“Vaidade das vaidades, tudo é vaidade”, advertiu o sábio Rei Salomão no livro bíblico de Eclesiastes. O “conselho” do monarca, notável pela sabedoria, pela prosperidade e por uma grande fortuna, segundo a Bíblia, serve como um mantra a que costumo recorrer em momentos desafiadores. Explico: como especialista na área de comunicação corporativa, o meu trabalho é gerir informações relevantes e conectar instituições dos mais variados portes aos seus públicos estratégicos de interesse. Parte substancial do ofício consiste em lidar com pessoas de diversos perfis: algumas com o claro entendimento da comunicação como aliada estratégica para o alcance de objetivos de curto, médio e longo prazos; outras, nem tanto.
Como profissional do ramo há mais de dez anos, tem sido comum me deparar com um traço bem particular dos seres humanos; um aspecto, aliás, muito em voga nesses tempos de exposição exacerbada: o narcisismo. Volta e meia, me relaciono no meio corporativo com indivíduos tomados por um desejo incontido por reconhecimento, que confundem visibilidade institucional estratégica com vaidade pessoal egocêntrica. São pessoas que, de tempos em tempos, perguntam quando irão se tornar capa da Forbes – sendo que figurar na Forbes, no âmbito da estratégia de visibilidade das instituições que representam, não possui o menor sentido.
A vaidade é um aspecto indissociável da condição humana; parte do quê nos torna quem somos. Ela integra o imenso repertório cognitivo-cultural do Homo sapiens e, com certeza, possui uma razão evolutiva. Na esfera corporativa, porém, deve ser administrada com extrema cautela, porque tende a minar as relações. O ambiente de negócios sempre foi marcado pela competição implacável, pela retração de custos, foco na produtividade e, claro, pela conquista de resultados. Onze em cada dez players, de qualquer setor, se digladiam por isto. Mas somente alguns, de fato, tiveram ou estão tendo êxito em seus propósitos. São exatamente aqueles que têm foco, conseguem se planejar e lidam de modo profissional com a própria visibilidade.
As estratégias de comunicação da empresa devem estar voltadas ao propósito do presente e do futuro da instituição, de modo que todas as energias estejam canalizadas para a geração de valor. Egocentrismos, nesse meio-campo, só atrapalham. A assessoria de comunicação corporativa precisa ser uma aliada da promoção institucional; não estar a serviço do ego e da vaidade de indivíduos que, devido a uma profunda insegurança pessoal, tendem a monopolizar o diálogo – que se torna um monólogo, fazendo deles mesmos (e não da missão da empresa) o centro das atenções. Para esses, pouco importa a performance da empresa, desde aparecem em colunas sociais, concedam entrevistas e tenham as suas imagens propagadas aos quatro ventos.
“Chamar a atenção é querer trazer para si os olhos do maior número possível de pessoas. Desejar ser visto e ouvido é algo inerente ao ser humano, comportamento que pode ser observado desde a infância. Esse tipo de pessoa presta muito mais atenção em si mesma do que em qualquer outro ser humano. É comum tenderem a buscar um reconhecimento, sem terem muito a oferecer em troca”, explica em reportagem do UOL o psiquiatra Eduardo Adnet.
Na “fogueira das vaidades” corporativas, vale também registrar que, volta e meia, felizmente me deparo com pessoas que não se envaidecem da posição que ocupam. Muito pelo contrário: costumam conceder aos subordinados a plena liberdade para agirem sem receio, contribuindo para um excelente clima organizacional. Para elas, a expressão “vaidade das vaidades, tudo é vaidade” não faz o menor sentido.
A esses indivíduos, o meu mais profundo respeito!
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