O Instituto Nacional de Câncer (INCA) divulgou, no último dia 23/11, a Estimativa 2023 – Incidência de Câncer no Brasil, na qual informa que 704 mil novos casos de câncer são esperados para cada ano do triênio 2023-2025. No país como um todo, espera-se a ocorrência de mais de 15 mil casos novos de câncer de boca por ano, sendo 10 mil em homens.
O diagnóstico precoce aumenta as chances de cura de diversas doenças, incluindo o câncer. Por isso, o papel do cirurgião-dentista na identificação de doenças do complexo maxilomandibular é importante para a eficiência do tratamento.
Para o cirurgião-dentista, professor universitário, coordenador do serviço de Estomatologia da Santa Casa de Santos e membro da Câmara Técnica de Estomatologia do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP), Dr. José Narciso Rosa Assunção Júnior, é recomendado procurar a ajuda de um especialista sempre que se observa uma lesão.
“Tratamentos caseiros ou remédios indicados por não profissionais podem atrasar o diagnóstico e, por consequência, piorar o prognóstico, contribuindo, inclusive, para que se perca eventualmente a possibilidade de cura da doença”, reforça.
Segundo ele, sempre que existe a suspeita de uma neoplasia maligna de boca (câncer), a primeira coisa que o profissional deve fazer é realizar exames complementares. “Não se pode simplesmente falar para o paciente que existe a suspeita de uma neoplasia maligna se não houver a confirmação com exames. Só a partir do diagnóstico fechado o paciente deve ser informado sobre a doença e as condutas a serem tomadas.”
O especialista pondera que essa situação nunca é fácil, uma vez que o câncer é uma doença ainda muito estigmatizada. “Quando se pensa em câncer, se pensa em morte e sabe-se que quanto mais cedo o diagnóstico for efetuado, maior a chance de cura ou sobrevida de qualidade”.
Segundo Assunção Júnior, o tratamento hoje em dia está cada vez mais moderno, individualizado e com menos efeitos colaterais, o que faz com que as respostas sejam mais promissoras e efetivas.
Consultas periódicas e orientações
A visita periódica ao cirurgião-dentista e ao médico é uma das estratégias que devem ser observadas quando se pensa em prevenção e diagnóstico precoce. Além disso, o profissional enfatiza que se faz necessário o investimento em educação e orientação da população. “A prevenção e o diagnóstico precoce são mais bem observados quando a população é educada quanto aos hábitos, situações de risco e os possíveis desfechos”.
Quanto ao câncer de boca, câncer de orofaringe e lábio, o especialista destaca que a melhor maneira de prevenir ainda é evitar contato com agentes que são promotores e que potencializam o desenvolvimento dessas lesões, como cigarro, álcool e radiação solar para os casos das neoplasias de lábio. “Também acho importante destacar a importância da vacinação das crianças e pré-adolescentes para o HPV, que hoje está muito bem estabelecido como uma das causas das lesões de orofaringe e laringe”.
Cirurgiões-dentistas precisam estar atentos
O professor titular da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (FOUSP) e membro da Câmara Técnica de Patologia Oral e Maxilofacial do CROSP, Dr. Fabio Daumas Nunes, acrescenta que o câncer de boca é uma doença grave e potencialmente fatal para a qual todo cirurgião-dentista deve estar atento e preparado, seja para orientar, prevenir, diagnosticar ou mesmo reabilitar um paciente que apresenta ou já apresentou essa condição.
“O conhecimento acerca do diagnóstico do câncer oral é essencial para encaminhar o paciente devidamente para o tratamento oncológico com a máxima brevidade e, assim, evitar atrasos desnecessários que possam potencializar as sequelas oriundas das terapias e/ou interferir na sua expectativa de vida. Caso o cirurgião-dentista não se sinta apto para realizar o diagnóstico de lesões orais, não há nenhum problema em encaminhar o paciente para um especialista em Estomatologista. Isso é o melhor a fazer no momento”, esclarece.
Tipos de câncer de boca
Dr. Fabio Daumas Nunes destaca que diversos tipos de câncer podem ocorrer na boca, entretanto o mais comum é o carcinoma epidermóide, que responde por aproximadamente 90% dos casos. Segundo ele, o câncer de boca pode afetar o lábio e toda a extensão da cavidade oral, ou seja, gengiva, língua, assoalho, revestimento interior dos lábios e bochechas, área retromolar e palato duro.
“Sob o nosso campo de atuação, existem também as regiões da orofaringe, que incluem o palato mole, a base da língua, amígdalas e a parte lateral e posterior da garganta. Por isso, o exame intra e extra-oral completo é de extrema relevância e, caso se observe lesões suspeitas em alguma dessas regiões, o paciente deverá ser encaminhado para o otorrinolaringologista ou cirurgião de cabeça e pescoço”.
O especialista explica ainda que o câncer oral, quando comparado ao câncer de orofaringe, apresenta características clínico-patológicas e tratamentos distintos, que podem incluir cirurgia, radioterapia, quimioterapia, imunoterapia ou a combinação desses tratamentos. “Entre os fatores que são levados em conta pela equipe médica (cirurgiões de cabeça e pescoço, radioterapeutas e oncologistas clínicos) estão o tamanho, o local da neoplasia e a performance do paciente, sendo o tratamento planejado e realizado por médicos. Ao cirurgião-dentista cabe a realização da biópsia incisional (removendo apenas uma parte da lesão), além da importante participação nos cuidados orais pré, trans e pós-tratamento oncológico”.
Dr. Fabio diz que o controle da mucosite, infecções oportunistas e a manutenção dos hábitos de higiene bucal contribuem significativamente para a melhora da qualidade de vida e conclusão do tratamento conforme planejado.
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