Confete, serpentina, glitter, desfiles, música (muita música) e gente por toda a parte. Principal festa popular brasileira, o Carnaval mal termina e já está novamente sendo programado. É comemoração por todo lado, até mesmo para os jornalistas que se envolvem de corpo e alma na cobertura. Mas nem tudo é festa: ao lado de tanta diversão, repórteres que se aventuram nesta pauta em Salvador enfrentam perrengues e medo com a falta de segurança.
Thays Almendra tem quatro anos de experiência na capital baiana e já teve a orelha rasgada durante uma das coberturas. Mas antes de chegar a este caso, vamos entender como a repórter iniciou na cobertura do Carnaval. “Comecei a ir a Salvador para garimpar culturas diferentes. Procurava pautas diversas e tentava mostrar o que as pessoas não estavam vendo”, conta.
Para estar em Salvador no Carnaval é preciso ser organizado e ter boa gestão de tempo. É isso que explica Thays. A jornalista chegou a ficar oito dias na cidade e antes mesmo de viajar já garimpava a programação a fim de descobrir o que poderia gerar pautas importantes. A profissional ressalta que estar no Carnaval a trabalho é enriquecedor, uma experiência bacana e culturalmente rica. Porém, dificuldades também existem.
“Geralmente, as redações mandam um segurança junto com os repórteres. A função principal dessa pessoa é abrir caminhos na multidão. Ir com eles é conseguir trabalhar em curto espaço de tempo, chegando no horário certo para entrevistar o artista. Eles são nossos pontos de apoio para tudo. Sem eles, a gente sofre muito mais perrengue e trabalha menos por ficar presa na multidão”, revela.
Além disso, a repórter comenta o assédio. “É muito difícil andar nas ruas. As pessoas não deixam você trabalhar”. Foi nesta situação que Thays se machucou. Era Carnaval de 2014 quando ela estava saindo de entrevista com a cantora Paula Fernandes, feita para o UOL. O próximo ponto de parada era no Camarote Brahma, onde estava a atriz Bruna Marquezine, que seria entrevistada em seguida. “Passei pelo Trio do Harmonia do Samba – os fãs são super apaixonados. Mesmo com segurança, alguém puxou o meu cabelo e brinco. Na hora não percebi o quão grave era a situação e continuei andando”. Resultado: Thays teve a orelha rasgada e chegou ao Camarote Brahma cheia de sangue. Socorrida, ela teve de passar por cirurgia.
Ainda que tenha se acidentado, Thays reforça que cobrir o Carnaval foi o melhor trabalho de sua vida, por diversos aspectos. “Cobrir o Carnaval é ultrapassar barreiras culturais. É conhecer afundo o povo brasileiro e entender o que toca o coração desse povo que sofre tanto e que mesmo assim é feliz. Cobrir o Carnaval é saber que ricos e pobres conseguem se divertir, mas que as barreiras sociais são gritantes”.
O policiamento durante o Carnaval de Salvador é precário. Pelo menos essa é a opinião do jornalista Felipe Carvalho, que passou por duas situações difíceis na cidade. Em 2015, ele estava trabalhando na cobertura sem segurança e, no meio da multidão, alguém passou e roubou sua credencial. “Alguém puxou algo na altura do meu peito. De início, apenas verifiquei se o equipamento estava tudo certo e estava, mas haviam levado meu crachá de trabalho, que continha, inclusive, meu CPF. Não conseguia mais entrar nos camarotes ou trios elétricos”. Como faltavam dois dias para o término da festa, um posto da prefeitura informou que já não estavam mais imprimindo as credenciais.
Em outra situação, o jornalista acabou viajando a trabalho doente. Ele levou as injeções que precisava aplicar durante o tratamento, porém, ao chegar a Salvador, não encontrou nenhum hospital, posto ou farmácia que aceitasse ajudá-lo. “Entrei em pânico porque não podia deixar de tomar a benzetacil naquele dia. Depois de quatro horas de procura, um posto médico móvel, montado ao lado circuito Barra-Ondina, aplicaram em mim o remédio. Subi no trio e ainda fiquei seis horas trabalhando em pé, mesmo com muita dor”.
Os perrengues não foram suficientes para tirar o amor que Carvalho sente pelo Carnaval. “É bom estar no meio da folia, mesmo que trabalhando. É muito melhor do que fechado em uma redação. Assim você não perde nenhum minuto do Carnaval e pode ver tudo de pertinho. É delicioso! Na época em que eu trabalhava no site O Fuxico, cobria a folia no Anhembi e me divertia demais, fazia amizades”.
Engana-se quem pensa que o Carnaval não é plural. A jornalista Amanda Serra afirma que por lá não falta trabalho – nem boas histórias para contar. “Você verá mais de um Carnaval – tem a festa da pipoca, da corda, do trio, do camarote, do cara que saiu com a família do interior, viajou algumas horas de ônibus e está dormindo na rua, enquanto tenta faturar um dinheiro vendendo bebidas, doces. Tem o Carnaval da mulher que aluga o banheiro da casa dela e fatura um dinheiro. Não raro, você verá crianças dormindo em cima de papelões, embaixo de carrinhos de bebidas. São muitos Carnavais e o olhar precisa estar apurado”.
É preciso ter pique para cobrir a festa na Bahia, segundo a repórter. O circuito Barra-Ondina acaba se tornando a casa de quem trabalha com informação e é preciso cruzar o trecho várias vezes no dia. A saga inclui chegar cedo à porta do trio, prospectar entrevistas diversas com famosos, se desvencilhar dos foliões enquanto carrega celular, credenciais e blocos de anotações, e só termina de madrugada quando o repórter volta ao hotel e encaminha todos os textos e fotos para a redação. “Quando conseguir dormir 4 horas por noite, agradeça”, comenta Amanda.
A jornalista também fala da importância de ter um segurança durante o trabalho – é de praxe que as redações contratem o profissional, mas algumas deixam este ponto de lado. “As pessoas tentam te roubar na cara de pau mesmo. Uma vez voltando para o hotel de madrugada, uns meninos tentaram pegar minha bolsa. Isso ocorreu umas três vezes no mesmo dia. Por isso, colares, brincos grandes não são bem-vindos, as pessoas puxam. Como o repórter precisa ficar mandando informações para redação, o segurança também costuma ajudar na proteção, naquela hora que você está com o aparelho em mãos e desatento”.
Se pudesse dar um conselho aos profissionais que querem cobrir o Carnaval, Amanda diria que é uma oportunidade única para mostrar criatividade e trabalho. “Você está cobrindo a maior festa brasileira, conhecida internacionalmente, então, faça o trivial, mas sempre buscando dar a sua cara, o seu diferencial em uma cobertura que acontece todos os anos. É preciso ser ágil, ter sacada e produzir muito durante os sete dias. Depois disso, rapidez será seu sobrenome. Costumo dizer que quem cobre Carnaval, cobre até guerra”.
Quando questionadas sobre o relacionamento com as fontes, Amanda e Thays relataram boas experiências. “O Carnaval te traz um relacionamento muito próximo. Estar em Salvador foi a melhor forma de fazer um contato com quem jamais imaginaria. Os artistas em Salvador se preocupam muito em manter a cultura viva e jamais seriam mal educados – mesmo falando de assuntos mais sérios”, relata Thays. Amanda afirma que é importante ter em mãos todos os contatos dos assessores e contar com a tecnologia, como WhatsApp, para se comunicar com eles.
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