Na quarta-feira, 19, o jornalista Ethevaldo Siqueira falou sobre sua saída da rádio CBN em texto publicado no Facebook. Por meio da rede social, o jornalista que comandava a coluna ‘Mundo Digital’ – descontinuada em 31 de março – divulgou carta ao diretor executivo da emissora, Ricardo Gandour, responsabilizando-o por transformar o veículo, “na melhor das hipóteses, numa emissora qualquer, medíocre, sem nenhum carisma e com muito menor credibilidade”.
Siqueira trabalhou durante 10 anos na CBN. O jornalista informou que sua saída da rádio foi resultado de proposta contratual “inaceitável”, em que foi oferecida a redução de sua frequência de cinco comentários semanais (que iam ao ar de segunda a sexta-feira), para que ele assumisse programa de 30 minutos, que seria transmitido aos finais de semana.
De acordo com o ex-colunista, a argumentação de Gandour para tal proposta é que o jornalista “teria dificuldade para encontrar novidades tecnológicas para comentar todo santo dia”. Siqueira afirmou, ainda, que no novo contrato a CBN reduziria sua remuneração fixa a comissão sobre patrocínios publicitários do programa de fim de semana.
A carta
Por meio de seu Facebook, Ethevaldo Siqueira afirmou que a carta endereçada a Ricardo Gandour não foi escrita para ofender o diretor da CBN, mas para tentar dizer que ele poderia mudar sua postura como gestor, rever seus princípios e pontos de vista como executivo de rádio.
Nos primeiros parágrafos do texto, o radialista destaca que o desgaste de sua relação com Gandour vem acontecendo desde 2012, ano em que Siqueira deixou de ser colunista do Estadão, após 45 anos no jornal. Na época, o atual executivo da CBN era diretor de conteúdo do Grupo Estado.
“Nesta segunda vez, o impasse começou quando você propôs cortar meus comentários diários e reduzir minha remuneração fixa a uma hipotética comissão sobre patrocínios publicitários de um único programa de final de semana. Essa proposta inaceitável foi sua resposta à sugestão que eu lhe havia feito de manter meus comentários diários sobre tecnologia e ampliar minha contribuição com novos programas semanais e mais coberturas internacionais. Tudo sem nenhum aumento de minha remuneração ou ônus para a CBN”, disse o profissional.
Siqueira afirmou que a proposta feita pelo diretor era pretexto para forçá-lo a encerrar sua colaboração ao final do contrato. O comentarista informou, ainda, que Gandour lhe enviou mensagem em 10 de fevereiro, declarando que a CBN continuaria a lhe conceder o “privilégio de enviar cartas de apresentação”, para o credenciamento do profissional na cobertura de eventos internacionais.
“Quanta generosidade de sua parte. Aliás, é bom relembrar que, desde 2013, tenho feito todas as coberturas nacionais e internacionais com recursos pessoais, sem qualquer remuneração e sem nenhum reembolso das despesas de viagens”, disse Siqueira.
O destino da rádio
No texto, Siqueira também disse que teme pelo futuro da CBN e que Gandour não conhece o mundo da radiofusão, fazendo críticas a postura do executivo como gestor da emissora. “No seu dia a dia, você continua o mesmo profissional imaturo, recalcado, vaidoso e incapaz de despertar o menor entusiasmo e colaboração criativa em seus comandados. Continua sendo aquele chefete que conheci no Estadão, muito longe de ser um líder”, afirmou.
Por último, Siqueira criticou o site da CBN, afirmando que o portal tem pobreza visual e de conteúdo. Além disso, o jornalista disse que entende a urgência de equilibrar as contas da emissora, mas avalia que isso não pode ser feito por meio da demissão de jornalistas e comentaristas comprovadamente capazes.
“É claro que você pode e vai equilibrar as finanças da rádio, mas pelo pior caminho, pois seu sucesso poderá ser uma vitória de Pirro, a nova CBN poderá ser apenas um espectro do que já foi. E, ao final de seu contrato, se ainda houver quem acredite na sua competência como executivo, você será chamado para negociar o aluguel da emissora a uma igreja qualquer. Como aconteceu recentemente com a Rádio Estadão”, declarou Siqueira.
A reportagem do Portal Comunique-se entrou em contato com Ricardo Gandour para esclarecimentos sobre a saída de Ethevaldo Siqueira da CBN. De acordo com o executivo, “entre novembro e março, alguns colunistas da grade diária não tiveram seus contratos renovados. O objetivo foi abrir mais tempo para reportagens, entrevistas, checagens e debates” na rádio.
Gandour confirmou, ainda, a proposta de mudança de frequência de Siqueira nas transmissões da emissora: “pela especialidade reconhecida, foi oferecido o desenvolvimento de um programa semanal sobre tecnologia e pesquisas espaciais”, disse o diretor. Questionado sobre a carta divulgada pelo jornalista, o executivo da CBN não se pronunciou.