De 18 de setembro a 2 de outubro de 2018, 945,3 mil postagens no Twitter abordaram a cobertura da imprensa em relação às eleições. O dado é fruto de análise feita pela Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (DAPP FGV) na rede social. A maior parte dos tuítes (82%) foi registrado após o dia 28 de setembro, que teve o pico de publicações (474,3 mil).
A data foi marcada pela divulgação da edição da revista Veja com reportagem de capa sobre processo judicial envolvendo o candidato Jair Bolsonaro (PSL), e a autorização do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski obtida pela Folha de S. Paulo para entrevistar o ex-presidente Lula. A autorização foi posteriormente negada pelo ministro Luiz Fux, em decisão condenada pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji).
Segundo a pesquisadora da FGV, Bárbara Silva, a análise foi motivada pela “identificação nas redes de menções sobre uma crescente desconfiança de parte das pessoas à cobertura das eleições pela mídia tradicional”. “A partir de casos recentes e de alta repercussão (as tentativas de entrevista a Lula e a Adélio [Bispo, homem que esfaqueou Bolsonaro] e a repercussão da capa da revista Veja mencionando Bolsonaro), definimos o recorte temporal e mapeamos tal desconfiança no Twitter, identificando menções que diretamente abordaram a cobertura da imprensa sobre esses três casos”, explica.
Ao longo do período analisado pela FGV, a Abraji se manifestou em três ocasiões contra agressões online cometidas contra jornalistas. Em 25 de setembro, a repórter Marina Dias, da Folha de S. Paulo, foi alvo após publicação da reportagem “Ex-mulher afirmou ter sofrido ameaça de morte de Bolsonaro, diz Itamaraty”. Três dias depois, a associação repudiou os ataques a Nonato Viegas, Hugo Marques e Thiago Bronzatto, responsáveis pela reportagem “O outro Bolsonaro”, capa da revista Veja e uma das impulsionadoras do pico de tuítes sobre a cobertura da imprensa. No mesmo dia, a repórter Amanda Audi, do The Intercept Brasil, foi atacada pela também jornalista Joice Hasselmann, que foi eleita a deputada federal pelo PSL, e por seus seguidores.
Além de ataques diretos a profissionais da imprensa, as publicações envolveram tuítes segundo os quais a Veja teria recebido dinheiro para publicar a reportagem. A #Veja600milhoes teve mais de 451 mil tuítes e teve origem na divulgação, por Joice Hasselmann, de um vídeo em que faz a acusação contra a revista. O debate sobre a liberdade de imprensa e regulamentação da mídia movimentou 95,9 mil tuítes ao longo do mesmo período.
Segundo Bárbara Silva, a FGV DAPP prosseguirá com análises como esta no segundo turno. “Um dos focos da Sala de Democracia Digital é o monitoramento do impacto da desinformação no debate público, principalmente a partir do mapeamento de seu alcance em redes sociais com Twitter e Facebook”, afirma.
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