Anderson Scardoelli27/4/2020 –
O dia 24 de abril é marcado mundialmente com ações de combate à meningite, doença grave, com alto poder de letalidade, e que pode causar sequelas como paralisia cerebral, perda de membros, audição e visão. Em até 20% dos casos a doença leva o paciente a óbito em até 24h depois dos primeiros sintomas.
Por se apresentar, muitas vezes, de forma assintomática, a meningite (infecção das membranas que recobrem o cérebro) tem alto poder de contágio, e algumas pessoas podem ser portadoras das bactérias sem estarem doentes, contaminando outras que podem desenvolver a doença.
O atleta paralímpico de voleibol sentado, Daniel Yoshizawa, é uma das vítimas da meningite meningocócica. Hoje, aos 34 anos, é porta-voz no combate à doença e a favor da imunização. Aos 21 anos, quando operador de máquinas, acordou com forte dor de cabeça e em questão horas entrou em coma. No hospital, foi diagnosticado com Meningite Meningocócica (causada por bactérias denominadas meningococos) e, ao acordar após 14 dias, foi informado de que teria de amputar as duas pernas, cinco dedos da mão esquerda e um dedo da mão direita.
“Esse dia ficará marcado na minha vida. Sempre acordei disposto, mas aquele foi diferente, pois a dor na nuca e a moleza no corpo me impediram de levantar para trabalhar.Com ajuda dos meus pais cheguei ao hospital e logo tive convulsões e entrei em coma”, relata Daniel.
Segundo o Ministério da Saúde, o risco de contrair a doença é maior em bebês e crianças menores de cinco anos. Para este público as campanhas de imunização são intensificadas e integram o Calendário Nacional de Vacinação. Entretanto, os adolescentes e adultos jovens também possuem risco aumentado de contrair a doença. Por isso, o reforço da vacina aos 11 e 12 anos é necessário para proteger estes indivíduos. Entre 2015 e 2019, mais de 50% dos casos de DM ocorreram em indivíduos maiores de 15 anos.
Especialistas afirmam que muitos adolescentes fazem parte do grupo de portadores assintomáticos do meningococo, e podem estar infectados sem manifestar a doença.
Para Sheila Homsani, diretora médica de Sanofi Pasteur, quando o adolescente fala perto de alguém, beija, troca copos, pode transmitir a bactéria pela saliva ou respiração. “A vacina contra meningite na adolescência protege tanto membros desta faixa etária como mais novos e mais velhos”, esclarece.
Daniel relata que nunca tinha entrado em contato com pessoas que tiveram a doença, por isso acreditava que esta acometia somente crianças. “Na minha juventude, me lembro de ver campanhas para o público infantil, sem foco nos adolescentes. Isso me faz pensar no meu papel de alertar a todos sobre a doença, as sequelas que me deixou, e a importância do reforço da vacinação”, diz.
Sintomas
Ao menor indício de meningite, como febre súbita, dor de cabeça e rigidez do pescoço, a orientação é que o indivíduo procure imediatamente atendimento médico, essencial para evitar sequelas irreversíveis ou morte.
Outros sintomas podem estar associados, como mal-estar, náusea, vômito, fotofobia (sensibilidade à luz) e confusão mental. Em poucas horas, como aconteceu com Daniel Yoshizawa, a doença pode desencadear sintomas mais graves como convulsões, tremores e coma.
Em crianças de até 2 anos, os sintomas podem ser mais difíceis de notar, por isso pais e responsáveis devem avaliar o grau de irritabilidade dos bebês, ocorrência de vômitos, falta de apetite, letargia (sonolência) ou ausência de resposta a estímulos sensoriais ou motores.
Tipos de meningite
A meningite bacteriana é uma das mais temidas doenças imunopreveníveis. Provocada pela bactéria Neisseria meningitidis (meningococo), é mais grave quando atinge a corrente sanguínea, causando meningococcemia — infecção generalizada. De acordo com a Sociedade Brasileira de Imunização (SBIm), até 3 mil brasileiros são acometidos pela doença anualmente, sendo os não vacinados mais vulneráveis. “Trata-se de uma bactéria agressiva, que pode colonizar a nasofaringe, parte de trás do nariz, principalmente em adolescentes”, explica a médica Sheila Homsani. A doença também pode ser causada por vírus, fungos ou outros agentes infecciosos.
Para a SBIm e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), a vacinação é a principal forma de prevenção. Mesmo sendo seguras e eficazes (mais de 95% dos vacinados ficam protegidos), a proteção gerada pelas vacinas conjugadas (meningocócica C e ACWY) requerem reforço, inclusive para quem já teve a doença, já que a quantidade de anticorpos cai ao longo do tempo.
Transmissão
As bactérias que causam meningite se espalham por meio das vias respiratórias, por gotículas e secreções do nariz e da garganta. Outras bactérias podem se espalhar por meio dos alimentos, como é o caso da Listeria monocytogenes e da Escherichia coli.
As meningites virais podem ser transmitidas via fecal-oral, por meio de contato (toque ou aperto de mãos) com uma pessoa infectada ou objetos, superfícies, água e alimentos contaminados. A meningite fúngica pode se manifestar após inalação de pedaços de fungos, alguns encontrados em ambientes contaminados com excrementos de pássaros ou morcegos, que entram nos pulmões e chegam às meninges.
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Referências
¹ Ministério da Saúde. Informe Técnico-Orientações técnico-operacionais para a Vacinação dos Adolescentes com a Vacina Meningocócica ACWY (conjugada). Brasília, 2020. Disponível em: https://saude.es.gov.br/Media/sesa/PEI/Informe%20T%C3%A9cnico%20Informe_ACWY___Adolescente_02_03_2020.pdf. Acesso em 15/04/2020 ² Confederation of Meningitis Organisation. Disponível em: http://www.comomeningitis.org/world-meningitis-day/wmd-2020/. Acesso em 15/04/2020
³ Ministério da Saúde. Saúde de A a Z. Meningite. Disponível em https://saude.gov.br/saude-de-a-z/meningites#. Acesso em 13/04/2020
4 Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). Doença Meningocócica. Disponível em https://familia.sbim.org.br/doencas/doenca-meningococica-dm. Acesso em 13/04/2020
Website: https://www.sanofi.com.br/pt/quem-somos/areas-de-atuacao/sanofi-pasteur
