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Num mundo digital sem volta, empresas jornalísticas devem ir além de colocar na internet o conteúdo que estava no papel

A pandemia da covid-19 acelerou muitas tendências da sociedade. A digitalização foi uma delas. Impedidas de sair de casa, as pessoas passaram a trabalhar remotamente, se encontrar com os amigos via Zoom e consumir cultura na sala de estar, abalando o setor de entretenimento e fazendo disparar o negócio de streaming. 

Depois que o pior da crise de saúde pública passou, alguns setores e empresas que explodiram em 2020 acabaram perdendo espaço. E hábitos que haviam se tornado comuns foram gradativamente abandonados. 

O jornalismo digital não está entre eles. 

É certo que papel já vinha definhando antes do coronavírus. Mas a necessidade de informações vitais aliada à queda no mercado publicitário e e muitos casos a uma impossibilidade logística de distribuir edições impressas fizeram que o caminho rumo ao digital se tornasse sem volta. 

Um estudo da consultoria McKinsey publicado no início deste ano constatou um aumento de 100 milhões de usuários digitais em toda a Europa desde 2019, correspondendo a 13% da população da região. 

Jornais, revistas e sites desenvolveram produtos e incorporaram tecnologias para atender a esse público que intensificou o consumo de notícias por meios digitais ou aprendeu a se informar por eles. 

Ness novo mundo, os apps reinam soberanos. O mesmo estudo da McKinsey aponta que indústrias que apostaram em aplicativos estão mais bem posicionadas para atender aos anseios desses novos usuários. 

A consultoria Twipe, que desenvolve projetos de fidelização de leitores para grandes empresas jornalísticas globais, afirma que “as notícias digitais estão se tornando a norma”. 

A empresa fez um levantamento mostrando que existem agora 10 empresas jornalísticas no “clube de 1 milhão de assinantes digitais”. E muitas mais mostrando sinais de crescimento recorde nos últimos anos. 

O grupo The Economist, que publica a revista de negócios de mesmo nome, foi o mais recente a entrar para o clube. 

Além dos motivos relacionadas a hábito e facilidade, há também um fator ambiental a pressionar pela redução do uso do papel, segundo a Twipe. 

Mas digitalizar não é apenas colocar na internet o que estava no papel. A Twipe destaca em sua análise que a experiência e a confiança do usuário ainda precisam ser melhoradas. 

Foi o que constatou também a McKinsey. Apesar do crescimento do digital, a satisfação do cliente com experiências digitais caiu 4% em relação a 2021. 

O dado não se refere apenas a consumo de notícias. Mas serve de alerta para mostrar que o consumidor está mais exigente – e talvez impaciente com tecnologia que não funciona bem. 

A Twipe alerta que as empresas jornalísticas precisam aumentar seu foco em fornecer o conteúdo da melhor maneira para seus públicos, além de tornar seus produtos mais relevantes.

E questiona se o oferecimento de serviços e produtos adicionais além de notícias pode estar afastando os leitores ou afetando a satisfação deles. 

A consultoria recomenda às organizações de mídia  atenção máxima aos aplicativos. Segundo a empresa, 58% das pessoas são leais às suas marcas preferidas levando em conta o desempenho dos apps. 

E lembra também que a audiência da era pré-digital não deve ser esquecida, sendo necessário mecanismos para engajar esse público na forma de consumo de notícias que se estabeleceu como norma.

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Luciana Gurgel

Luciana Gurgel (@lcnqgur) é jornalista, brasileira, radicada em Londres, membro da Foreign Press Association London e Editora-Chefe do MediaTalks, site de notícias internacionais sobre jornalismo e comunicação parceiro de conteúdo UOL.

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