Sobre um jornalista delatado nos depoimentos da Odebrecht dentro da Operação Lava Jato
Em 2007 o jornalista e tradutor Diogo Mainardi lançou o livro “Lula é minha anta”. No manuscrito em que defende o ex-presidente era sua vítima favorita no Mensalão, ele traz um texto de orelha do autor esclarecedor:
“Lula é meu. Eu vi primeiro. Agora todo mundo quer tirar uma lasca dele. Até os jornalistas que sempre o apoiaram. Chamam-no de ignorante. Chamam-no de autoritário. Como assim? Lula tem dono. Só eu posso chamá-lo de ignorante e autoritário. O resto é roubo. Roubaram Lula de mim. Falei tanto de Lula nos últimos anos que quase me sinto seu amigo. Tão amigo quanto Roberto Teixeira, acusado de favorecer uma empresa que fraudava as prefeituras petistas. Tão amigo quanto Mauro Dutra, acusado de desviar verbas do programa Primeiro Emprego. Tão amigo quanto Francisco Baltazar, acusado de negociar com o doleiro Toninho da Barcelona. Tão amigo quanto Paulo Okamoto, acusado de montar o esquema de arrecadação paralela do PT. Duvido que todas essas denúncias sejam verdadeiras. José Dirceu garantiu que os petistas não roubam. Ou melhor, ele garantiu que os petistas não ‘róbam’, roubando, inadvertidamente, a língua portuguesa. Quem melhor definiu Lula foi o próprio Lula. Ele disse: ‘Não fui eleito presidente por méritos pessoais ou como resultado da minha inteligência’. Eu, que sempre falei mal dele, fui obrigado a aplaudir. Ele realmente não foi eleito por méritos pessoais ou como resultado de sua inteligência. Há quem me acuse de ter motivos pessoais para amolar Lula. Bobagem. Tenho tanto interesse por Lula quanto pelo zelador do meu prédio. O motivo de minha implicância é público. Acho que os brasileiros, por falta de experiência democrática, atribuem uma importância exagerada ao presidente da República. Um presidente é só um burocrata medíocre que a gente contrata por quatro anos para desempenhar uma tarefa que nenhuma pessoa minimamente sensata estaria disposta a desempenhar. Ele não é nosso chefe: nós é que somos chefes dele”.
A obsessão de Mainardi com Lula e com o PT redefiniu a Editora Abril, a empresa que o lançou ao estrelato da política. Sua coluna era a mais lida no país. Seus inimigos temiam seus ataques. Acusou Luis Nassif de ter sido demitido da Folha de S.Paulo por favorecer uma de suas fontes. Nassif retrucou elencando artigos de Diogo Mainardi que favoreciam o banqueiro Daniel Dantas no caso da Oi, que o colunista da revista Veja atribui a Lula. Mainardi diz que herdou a escrita afiada de Paulo Francis, depois de traduzir Ítalo Calvino, e criou seus sucessores, mais notadamente em Reinaldo Azevedo na internet. Foi na base dos ataques em sua cruzada que ele destruiu a credibilidade da Veja e a tornou na sede do antipetismo brasileiro.
Diogo Mainardi posou de paladino da Justiça contra o PT até 13 de abril de 2017.
Ele foi delatado entre depoimentos de executivos vinculados à Odebrecht no último dia 10. Mas o vídeo foi ao ar ontem.
Henrique Valladares, ex-vice-presidente da Odebrecht, afirmou que Aécio Neves recebeu R$ 50 milhões da empreiteira e da Andrade Gutierrez, e citou também Diogo Mainardi, um dos donos do Antagonista. O delator contou que viu “o cara do Manhattan Connection” — Mainardi — no restaurante Gero, do Rio de Janeiro, jantando com Aécio e Alexandre Accioly, proprietário da academia Bodytech e laranja do tucano. O nosso anta participou da reunião para definir recebimento de propina em Cingapura, segundo Valladares. O blogueiro alega que “esse delator inventa coisas”.
Agora o nosso paladino vai ter que prestar contas com a Justiça para provar o contrário.
O Antagonista, sustentado por Diogo Mainardi, Mario Sabino e Cláudio Dantas, transmitiu em tempo real o vazamento de Marcelo Odebrecht com os pontos para atacar Lula de maneira ilegal. Sérgio Moro chegou a interromper a sessão, mas não retirou o vazador de informações.
Lula é a anta favorita de Mainardi, numa referência ao animal forte, pacífico e tímido. Diogo Mainardi gosta de bater em Lula e diz que quem o critica é “pago” pelo ex-presidente e faz parte de uma “organização criminosa“.
Não sou pago por ninguém, mas Mainardi é meu anta favorito. Não o animal, mas o meu Antagonista predileto.
A máscara de moralista do anta caiu.
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