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Desertos de notícias são reduzidos no Brasil

Por Sérgio Lüdtke. Texto reproduzido do site da Latam Journalism Review

O Atlas da Notícia identificou uma redução de 9,5% no número de municípios considerados desertos de notícias no Brasil. Os desertos são municípios que não dispõem de informação jornalística local e hoje são 5 em cada 10 municípios brasileiros. Nessa condição estão 2.968 cidades e nelas vivem 29,3 milhões de pessoas, o que corresponde a 13,8% da população brasileira. Se os desertos remanescentes formassem um estado da federação, ele seria o segundo mais populoso, atrás apenas de São Paulo.

Consulte os dados do Atlas da Notícia sobre os desertos de notícias no site do projeto

Os desertos mereceram especial atenção na quinta edição do censo que mapeia o jornalismo local no Brasil. As equipes que participaram da pesquisa desbravaram esses territórios em busca de iniciativas jornalísticas ainda não mapeadas. Os pesquisadores regionais do Atlas e mais 174 colaboradores voluntários se debruçaram sobre uma planilha com então 3.280 municípios usando dos mais diversos meios, desde buscas avançadas em aplicações como CrowdTangle até ligações para prefeituras, para descobrir como os habitantes se informam sobre o que acontece no lugar onde vivem.

O censo encontrou atividade jornalística em 312 municípios dessa lista. Eles deixaram de ser desertos de notícias e migraram para outra, a lista de quase desertos, lugares que contam com apenas um ou dois veículos de comunicação local. Nessa faixa estão outros 1460 municípios em que vivem mais 31,8 milhões de brasileiros. Essa faixa intermediária merece especial atenção. No ano passado, 36 municípios deixaram essa lista porque contam agora com mais de dois veículos jornalísticos, mas 3 voltaram a ser desertos.

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No total, o Atlas da Notícia mapeou 13.734 veículos jornalísticos em atividade em 2021. O levantamento incorporou à base 642 novos empreendimentos. Dessas, 449 são iniciativas online, que agora é o segmento com maior representação no universo do jornalismo local no Brasil.

Mapear a presença do jornalismo local no Brasil não é uma tarefa fácil. Esse ecossistema complexo vai muito além da contagem de TVs, rádios, jornais e sites de notícias. O censo permite detectar tendências e identificar riscos e oportunidades.

Tendências, riscos e oportunidades em desertos de notícias

A redução no número de impressos, o crescimento do número de emissoras de rádio e o crescimento acelerado de veículos online já eram percebidos nas últimas edições do Atlas. As dificuldades para a sustentabilidade dos veículos locais tradicionais, agravada pela pandemia, e as poucas barreiras de entrada para criação de veículos nativos digitais, explicam o crescimento do online. O jornalismo online se diversifica na medida em que consegue explorar novos formatos, experimenta outros modelos de financiamento, obtém remuneração nas plataformas sociais e as utiliza também como meio para distribuição de seus conteúdos.

O Atlas da Notícia observa com atenção também o crescimento das rádios comunitárias e a presença do jornalismo local nessas iniciativas. Nas próximas edições, será necessário acompanhar mais proximamente a evolução desse meio e a relevância que oferece para a cobertura de notícias locais.

O grande desafio para o jornalismo local tem sido a sustentabilidade. Embora haja desertos de notícias no entorno de grandes centros urbanos, eles são mais frequentes em comunidades menores, com menor atividade econômica. Os desertos de notícias são cidades que têm em média 9,8 mil habitantes, com mediana de 6,6 mil pessoas. Os quase desertos têm média de 21,7 mil e mediana de 14,8 mil habitantes. Com menos audiência para sustentar um veículo jornalístico, o menu de modelos para explorar é menor e a dependência de recursos do poder municipal tende a aumentar, o que é um risco para a independência editorial.

Mas o poder público não é somente uma ameaça para a independência. Os sites das prefeituras, de um modo geral, vêm se aperfeiçoando e oferecem serviços e informações que podem ser confundidas com material jornalístico. Durante a pandemia, esses sites ganharam relevância e audiência e disputam a atenção da população com iniciativas jornalísticas que deveriam ser fiscais do poder público.

O Atlas da Notícia tem mapeados 15.946 veículos de comunicação. Desses, 2.212 são desconsiderados nos resultados do censo por serem considerados veículos não jornalísticos, muitos deles estão ligados a prefeituras.

As tendências, os riscos e oportunidades para o desenvolvimento do jornalismo local no Brasil serão analisados com maior profundidade a partir de uma pesquisa qualitativa a ser realizada pela equipe do Atlas na sequência da divulgação desta edição e divulgada nos próximos meses.

Esta quinta edição do Atlas da Notícia foi realizada localmente nas cinco regiões brasileiras, a pesquisa do Atlas conta com os seguintes pesquisadores regionais: Angela Werdemberg (Centro-Oeste), Dubes Sônego (Sudeste), Jéssica Botelho (Norte), Marcelo Fontoura (Sul) e Mariama Correia (Nordeste). O censo coletou dados de setembro de 2021 a fevereiro de 2022. Cada um deles produziu um relatório específico para sua região.

Consulte os dados do Atlas da Notícia sobre os desertos de notícias no site do projeto

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Por Sérgio Lüdtke, coordenador da equipe de pesquisadores do Atlas da Notícia. É também editor-chefe do Projeto Comprova e coordenador dos cursos da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji).

Artigo e imagem em destaque publicados originalmente no site do Atlas da Notícia.

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LatAm Journalism Review

Revista trilíngue digital publicada pelo Centro Knight para o Jornalismo nas Américas, na Moody College of Communication da Universidade do Texas em Austin. O Centro Knight é um programa de extensão criado em 2002 pelo professor Rosental Calmon Alves, titular da Cátedra Unesco em Comunicação e da Cátedra Knight de Jornalismo na Escola de Jornalismo da Moody College of Communication. O objetivo original do Centro Knight era ajudar jornalistas da América Latina e do Caribe com treinamento e capacitação profissional, mas nos últimos anos se transformou em uma operação global, graças cursos online massivos que atingiram estudantes em 200 países e territórios.

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