Com a chegada do inverno e queda da temperatura – época em que a umidade relativa do ar é mais baixa – ao mesmo tempo em que a máscara deixa de ser um item obrigatório, criam-se condições propícias para o aparecimento de alergias e doenças contagiosas como gripe, resfriado, sinusite e conjuntivite viral. De acordo com a Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF), a queda da temperatura costuma elevar em 40% os quadros de doenças respiratórias no Brasil.
Neste momento em que as pessoas estão retomando a sua rotina pré-pandemia, é preciso redobrar os cuidados para evitar as doenças típicas do período. Lavar regularmente as mãos e o uso de máscara em lugares fechados são hábitos trazidos pela pandemia que podem e devem ser mantidos, principalmente durante os meses mais frios do ano. Segundo dados do Ministério da Saúde, as medidas implantadas para conter a pandemia contribuíram para uma queda de quase 50% nos casos de gripe no país durante o período mais intenso de isolamento social.
“A higiene das mãos é indispensável para a prevenção da transmissão de vírus respiratórios e por doenças causadas por bactérias, fungos e outros vírus”, afirma o infectologista Marcos Cyrillo, diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI). Segundo Marcelo Otsuka, coordenador do Comitê de Infectologia Respiratória da Sociedade Brasileira de Infectologia, outra dica é em relação ao uso de máscara. “Isso é estratégia essencial para a prevenção da transmissão dos vírus respiratórios fazendo com que haja a diminuição das infecções”, alerta.
Medidas como essas são fundamentais para preservar a saúde e proteger as pessoas que fazem parte do convívio diário, mas estudos recentes mostram que é preciso ter atenção também dentro de casa. Uma pesquisa conduzida no ano passado pela Amerisleep, nos Estados Unidos, comparou o número de bactérias encontradas na roupa de cama de um grupo de voluntários com outros objetos domésticos.
Os testes mostraram que, depois de apenas uma semana de uso contínuo, os lençóis e fronhas acumularam 17 mil vezes o número de bactérias que estavam presentes no assento do banheiro. Outro item que faz parte do dia a dia e possui alto índice de contaminação são os aparelhos celulares — um estudo do Centro Universitário Devry Metrocamp já mostrou que os smartphones podem abrigar mais de 23 mil microrganismos, como fungos e bactérias.
De olho nesses números, empresas têm investido no uso de tecnologia para desenvolver produtos resistentes à contaminação por parte de microrganismos, como vírus e bactérias. E as nanopartículas de prata são hoje a principal aposta da indústria. Com propriedades químicas e físicas de grande utilidade como, por exemplo, alta condutividade elétrica e flexibilidade, a nanoprata possui também ação antimicrobianas e antivirais. Isso é possível por conta da característica dos íons de prata, que possuem uma carga positiva e atuam como um imã para promover a ruptura da membrana celular dos microrganismos.
Os edredons que são produzidos pela americana Miracle, por exemplo, possuem micropartículas de prata em suas fibras que atuam como uma espécie de escudo natural, impedindo o crescimento bacteriano. Outra empresa que também utiliza a nanotecnologia em seus produtos é a alemã ZEISS, especializada na produção de lentes para óculos. Desenvolvido em cooperação com a Universidade de Furtwangen, na Alemanha, o novo tratamento ZEISS DuraVision AntiVirus Platinum UV é inserido no interior da lente e possui nanopartículas de prata que combatem e inibem o crescimento de 99,9% dos vírus e bactérias na superfície do produto, reduzindo a chance de contaminação por parte do usuário.
“A preocupação com a higiene das lentes é uma constante entre usuários de óculos e ficou ainda mais latente devido ao cenário pandêmico”, explica Marcelo Frias, Diretor de Marketing da ZEISS na América Latina. “Diante desse cenário, desenvolvemos uma tecnologia para atender a essa demanda”, completa o executivo.
Aplicação no Brasil
No Brasil, as pesquisas envolvendo o uso de nanoprata estão focadas no desenvolvimento de roupas hospitalares capazes de eliminar o novo coronavírus de sua superfície. Recentemente, cientistas da USP e da UFSCar criaram um tecido feito à base de poliéster, algodão e micropartículas de prata capaz de inativar fungos, bactérias e vírus.
No estudo feito em parceria com a Universitat Jaume I, da Espanha, e com a empresa paulista Nanox, amostras do novo coronavírus foram coletadas no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Os vírus foram cultivados e colocados em contato com o tecido contendo as micropartículas de prata. E em apenas dois minutos, 99,9% dos vírus SARS-Cov-2 foram eliminados.
“A quantidade de vírus que colocamos em contato com o tecido é muito superior à que uma máscara de proteção é exposta e, mesmo assim, o material foi capaz de eliminar o vírus com essa eficácia”, disse o professor da USP, Lúcio Holanda Júnior, em entrevista à Agência FAPESP.
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