Em nossa primeira reportagem, os colegas jornalistas Fernanda Yanaze, Joelma Leal, Rafaela Barbosa e Ricardo Nóbrega, das empresas Grupo Paranaense de Comunicação, Grupo O Povo, Rede TV e TV Gazeta, respectivamente, contaram um pouco sobre o trabalho de assessoria de imprensa feito nos veículos de comunicação e revelaram como é o relacionamento com os repórteres.
Nesta segunda parte da série “Desafio Comunicar”, vamos tratar das principais dificuldades de apostar na carreira, o que é premissa para trabalhar com comunicação para a imprensa, como são escolhidas as pautas, como é o processo, como divulgar notícias negativas e como lidar com as falsas informações que acabam chegando ao mercado.
Paixão pela profissão, estar bem informado, enxergar oportunidades de pautas, entender de estratégia, conhecer a melhor fonte para indicar, ser dinâmico e estar disposto e preparado para trabalhar em ambiente de mudanças são, de acordo com os nossos amigos, as premissas para quem quer apostar na carreira de assessoria de imprensa em veículos de comunicação. Além das características, é bom estar preparado para os desafios, como em todas as áreas.
Fernanda afirma que acompanhar a dinâmica da comunicação é um dos pontos a enfrentar. E, atenção, quem acha que jornalista não precisa estar antenado na tecnologia perde espaço. “Não basta ter release bem escrito, nosso olhar também precisa estar voltado para SEO, ou seja, nossos materiais também precisam conter as palavras mais buscadas pelos internautas – já que há casos em que o material é replicado na íntegra e também fica disponível na ‘Sala de Imprensa’ do site”. Recursos como gráficos e artes também precisam fazer parte do dia a dia do assessor, já que os veículos usam o material em suas produções. O monitoramento do que é dito nas redes sociais fica sob o guarda-chuva da comunicação e é feito pela mesma equipe.
Em O Povo, Joelma alerta para algo importante: a preocupação de não transformar os veículos do grupo em “house organ“, ou seja, veicular imensa quantidade de assuntos institucionais. “Não se pode levar o conteúdo de forma burocrática aos leitores. É preciso mostrar de que forma aquele assunto institucional (o seminário, a revistas, a palestra, etc) pode ser útil para o seu dia a dia. Outro desafio é fazer com que os setores demandantes compreendam o que é viável ou não, assim como o envio de informações com o máximo de antecedência e o mais completo possível”.
Expectativa x realidade. Pode lembrar muito os memes que circulam pela internet, mas é algo sério para quem tem como missão divulgar informações. Ao atender seus “clientes”, Ricardo afirma que ter jogo de cintura é essencial. Além disso, alinhar as expectativas de divulgação pode evitar problemas e frustrações. “Às vezes, no pensamento do ‘cliente’, o assunto a ser divulgado é uma pauta para o ‘Fantástico’, mas ao filtrar a informação, a devolutiva acaba o decepcionando. Aí que entra o papel do assessor, de explicar de forma coerente o direcionamento da pauta”.
Na Rede TV, a Rafaela ressalta que o maior desafio é garantir que os repórteres não deixem nunca de consultar a assessoria de imprensa antes de publicar qualquer informação obtida por fontes não oficiais. O trabalho de divulgação, para ela, precisa contar com interdependência entre a redação e a assessorias. “Cabe a nós levantar diversos conteúdos, sugestões e informações, mas cabe aos repórteres e editores dos veículos decidir quais serão ou não publicados, o que acaba se tornando um desafio diário da área”, explica.
No geral, os profissionais relatam que a agenda dos assuntos noticiados é decidida em conjunto com as equipes. No Grupo Paranaense de Comunicação, Fernanda realiza reuniões com os veículos da empresa e trabalhaa as pautas baseadas em projetos de cada unidade de negócio levando em conta os assuntos estratégicos.
No caso de Joelma, de O Povo, além da agenda, ela se preocupa sempre em passar as informações com o máximo de antecedência possível ao mercado. Atender ao deadline e produzir conteúdo personalizado para cada veículo ou colunista estão na programação dela. Nem sempre dá tempo de trabalhar com conteúdos direcionados, mas ela garante que a busca é constante.
Inclusive, foi exatamente esse ponto que Ricardo, da TV Gazeta, ressaltou. “Acredito que a forma mais eficiente é a divulgação personalizada, mas, realmente, nem sempre dá tempo. Às vezes, personalizamos para cada tipo de editoria, isso ajuda no processo”. Para ele, o trabalho de follow up é peça importante do trabalho, já que, por telefone, dá para entender melhor a necessidade do jornalista.
Na Rede TV, o trabalho é colaborativo. Ao mesmo tempo em que a assessoria busca por informações internas, as unidades de negócio fazem contato com ela para atualizar as novidades. O material levantado é compartilhado e discutido com a equipe. “Depois que a informação é publicada e repercutida, direcionamos os resultados da clipagem aos principais envolvidos – produção, direção e executivos do canal. Ainda faz parte da rotina da assessoria de imprensa da emissora sugerir e acompanhar entrevistas e pautas de cunho institucional e direcionadas ao trade, tendo em mente a linha editorial de cada veículo”.
Embora o sonho de todo jornalista seja divulgar somente notícias boas, sabemos que as negativas existem. E mais: precisam ser passadas com transparência. Os jornalistas entrevistados neste especial reuniram alguns pontos importantes na hora de fazer esse trabalho: sempre que possível se posicionar em relação ao caso; explicar com clareza o que aconteceu para garantir que a notícia tenha a dimensão exata do ocorrido, seja ela qual for; estar à disposição para os pedidos de informação; e ter agilidade na distribuição do conteúdo.
Sobre informações desencontradas e erradas, todos comentam que é raro ver casos assim, mas que não é difícil resolver. Na maioria das vezes, a assessoria entra em contato com o repórter ou editor do veículo para que a correção seja feita. Neste ponto, Ricardo destaca algo importante. “O desespero por clique é o principal erro do jornalismo atual, ainda mais com advento da internet. Hoje em dia, algumas redações parecem mais a bolsa de valores do que qualquer outra coisa. Quem tem mais clique é o melhor. Isso é um desserviço à população. Independentemente do veículo, uma matéria bem apurada precisa ouvir todos os lados”, critica ele.
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