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Em tempos de Covid-19, o que fazer diante de catástrofes pessoais?

São Paulo 12/5/2020 – Mais cedo ou mais tarde, vem o contato integral com a dor. É o momento em que uma possível resolução saudável de crise começa a se formar.

Às vezes coisas ruins acontecem a pessoas boas. Acontecimentos inesperados, como a perda de um parente próximo, notícia de doença grave em família, acidentes de todos os tipos, podem provocar uma situação de crise pessoal. Segundo o médico psiquiatra Cyro Masci, não importa o tamanho da catástrofe pessoal, algo precisa ser feito, principalmente durante a pandemia, por conta do Covid-19, em que o número de mortes e de infectados aumenta dia a dia.

“O princípio básico que deve ser lembrado é que pessoas reagem de um modo esperado diante dos acontecimentos inesperados”, explica Cyro Masci. São reações normais para acontecimentos anormais. Grosso modo, segundo o especialista, a maioria das pessoas sofre um processo de adaptação que segue determinadas fases.

A primeira delas é a da “notícia”, e a reação mais comum é a de negação. “Não pode ser verdade, não comigo”. A maioria das pessoas passa por essa fase num estado de letargia, até que se chega na segunda fase, quando se começa a perceber o que está ocorrendo. Alguns podem achar assustador e irritante, outros até mesmo agradável e excitante.

“Esse é um primeiro contato com a realidade. Grande parte das pessoas possivelmente irá mudar de opinião e sugere-se que não tenha nenhum compromisso com esses sentimentos iniciais. Isso é mais difícil quando a pessoa inicialmente fica até animada e, com o passar do tempo, começa a mudar sua visão”, acrescenta Cyro Masci.

O psiquiatra lembra que num terceiro momento, muitos poderão tentar uma solução improvisada. “O problema dessa fase é que a pessoa ainda não entrou em contato integral com a dura realidade. Pode estar querendo evitar o sofrimento de ver a real dimensão da crise e achar uma saída em que haja pouco ou nenhum prejuízo”, afirma o especialista.

Contato integral com a dor

De acordo com Masci, mais cedo ou mais tarde, vem o contato integral com a dor. “Fica-se face a face com o inevitável, o momento em que uma possível resolução saudável de crise começa a se formar, seja ela na forma de enfrentamento, seja na forma de luto e aceitação do inevitável”.

Durante todo esse tempo, são comuns sintomas como sensação de impotência, inquietação, culpa, vergonha, raiva e depressão. “Há uma flutuação típica e esperada, ocorrendo períodos de melhora e momentos de piora, às vezes dentro do mesmo dia, às vezes dentro da mesma semana”, explica o médico. Segundo ele, toda pessoa fica mais fragilizada e influenciável, o que aumenta o risco de tomadas de decisão inadequadas baseadas no primeiro que ofereça colo e carinho.

O que é possível fazer nesses momentos?  Para ajudar alguém que está passando por esse tipo de situação, a primeira coisa a ser lembrada é que o caminho da recuperação não é uma linha reta, e não pode ser um círculo vicioso. “É uma espiral em que, quando a pessoa se encontra no alto, procura-se incentivar na busca de soluções concretas ou medidas para o futuro. E quando na baixa, tolera-se a angústia e permite-se um saudável extravasar de sentimentos, especialmente os medos e temores”, acrescenta Cyro Masci.

Sem exigências

O psiquiatra orienta que é importante não querer e não exigir soluções de uma única vez. “É preciso ajudar a pessoa a enfrentar a crise em doses controláveis. O melhor caminho é não entrar na ‘conspiração do silêncio’, fazendo de conta que tudo está bem”. A atitude ideal para quem deseja ajudar, segundo ele, é ser um bom ouvinte, o que significa colocar-se à disposição para simplesmente ouvir, facilitar o desabafo, tolerar a mágoa e a irritação.

“Um cuidado especial é o de não incentivar o silêncio e o recolhimento com frases como ‘foi a vontade de Deus’ ou ‘a vida deve continuar’, que na realidade são ordens para quebrar os verdadeiros sentimentos e substituí-los por frases feitas”. A postura correta, orienta Masci, é a de oferecer o ombro de igual para igual, mostrando que tem fé na capacidade de o indivíduo superar a crise.

O princípio é tolerar a ansiedade nos momentos em que o indivíduo está por baixo. E estimular a busca de soluções (que não são necessariamente ações imediatas) quando se está por cima. “A ideia do caminho com altos e baixos, mas em que se caminha para frente, não deve ser esquecida”, finaliza Cyro Masci.

 

Fonte: Cyro Masci é médico psiquiatra em São Paulo.

Outras informações: https://bit.ly/34mE498 

 

 

 

Website: https://www.masci.com.br/

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Anderson Scardoelli

Jornalista "nativo digital" e especializado em SEO. Natural de São Caetano do Sul (SP) e criado em Sapopemba, distrito da zona lesta da capital paulista. Formado em jornalismo pela Universidade Nove de Julho (Uninove) e com especialização em jornalismo digital pela ESPM. Trabalhou de forma ininterrupta no Grupo Comunique-se durante 11 anos, período em que foi de estagiário de pesquisa a editor sênior. Em maio de 2020, deixou a empresa para ser repórter do site da Revista Oeste. Após dez meses fora, voltou ao Comunique-se como editor-chefe, cargo que ocupou até abril de 2022.

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