A desinformação em escala industrial foi mesmo um problema nesta eleição, como se supunha que seria desde que o Trump foi eleito.
Houve um esforço de checagem, mas ele praticamente equivaleu a enxugar gelo. Primeiro, porque só se consegue checar uma parte pequena de toda a mentirada que circula. Muitas vezes, checa-se as mentiras mais fáceis ou pop. Segundo, porque quem repassa mentiras não quer checagens. Quem gosta de checagens já tinha a preocupação de não repassar mentiras mesmo.
As plataformas apoiaram institucionalmente o esforço de checagem, visando mostrar preocupação com o problema. Para o Facebook, apoiar esses esforços é o melhor dos mundos nesse caso. Mostra preocupação com os efeitos ao mesmo tempo em que não toca exatamente nas causas. Jornalistas das agências Aos Fatos e Lupa disseram que, embora o WhatsApp afirme que está de portas abertas a receber reclamações, não costuma respondê-las.
O que quase fez diferença foi verificar os bastidores da desinformação industrial. E digo quase porque toram esforços pontuais e, enfim, tardios.
Pense no grupo que fazia as páginas Folha Política e outras. Atuam desde 2013. A Folha de S. Paulo deu uma reportagem longa em 2017. A Veja deu uma capa em janeiro. A Época deu uma capa em abril e artigos em agosto e fevereiro. Intercept em julho. Estadão em alguns pontos. Todas tocavam no mesmo grupo que o Facebook desativou apenas ontem.
Quando derrubaram a rede do Luciano Ayan, há alguns meses, foi curioso que essa também não veio abaixo.
Pegue o esquema do “lava-zap”, revelado pela Folha na semana passada. O Correio Braziliense deu mais uma peça do quebra-cabeças depois. Folha deu mais algumas em seguida. As autoridades estão se mexendo. Mas só agora, contando nos dedos os dias pra eleição e porque essas reportagens tornaram a inação das autoridades mais flagrante.
Não foi por falta de aviso, mas talvez por falta de insistência. Talvez porque a insistência estivesse no enxugar gelo das checagens.
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Por Marcelo Soares, jornalista. Fundador da empresa de análise de dados e desenvolvimento de audiência Lagom Data. Primeiro editor de audiência e dados da Folha de S. Paulo, lecionou jornalismo de dados nas pós-graduações em jornalismo digital da ESPM e da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Desde 2016 se dedica a consultorias e oficinas de audiência e análise de dados em diversas empresas de comunicação.
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