O embate político é cada vez mais intenso. Há uma radicalização entre os extremos da política nacional. Não há diálogo possível uma vez que os pontos de vista são totalmente antagônicos. O campo do embate é a mídia, que serve aos dois lados servilmente. O centro do furacão é o chefe do poder executivo que não esconde suas preferências e ele mesmo ocupa amplos espaços nos jornais. Suas declarações são incisivas e não ajudam a acalmar os ânimos antagônicos.
Como se o Brasil não precisasse de um período de paz e construção para se consolidar como um país independente com respeito internacional. Ao invés disso os grupos políticos se aglutinam em torno de radicais e se acusam mutuamente de traidores e lesa pátria. Onde isso vai parar ninguém sabe. O diálogo que culminou com a redação da constituição nacional desaparece e em seu lugar há uma luta na mídia com narrativas construídas em cima de posições ideológicas e não de fatos.
A mídia perturba os espíritos e realmente guia a opinião pública, principalmente na capital do país. Não há sossego nem segurança. Os jornais trazem manchetes alarmantes que chegam a incitar a população a se revoltar contra o governo estabelecido. As intrigas do palácio, do ministério e do próprio chefe do poder executivo são exaustivamente expostas pelos jornalistas da oposição.
O Brasil está descontente com tudo, dizem os articulistas e o governo não tem como superar a crise. A situação econômica agrava o conflito e a responsabilidade é do governo, dizem os jornais. Há quem tema uma intervenção das forças militares uma vez que a radicalização chega aos quartéis. As autoridades mostram-se impotentes.
Os boatos subsidiam as matérias jornalísticas e ninguém sabe com certeza quem está com a razão. Boa parte da população assiste aparvalhada e não toma parte de nada. Não tem acesso ao palácio, à política e mesmo aos jornais. O índice de analfabetos é imenso e o interesse pela política se limita às elites que dominam o Brasil desde os tempos da colônia
“morre um liberal, mas não morre o liberalismo.”
O país está a um passo de uma convulsão. Tal fato está repleto de simbolismo, pois traz à baila alguns aspectos que ainda marcam a sociedade brasileira, como a impunidade e o risco à liberdade de expressão, esteja ela vinculada ou não à liberdade de imprensa. Em São Paulo há uma forte resistência liberal que classifica o governante de ditador. Um jornalista se distingue por combater o que considera autoritarismo do imperador. Líbero Badaró publica artigos contundentes contra Dom Pedro I. O seu jornal, O Observador Constitucional, está constantemente ameaçado de fechamento, ou empastelamento no jargão jornalístico.
Líbero é ameaçado de morte, mas não desiste de seus ideais. Sofre um atentado ao entrar em sua casa. Toma um tiro e agoniza até a morte e deixa como herança a frase “morre um liberal, mas não morre o liberalismo.” Acusa-se o assassino de ser um apoiador de Dom Pedro I, que é responsabilizado pelo episódio. Aprofunda-se a crise política e os embates físicos entre apoiadores e opositores do imperador. O auge da disputa se dá com a rebelião da força militar e o imperador decide abdicar e deixar o Brasil em 1834.
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