Era década de 1970 e, no Centro-Oeste do país, o jornal brasileiro Correio do Estado publicava anúncios a fim de encontrar repórter e outros profissionais
“Contrata-se jovens que queiram trabalhar como repórter e que gostem de escrever. Ensina-se o ofício”. Era década de 1970 e, no Centro-Oeste do país, o jornal Correio do Estado publicava anúncios a fim de encontrar profissionais para cobrir assuntos das poucas editoriais que o impresso tinha. À época, os cursos de jornalismo ainda não tinham chegado às cidades do Mato Grosso do Sul (então pertencente ao Mato Grosso) e, para aprender, o “foca” tinha que ir às ruas. “O dono do jornal era bem radical. Ele jogava os textos ruins no lixo e o repórter tinha que fazer outro, até ficar bom. Aprendemos a nos virar e isso foi muito bom”, conta o editor de polícia do jornal, Thiago Gomes, que chegou à casa por meio do anúncio.
Além de Gomes, outros profissionais surgiram por meio do anúncio e ainda atuam na redação, como Hordonês Echeverria, editor de Nacional/Internacional e Fausto Brites, editor do Portal Correio do Estado. A seleção para entrar no jornal era rigorosa e o candidato à vaga deveria ter “perspicácia, qualidade e perfil de investigador”. Com o mercado de trabalho em baixa, Gomes lembra que, no dia da seleção, tinha pelo menos 120 pessoas concorrendo ao posto de repórter. Naquele momento, depois de tantas etapas, ele foi o escolhido.
“Aprendemos com os outros colegas mais experientes e com o próprio chefe de redação, que dava as orientações de como deveria ser o lead e como abrir uma matéria”, relata o editor do Correio Rural, Maurício Hugo, que, diferentemente de Gomes, foi convidado para trabalhar no periódico. Com o primeiro exemplar vendido em 7 de fevereiro de 1954, o conteúdo do jornal é, atualmente, usado como objeto de pesquisas feitas por estudantes, historiadores e profissionais de várias áreas.
De acordo com Hugo, muitas coisas mudaram ao longo dos anos desde a década de 1970 e antes o jornalismo era mais doméstico e coloquial. “A redação era mais unida e tinha uma irmandade maior”, explica. Ele avalia que hoje o mundo está mais competitivo. “Costumo dizer que jornalista se considera Deus, mas, na época, não tinha disso. Não tinha essa disputa”. A cerca das diferenças, Gomes lembra ainda que, com o dever de aprender “fazendo”, o repórter tinha mais iniciativa. “Hoje os jornalistas são mais acomodados e esperam alguém dizer qual a pauta que ele tem que fazer. A gente gostava de ir e descobrir as coisas. A prática ensina”, diz.
Aluno do dia a dia, Gomes, que também é advogado, não esconde o quanto é apaixonado pela profissão e que não pretende deixar a reportagem tão cedo, mas vê que o tempo é de mudança para a profissão. “O futuro é preocupante. É tudo muito rápido com a internet e eu não sei até onde vai o jornalismo impresso. Mas é certo que o trabalho do repórter tende a mudar mais um pouco”, ressalta.
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