A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) homenageou os jornalistas Sérgio Gomes, pelo projeto Repórter do Futuro, e Carlos Wagner, por sua carreira como repórter na Zero Hora. As condecorações em agradecimento aos profissionais por sua contribuição ao jornalismo brasileiro foram entregues na quinta-feira, 29, em sessão especial realizada no primeiro dia do 12º Congresso Internacional da entidade, em São Paulo.
“A Oboré de Sérgio Gomes chama todos, há 23 anos, para promover cursos de complementação universitária para estudantes de comunicação. Por meio do exercício de entrevistas, Gomes leva os estudantes a conhecerem um jornalismo profundo e vigilante e, assim, orientar o intercâmbio de conhecimento com repórteres mais experientes”, disse o presidente da Abraji, Thiago Herdy na homenagem.
Durante a cerimônia, o colega de profissão Audálio Dantas falou sobre a trajetória de “Serjão” – como é carinhosamente apelidado o jornalista. Foram relembrados fatos desde seu ingresso na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA – USP), passando pela perseguição e tortura durante a Ditadura Militar, quando o também jornalista e amigo de Gomes, Vladimir Herzog, foi assassinado, até a fundação da Oboré e o lançamento do projeto Repórter 2000, em 1994, que anos depois viria a se tornar Repórter do Futuro, contribuindo com a formação de mais de 800 jovens profissionais da imprensa.
“O Sérgio é o irmão do mundo. O motivo da homenagem a ele é a sua invenção do curso que se chama Repórter do Futuro. Mas, na verdade, independentemente da criação deste projeto, Serjão como indivíduo e como jornalista é o próprio repórter do futuro, o incentivador dos jornalistas que vão surgindo para nos substituir”, declarou Dantas.
Ao receber a homenagem, Gomes destacou que as honras não são para ele, mas de todos os profissionais que contribuem para a realização do projeto educacional, por meio de iniciativas parceiras como Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Cátedra UNESCO de Comunicação e Sindicato dos Professores de São Paulo (SINPRO/SP).
Além disso, Gomes falou sobre a história do projeto, relembrando como foi a experiência da primeira turma de repórteres do futuro orientados pela Oboré. “Desculpe Abraji. Eu recuso isto como coisa para mim. Isto é para o projeto Repórter do Futuro”, disse o homenageado ao convidar ao palco os companheiros que colaboram para que os cursos aconteçam.
O repórter gaúcho Carlos Wagner também foi homenageado no durante o Congresso da Abraji. A sessão especial contou com a exibição do documentário “O Repórter na Estrada”, produzido pela associação a fim de narrar trajetória do jornalista. O filme traz depoimentos dele próprio e de colegas de redação que atuaram ao lado do profissional, como os jornalistas Carlos Etchichury e Humberto Trezzi, que também participaram do momento solene.
“A Abraji foi muito feliz em escolher o Wagner para ser homenageado, por que esta homenagem é, na verdade, aos repórteres dos confins. Nós somos do sul, dos confins do Brasil. Os repórteres do Norte e do Nordeste devem sentir a mesma coisa, mesmo aqueles que trabalham em grandes empresas. Talvez, Wagner seja o único repórter do Rio Grande do Sul que fez toda a sua trajetória dentro da Zero Hora, com projeção nacional”, disse Etchichury.
Ao receber a homenagem, Wagner relembrou as relações bem humoradas, porém, conflituosas que tinha com os editores que o chefiaram na Zero Hora e discursou sobre liberdade de imprensa e o papel do jornalista na construção da democracia. O repórter também fez críticas à cobertura da operação Lava Jato, afirmando que a falta de investigação jornalística – e não pautada por relatórios de delegados, juízes e promotores, avaliados por ele como teses – se dá pelo enxugamento das redações e pela má gestão dos jornais.
“Nossa sociedade nunca teve carência tão grande de informações, e nós estamos com redações reduzidas, com retenção de custo. Dirigentes entram e saem, mas as matérias ficam. As pessoas tomam decisões com base em nossas matérias, por isso elas precisam ser simples e precisas. Mas, como é que se pode fazer isso com salário baixo, escrevendo cinco pautas por dia? Estas coisas, nós temos que começar a pensar”, declarou Wagner.
Com 40 anos de profissão e aposentado desde 2014, hoje Wagner se dedica a seus livros-reportagens, oferece palestras em redações e escreve no blog Histórias mal contadas, que criou para ajudar jovens repórteres a apurar o olhar para o mundo.
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