O povo está de olho no preço dos produtos dos supermercados. Há uma forte pressão sobre os produtores e varejistas acusados e se aproveitar do momento e faturar em cima da procura por alimentos da cesta básica. Arroz, feijão e óleo de cozinha são eleitos os vilões do orçamento doméstico, especialmente em um ano em que muitos perdem os empregos por causa da crise vivida pelo Brasil. Há uma atmosfera geral de se formar grupos que apoiem o presidente. Espontaneamente as pessoas se articulam para resistir ao que os economistas insistem em afirmar que há uma tal de lei da oferta e da procura que determinam os preços nas gôndolas dos supermercados. Há um debate no meio político e acadêmico se o presidente deve ou não intervir na economia em nome dos mais pobres e da eleição que se aproxima. Os ventos do liberalismo parecem que se tornaram obstáculos aos que defendem uma mudança estrutural na economia do pais, com menos participação do Estado na condução dos rumos da economia. Advogam o liberalismo econômico, ou seja que os preços se ajustem por si mesmos, de acordo com as regras do mercado como ocorre em outras democracias capitalistas e liberais do mundo.
A esquerda vê uma rara oportunidade de cavalgar na insatisfação popular e defender maior participação do Estado na economia. É totalmente contra a tese do Estado mínimo, que uma vez ou outra é defendida abertamente por setores da direita. É verdade que fazem isso de forma avergonhada, afinal, também vão disputar as eleições e não querem perder postos nem o poder. Nunca fica claro que tipo de economia o governo quer para o Brasil. Preços, inflação, desemprego e aumento de salários são fatores que pesam em qualquer regime aberto no mundo. Por que não pesariam no Brasil? Fala-se em intervenção do Estado na produção e nos supermercados como uma forma de impedir a escalada de preços e os mais radicais identificam os “tubarões”, que monopolizam os produtos em toda a sua cadeia, do produtor rural à sacola do consumidor, e juntam grandes fortunas com intermediações. São os atravessadores na linguagem popular. Para se contrapor a isso apenas o Estado tem forças suficientes, ainda que a maioria dos ministros e do próprio Congresso Nacional se auto intitulem partidários da economia de mercado. Mas até que ponto o que funciona em outros países ocidentais, necessariamente, funcionaria no Brasil ? A América Latina tem vários exemplos de nações com forte participação do governo nos tratos econômicos.
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O ministro da economia é alvo da atenção de todos. Apoiado pela direita, criticado pela esquerda está cada vez mais frágil. O regime adotado no Brasil é o presidencialismo e por isso a decisão final está nas mãos do chefe do executivo. Ele nomeia e demite que quiser, uma vez que o cargo de ministro é dele, diz a constituição. Cogita-se a oficialização de fiscais dos preços no varejo, que munidos de tabelas divulgadas pelo ministério da agricultura, iriam aos supermercados e ,se identificassem alta dos produtos da chamada cesta básica, chamariam a polícia. Isto se torna realidade quando alguns estabelecimentos são fechados e os gerentes presos e indiciados em crime contra a economia popular. Com uma eleição pela frente, mais uma vez, se empurra a adoção de medidas impopulares para frente, como a redução dos gastos das gigantescas máquinas públicas federal, estadual e municipal. O ministro da economia Dilson Funaro apresenta o Plano Cruzado, apoiado pelo presidente José Sarney, como a espada para combater o aumento dos preços com tabelamento e os especuladores responsáveis pela desgraça dos mais pobres. Foi aprovado pela Câmara e no senado só tem um único voto contra. Os populares se identificam com os “Fiscais do Sarney”. E o partido dele, PMDB, elege mais da metade dos deputados, e a maioria dos governadores. É um sucesso político. Um estelionato eleitoral dizem umas poucas vozes. O Plano tem o apoio da esquerda e da direita e dura apenas um ano.
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