Dedicada à Olimpíada, diretora da BBC Brasil destaca cobertura multimídia

Diretora de redação da BBC Brasil, Silvia Salek está que nem milhares de atletas de diversos países: preparada para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Diferentemente de esportistas que pensam em superar seus oponentes e, assim, conquistar medalhas, a jornalista se organiza para comandar a cobertura da Olimpíada por parte do veículo de comunicação baseado em Londres, capital do Reino Unido e cidade que, coincidentemente, sediou a última edição do evento multiesportivo, em 2012.
Em entrevista à reportagem do Portal Comunique-se, a executiva número 1 do jornalismo conta como a equipe comandada por ela vai trabalhar durante as Olimpíadas, com destaque para ações multimídia, com produções sendo até lançadas em primeira mão nas redes sociais. Na conversa, feita por e-mail, Silvia aproveita sua vivência em Londres para explicar como tem sido a postura da imprensa estrangeira em relação aos Jogos Olímpicos no Brasil. “O Rio de Janeiro tem ganhado muito espaço, infelizmente, por motivos não tão abonadores, como a crise na segurança, o decreto de calamidade decretado pelo governador e o possível colapso do modelo das Unidades de Polícia Pacificadora”, comenta.
Confira, abaixo, a íntegra da entrevista com Silvia Salek:

EQUIPE DE COBERTURA

Houve por parte da gestão da BBC realizações de treinamentos e cursos para os jornalistas se prepararem para a cobertura de determinadas modalidades?
O treinamento específico da equipe da BBC Brasil não teve relação com as modalidades esportivas.A equipe, de acordo com as diferentes funções, tem recebido treinamento de, por exemplo, gravação e edição de vídeos por celular. São vários cursos com o objetivo de formar profissionais capacitados e antenados com as novas plataformas e as novas formas de acessar conteúdo.
Parte do que os cursos de capacitação ensinaram serão postos em prática agora?
Nosso principal objetivo para o próximo ano será ampliar a produção de conteúdo audiovisual digital. Sabemos que as redes sociais são uma plataforma importante para a disseminação e obtenção de conteúdo. Com isto em vista, os Jogos Olímpicos representam uma excelente oportunidade para testar novos formatos e consolidar nossos avanços nessa área.Outra parte do nosso trabalho é a participação em programas de rádio e de televisão em inglês, algo que já fazemos há alguns anos.
A realização dos Jogos Olímpicos por aqui fez com que a BBC Brasil ampliasse equipe?
A equipe da BBC Brasil não ampliou sua equipe de forma permanente. Normalmente, dois repórteres cobrem o Rio de Janeiro e, para as Olimpíadas, serão sete repórteres.É uma equipe relativamente pequena em relação aos grandes veículos do Brasil, mas, há algum tempo, percebemos que ‘menos pode ser mais’. O trabalho na filtragem das pautas será maior, assim como o trabalho de refinamento das matérias, dos títulos.

Descendentes de escravos participaram da
série ‘Hidden Rio’ (Imagem: Divulgação)
Há estratégias para a BBC Brasil servir como parceiras para jornalistas da BBC de outras praças?
Trabalharemos em total sinergia em coberturas ao vivo e naquelas mais relacionadas à produção durante as Olimpíadas.Esta filosofia de trabalho já rendeu resultados positivos, como as duas séries produzidas pela BBC Brasil para toda a BBC: ‘Heroes’ e ‘Hidden Rio’. Elas abriram a cobertura olímpica e podem ser assistidas pelo público por meio do canal internacional de notícias BBC World News, e também no site, Facebook e YouTube da BBC Brasil. Esta é a abertura de um espaço completamente diferente na BBC para o conteúdo do Brasil. Por outro lado, temos que lembrar que nosso foco principal é a audiência brasileira.
Como tem sido a repercussão do conteúdo produzido pela BBC Brasil no exterior?
É curioso que muito do material bilíngue que produzimos interessa tanto à nossa audiência brasileira quanto ao público estrangeiro. São, muitas vezes, temas de apelo universal, como a história de uma mulher que, ao descobrir que o filho havia sido assassinado por um menor de idade, decidiu que sua missão deveria ser impedir que outras crianças entrassem na vida do crime. O retorno que recebi da série ‘Heroes’ entre os colegas da BBC é impressionante.

COBERTURA MULTIMÍDIA

Em que momento a BBC Brasil decidiu usar o meio online como plataforma de estreia para determinadas produções?
Já somos um serviço online há alguns anos. Estamos usando as redes sociais como plataforma para determinados conteúdos. Já usamos o Facebook para um boletim diário com os destaques da nossa página, o WhatsApp para distribuir vídeos em que vemos um forte potencial de viralização espontânea e outras iniciativas do tipo serão anunciadas em breve. A única parceria que mantivemos no meio não digital é o boletim diário de notícias que temos com a rádio CBN.
A direção da BBC Brasil acredita que o Rio 2016 servirá como evento em que boa parte do público acompanhará pelas redes sociais (e nas páginas da BBC)?
Sem dúvida, mas não temos como prever o que vai ocorrer com a audiência de eventos esportivos.Em relação às notícias e à repercussão delas, as redes são uma plataforma privilegiada. Muitas vezes, a pessoa não quer necessariamente ver a notícia, mas, sim, a reação dos outros. Essa é uma demanda bem respondida pela lógica das redes.O boletim do Facebook da BBC Brasil, por exemplo, sempre inclui comentários divergentes sobre os temas, uma vez que consideramos que a voz do público passou a ter uma importância quase tão grande quanto a notícia em si.
Como será a utilização dos meios digitais – como Facebook, YouTube, Twitter, homepage –  durante a cobertura? Haverá transmissões ao vivo e produções exclusivas?
Teremos um boletim diário no Facebook, que será um tipo de teste para nos guiar no desenvolvimento do que virá a ser a TV digital do futuro. Este boletim vai usar uma nova tecnologia que permite mais dinamismo e conteúdo mais variado, com a coordenação de um estúdio e a inserção não apenas do repórter-apresentador, como também de outras participações ao vivo, reportagens pré-produzidas ou mesmo informações na tela.
Como assim? Repórter-apresentador?
O apresentador desse nosso novo produto nunca foi apresentador antes, mas tem algo excepcional que é sua capacidade como repórter e sua espontaneidade, o que vira nosso diferencial. Queremos que ele se conecte com a história, com o entrevistado, com o público. Ele pode gaguejar, pode até ler uma crítica ao vivo que chegue pela interação dos espectadores, mas o importante é oferecer um conteúdo de qualidade, seguindo nossa missão na BBC de informar, educar e entreter.

A corredora Neide Silva foi uma das personagens de ‘Heroes’ (Imagem: Divulgação/BBC Brasil)
De quais formas os profissionais da casa estão sendo preparados para a cobertura multimídia?
Os profissionais da BBC Brasil estão sendo preparados em cursos e experiências práticas.Sem dúvida, um profissional multimídia é algo muito valorizado. Existem profissionais do tipo, mas são poucos. É fundamental entender como é simples e como pode ter impacto produzir um vídeo gravado por celular. Também é importante que a pessoa saiba tirar uma foto qualidade. Se ela for capaz de ter uma produção multimídia equiparável a profissionais especializados, melhor ainda.
Pelo que você afirma, a BBC valoriza o conteúdo…
Mas existe o risco desse profissional (multimídia) ser supervalorizado. Não adianta a pessoa ser um especialista em redes sociais se não tem aquele termômetro interno para identificar oportunidades de pauta, entender o que move e o que falta nos debates, a sensibilidade para saber o que postar e com que texto, que foto usar, que título dar para apresentar o conteúdo da melhor maneira. O mais importante é ter a capacidade de produzir conteúdo de qualidade, de impacto, buscar o furo e a relevância com o público. E essa qualidade do jornalista, que sempre foi valorizada, continua sendo, talvez até mais do que nunca. O risco para novos profissionais talvez seja se concentrar demais no que é desejável – ou seja, a capacidade multimídia – e não prestar tanta atenção à alma do negócio jornalístico.

RIO 2016 = VISÃO ESTRANGEIRA

Como a imprensa europeia, sobretudo a do Reino Unido, tem abordado a realização dos Jogos Olímpicos no Brasil?
Os jornalistas estão se baseando muito no que sai na própria imprensa brasileira. Aqui, no Reino Unido, há certa expectativa a respeito de quando (e se) o humor dos cariocas e brasileiros vai mudar. Eles viam as Olimpíadas de Londres (2012), por exemplo, com enorme ceticismo. Previa-se o caos, e, na véspera dos Jogos, houve uma grave crise na segurança, com a empresa que deveria fornecer a segurança tendo que pedir ajuda. Muita gente saiu da cidade, e, talvez até por isso, tudo correu da melhor maneira possível. Muitos ingleses agora dizem que aquele foi o melhor momento da vida deles e falam, com especial orgulho, da cerimônia de abertura e também do fato de que lotaram as arquibancadas nos Jogos Paralímpicos.
Com a proximidade das Olimpíadas, a cidade do Rio de Janeiro tem ganhado mais espaço na mídia internacional?
O Rio de Janeiro tem ganhado muito espaço, infelizmente, por motivos não tão abonadores, como a crise na segurança, o decreto de calamidade decretado pelo governador e o possível colapso do modelo das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs).Sem dúvida, o viés de cobertura do Brasil hoje é completamente diferente de alguns anos atrás. A mudança coincidiu com o período pré-Copa do Mundo, a época dos atrasos, dos protestos, e se aprofundou com a crise econômica e a crise política.
Em Londres, os jornalistas estrangeiros têm demonstrando empolgação em virem para o Brasil por causa das Olimpíadas?
O Brasil ainda desperta enorme boa vontade e curiosidade entre as pessoas. Mas existe a óbvia preocupação com o vírus zika e com a segurança. Um tema que é muito caro para a imprensa europeia de maneira geral é o legado destas competições para a população.A Cerimônia de Abertura dos Jogos talvez gere comparações (com Londres 2012).
A realização dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro ajudou de alguma forma a melhorar a imagem do Brasil junto à imprensa internacional?
Em certo momento, sim, ajudou a melhorar a imagem. A realização dos Jogos despertou maior interesse pelo país. O Brasil tinha coisas boas a mostrar e representava a ambição de um país com cada vez mais presença no cenário global. Era uma presença que gerava simpatia de maneira geral.Mas, claro, com todas as recentes crises, o período agora é de provação. O fim das Olimpíadas vai marcar também o fim de uma década em que o Brasil se lançou em uma missão ambiciosa sob holofotes do mundo.
E depois dos Jogos, como ficará a imagem do Brasil no exterior?
Se as Olimpíadas forem um sucesso, talvez o Brasil tenha a chance de terminar esse período um pouco à frente de onde o país estava no início dos anos 2000. Nesta época, quando cheguei a Londres, o conhecimento sobre o Brasil era mínimo e completamente estereotipado, por pessoas de todas as esferas: leigos, jornalistas e acadêmicos.Quando entrava em táxis e dizia que era do Brasil, ouvia quase sempre menções a craques de futebol do passado e do presente em uma conversa que não levava a lugar nenhum. De repente, a conversa começou a girar em torno de economia, política, o que, a meu ver, já é um avanço.

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Anderson Scardoelli

Jornalista "nativo digital" e especializado em SEO. Natural de São Caetano do Sul (SP) e criado em Sapopemba, distrito da zona lesta da capital paulista. Formado em jornalismo pela Universidade Nove de Julho (Uninove) e com especialização em jornalismo digital pela ESPM. Trabalhou de forma ininterrupta no Grupo Comunique-se durante 11 anos, período em que foi de estagiário de pesquisa a editor sênior. Em maio de 2020, deixou a empresa para ser repórter do site da Revista Oeste. Após dez meses fora, voltou ao Comunique-se como editor-chefe, cargo que ocupou até abril de 2022.

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