, lamenta Penna-Firme.
Caso lance candidatura e tenha êxito nas eleições de outubro, o repórter do SBT indica que suas propostas para o bem-estar da classe jornalística fluminense irão além de brigar para que as empresas de mídia sejam responsáveis por bancar o transporte. “Uma proposição legislativa seria criar uma subsecretaria dentro do setor de inteligência de Segurança Pública do Rio de Janeiro que seja responsável por centralizar toda investigação a respeito de ataques à imprensa”, revela. “Recentemente, vivenciamos o caso dos ‘Guardiões do Crivella’, um grupo de servidores públicos na prefeitura, pagos com o nosso dinheiro, que impedia reportagens ao vivo, conforme denunciou a equipe da TV Globo”, prossegue.
Os crimes contra jornalistas precisam de uma repressão maior, até para que sirva de exemplo
“Tem gente orquestrando ataques a profissionais de imprensa? A polícia tem que investigar e descobrir! Os crimes contra jornalistas precisam de uma repressão maior, até para que sirva de exemplo”, defende o pré-candidato a deputado estadual pelo União Brasil. “Jornalista não pode ser agredido durante reportagem ao vivo. Jornalista não pode ter o seu trabalho, que é garantido pela Constituição, cerceado”, defende Daniel Penna-Firme, que lembra: o noticiário policial se faz diariamente presente no Rio de Janeiro, estado que, conforme diz, conta com três facções e dezenas de milícias “que se matam todos os dias” — com repórteres chegando a ficar em rota de colisão de conflitos armados.
Ainda em relação à imprensa, o repórter do SBT salienta que nos últimos anos observou que colegas sofrem com questões que deveriam ser básicas. De acordo com ele, há quem se veja escalado para pautas em zonas de conflito sem coletes à prova de balas. Outros, como no caso ocorrido em Petrópolis neste ano, vão para pontos de enchentes sem galochas, guarda-chuvas e capas. Ele defende que isso tem de ser combatido, a partir da implementação de uma comissão de fiscalização de segurança das redações de veículos de comunicação no estado do Rio de Janeiro.
Em projetos específicos para a categoria da qual ele mesmo faz parte, o membro do União Brasil é a favor de que jornalistas atuantes em áreas de conflito tenham direito a um salário adicional, por causa da periculosidade. Nesse sentido, ele lembra que o Rio de Janeiro tem, infelizmente, um caso registrado em sua história. Em novembro de 2011, o cinegrafista Gelson Domingos, da Band, morreu ao ser atingido no peito por uma bala de fuzil — ele cobria uma operação do Bope em uma favela da zona oeste carioca, informou na ocasião o G1. E para cobrir esse tipo de pauta, os jornalistas seriam obrigados a realizar um curso de segurança, como o oferecido pelo Comando Militar do Leste, orienta o repórter de TV.
Para a população em geral, Daniel Penna-Firme admite que, há algum tempo, percebeu que, por mais bem intencionadas que sejam, as ações realizadas pela imprensa têm limite no ponto de oferecer ajuda e soluções a determinados problemas. Uma vez na política partidária, ele acredita que poderá fazer mais. “Há muito tempo eu tenho ficado insatisfeito com o que eu não consigo mais fazer em termos de ajudar as pessoas por meio do jornalismo”, diz. “Os problemas do Rio de Janeiro são tão volumosos que ninguém com um microfone na mão consegue ajudar. Inclusive, as autoridades não dão mais ao jornalismo a importância que ele tem”, reclama.
Quem acompanha Daniel Penna-Firme nas redes sociais sabe que ele aborda publicamente um tema considerado tabu por muita gente: o alcoolismo. Em postagens, já admitiu que teve de lutar ativamente contra a doença. Caso torne-se deputado estadual, ele promete trabalhar para que o sistema público de saúde fluminense seja capaz de fazer com que mais pessoas larguem o vício. “Consegui sair do álcool porque eu tinha condições para pagar um psicólogo e remédios que não têm na rede pública”, relata. “Essas são minhas bandeiras: lutar pelo jornalismo e enfrentar a causa do alcoolismo”, enfatiza o jornalista que pode ser mais um a trocar a imprensa pela política.
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