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Ensino à distância começa a superar o alcance do presencial

A modalidade de Ensino à Distância (EaD) em faculdades e universidades do Brasil deve superar, ainda neste ano, o alcance e a demanda que o ensino presencial tem hoje neste ramo. É o que aponta uma pesquisa recente da consultoria EducaInsights, realizada a pedido da Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior (ABMES). Os dados do estudo mostram que, entre os anos de 2020 e 2021, a procura pela modalidade aumentou 59% em comparação aos anos anteriores. E esse crescimento aconteceu principalmente no período da pandemia. 

Antes de março de 2020, quando as medidas de quarentena começaram a ser implementadas nos estados e municípios, 40% dos entrevistados consideravam o EaD como uma opção para realizar o curso superior de graduação, enquanto 60% preferiam apenas a modalidade presencial. Já no fim do ano, após a fase mais crítica da pandemia, 78% dos alunos consideraram o EaD, contra 22% dos que se mantiveram fiéis ao presencial. Isso representa um aumento de 95% em um espaço de quatro meses.

O mesmo estudo atesta que esse crescimento quase atingiu o mesmo volume dos três anos anteriores, que foi de 111% entre 2017 e o começo de 2020. Naquele ano, o percentual de estudantes que preferiam fazer a graduação presencial era de 81%, e os que admitiam o EaD somavam 19%. 

Já o Censo da Educação Superior 2020, divulgado em fevereiro deste ano pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), mostrou que, dos mais de 3,7 milhões de ingressantes de 2020 (instituições públicas e privadas), mais de 2 milhões (53,4%) optaram por cursos a distância e 1,7 milhão (46,6%), pelos presenciais. E a oferta no EaD aumentou mais de 30% em relação a 2019, chegando a 13,5 milhões de vagas em 2020. Foi a primeira vez que isso aconteceu em toda a história do Censo. 

O crescimento se dá também entre os alunos que conseguem concluir seus cursos. Conforme o Censo, o EaD teve, em um ano, um aumento de 26% no número de formandos, sendo 25,9% na rede privada e 46,6% na pública. E a tendência é de que, em dois anos, o número de concluintes em cursos de EaD na rede particular, atualmente em 35,6%, supere o dos cursos presenciais, hoje em 64,4%. Em 2010, a proporção respectiva era de 16,8% no EaD e 83,2% nos presenciais.

Causas do crescimento

A análise é de que o ensino presencial começaria a ser superado pelo remoto em 2023, mas este processo acabou acelerado pela pandemia do novo coronavírus, pois as aulas on-line acabaram servindo como suporte das instituições de ensino para manter o ritmo normal das aulas durante a pandemia. Isso acontece devido a fatores que favorecem o EaD e são adequados à atual realidade, como a flexibilização do tempo empregado nos estudos, que permite ao aluno escolher como e quando quer estudar. Outro fator está nos recursos tecnológicos oferecidos na metodologia e nos formatos das aulas, a exemplo dos Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVAs), plataformas e ferramentas educacionais. 

“A modalidade EAD está em franco crescimento e exige uso de tecnologias, que vão desde dispositivos de acesso (computador, tablet ou smartphones) até soluções de tecnologia que promovem interatividade, recursos digitais inovadores que podem ser utilizados em salas de aula presenciais e virtuais. Por isso, é imprescindível que o aluno tenha acesso, inclusive disponibilizado pela instituição/polo, à infra-estrutura de tecnologia, o que inclui internet, dispositivos e demais soluções como, por exemplo, um AVA”, acrescenta a gerente acadêmica de Ensino à Distância da Universidade Tiradentes (Unit EaD), professora Karen Sasaki. 

O EaD é mais conhecido por suas disciplinas on-line, com 100% das aulas feitas virtualmente. No entanto, há outros modelos, com outras possibilidades pedagógicas. Uma é a do ensino semipresencial, na qual os cursos intercalam etapas que combinam atividades presenciais e on-line, com a mediação de tutores especialistas capacitados. Outra é a do chamado ensino híbrido, que também alterna o digital com o presencial, mas permite que o aluno estude de forma independente, mas sempre interagindo com os colegas e com o professor, e permite ainda que algumas disciplinas práticas sejam feitas presencialmente no polo de ensino.

Segunda formação

Os cursos à distância são em média mais baratos que os presenciais, com mensalidades acessíveis para trabalhadores e de baixa renda, pois atingem um número maior de alunos de forma simultânea. “Isso é um tabu em nossa sociedade, imaginar que um curso bom é um curso caro. Na verdade, o curso bom é aquele que consegue formar bons profissionais com os recursos tecnológicos compatíveis com esses objetivos de formação do egresso”, pontua Sasaki. 

A modalidade é procurada principalmente por pessoas acima de 25 anos, que buscam aumentar a sua qualificação profissional e, por consequência, suas chances de ascender no mercado. “Majoritariamente, são pessoas que já têm alguma atividade laboral. E também hoje, com a perda de salário que a pandemia provocou, eles vão buscar algo que seja mais factível para eles no ponto de vista de flexibilidade de horário, para poder trabalhar, e também de capacidade de pagamento”, analisou o professor e consultor educacional Mozart Neves Ramos.  

E entre essas pessoas, estão profissionais já formados que querem fazer uma segunda graduação, o que abre caminho para mais oportunidades no mercado de trabalho ou para uma mudança de carreira, alinhada à busca pela realização pessoal. “Isso ainda é mais prático e eficiente ao aluno que já tem experiência acadêmica, pois ele irá ampliar as possibilidades de atuação e aprendizagem, sem abrir mão dos conhecimentos já adquiridos, tendo maior versatilidade para inserir os momentos de estudos na sua rotina”, pontua Mirilene Rodrigues, tutora de Relacionamento com o Aluno da Unit EaD. 

Para atender a estas exigências, determinadas pelo Ministério da Educação (MEC), as instituições de ensino superior seguem na modalidade EaD as Diretrizes Curriculares Nacionais de formação do aluno e independem de modalidade. Por isso, o aluno recebe o mesmo diploma de um curso presencial. Ela é regulamentada desde 1996 pela Lei de Diretrizes e Bases (LDB), e com base nela que credencia e regula os cursos de graduação e pós-graduação ofertados sob este formato.

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