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Endometriose: pesquisa aborda como funcionam os diagnósticos

A pesquisa Strengths and limitations of diagnostic tools for endometriosis and relevance in diagnostic test accuracy research (Pontos fortes e limitações das ferramentas de diagnóstico para endometriose e relevância na pesquisa de precisão de testes diagnósticos, em português), publicada no Jornal da Sociedade Internacional de Ultrassom de Obstetrícia e de Ginecologia, avaliou os métodos diagnósticos da endometriose.

As principais diretrizes da sociedade reprodutiva consideram a cirurgia com confirmação histológica como o padrão ouro para a confirmação da doença. Mas, como aponta a pesquisa, apenas um terço das mulheres que realizaram esse procedimento receberam o diagnóstico de endometriose, isto é, muitas acabaram se expondo desnecessariamente ao risco cirúrgico.

A laparoscopia pode ser categorizada como diagnóstica, utilizada para fazer uma biópsia (histologia) nos focos, e a operatória, que é exatamente o momento que esses focos serão removidos. “Mas muitas dessas cirurgias diagnósticas têm sido realizadas sem tratamento cirúrgico completo da doença. Isso resulta na necessidade de um segundo procedimento cirúrgico para remover completamente as lesões de endometriose”, enfatiza o ginecologista  Mauricio Abrão, professor associado de Ginecologia da Faculdade de Medicina da USP e um dos idealizadores da pesquisa. 

Outros pontos avaliados foram o exame clínico, físico (palpação), ultrassom, ressonância magnética e a histologia. “Pelo diagnóstico clínico, é preciso saber o tipo de dor, se há dificuldade para engravidar e todo o histórico de saúde da paciente, lembrando que a dor é sentida de forma diferente por cada pessoa. Já pelo exame clínico, a descoberta vai depender da localização do foco da doença”, observa o médico, que é coordenador do Setor de Ginecologia Avançada da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo e presidente da AAGL – Associação Americana de Ginecologia Laparoscópica.

O especialista ainda explica sobre os outros exames de imagem descritos no estudo. “A ultrassonografia transvaginal com preparo intestinal (USTV), exame desenvolvido por nosso time, é um teste dinâmico que permite a avaliação em tempo real e demonstrou ser superior ao exame físico no estudo publicado na Human Reproduction, revista científica europeia. Mesmo não sendo invasiva, pode não ser aceitável para algumas pessoas e exacerbar os sintomas de dor pélvica.” 

Atualmente, a doença superficial é diagnosticada com precisão por laparoscopia. Mas a USTV pré-operatória demonstrou ter boa acurácia para o ovário e endometriose profunda. Assim como a USTV com preparo intestinal, que apresentou alta sensibilidade e especificidade para a endometriose intestinal e retrocervical. 

Outro exame bastante utilizado em casos complexos e suspeitos ou antes da cirurgia, por ser considerado de alta acurácia, é a ressonância magnética. “Ela também permite a avaliação em múltiplos planos, o que pode ser vantajoso para a endometriose extra pélvica ou para pacientes que não podem fazer o exame transvaginal”, revela Mauricio Abrão.  

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) mais de 7 milhões de brasileiras são afetadas pela endometriose – doença caracterizada pela existência do endométrio (tecido que reveste a cavidade uterina) fora do útero – e que apresenta sintomas, como cólica menstrual intensa, dor na relação sexual e a infertilidade. Ela leva tempo para ser descoberta, de sete a 12 anos. Quando possível, as pessoas com suspeita devem ser encaminhadas a centros especializados em diagnóstico por imagem não-invasiva, o ultrassom com preparo intestinal. 

“O problema é que nem sempre isso é possível, pois algumas cidades do Brasil são carentes. Projetos, como o Expedição Cirúrgica, que acontece agora em julho, na cidade de Bariri, interior de São Paulo, e leva alunos de medicina, médicos, enfermeiros, cirurgiões, anestesistas e ultrassonografistas para a realização de consultas, exames e de cirurgias minimamente invasivas, são extremamente essenciais. Dessa maneira, é possível atender mais mulheres que necessitam de diagnóstico, tratamento e orientação sobre a endometriose. A demora na descoberta é um empecilho para quem busca uma melhor qualidade de vida”, conclui Mauricio Abrão.

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