Embora a relação entre o vírus Epstein-Barr e a esclerose múltipla não seja nova (estudada desde a década de 70), pesquisadores de Harvard apresentaram os resultados mais robustos até hoje publicados.
Epstein-Barr
O vírus Epstein-Barr é um tipo de vírus do herpes que se espalha principalmente pela saliva. Ao “pegar” o vírus, a pessoa pode apresentar uma infecção leve, com mal-estar e outros sintomas inespecíficos, podendo ficar também assintomático.
Apenas em alguns casos, principalmente quando o contato com o vírus ocorre na adolescência, pode-se apresentar a mononucleose, também conhecida como a “doença do beijo”, que é uma infecção viral importante, com o aumento de amígdalas, de linfonodos em geral, pode ter aumento do baço e do fígado, devido à infecção em si.
“Mas a maioria não tem essa forma de infecção”, explica a médica neurologista Raquel Vassão, do conselho científico da AME – Amigos Múltiplos pela Esclerose. Uma vez que o vírus entra nas células imunes chamadas células B, permanece no organismo sem provocar manifestações clínicas. O EBV também tem relação direta com alguns tipos de câncer e outras doenças autoimunes.
Estudo revela que EBV pode ser uma das causas da Esclerose Múltipla
O estudo realizado por pesquisadores de Harvard, publicado na revista Science em 13 de janeiro de 2022, forneceu evidências importantes de que o EBV seria uma das causas principais para o desenvolvimento da esclerose múltipla.
Segundo a neurologista Raquel Vassão, este é o primeiro artigo que consegue fazer uma relação mais robusta entre a infecção pelo vírus e o desenvolvimento de EM.
“Eles acompanharam milhares de militares americanos ao longo do tempo e estudaram aqueles que tiveram a EM a partir da infecção pelo EBV, comparando-os com um grupo de pessoas que não tiveram o diagnóstico. Os cientistas perceberam que a grande maioria das pessoas que receberam o diagnóstico de Esclerose Múltipla haviam sido infectadas por esse vírus cerca de 10 anos antes, em média. O risco era 32 vezes maior de desenvolver a Esclerose Múltipla naquelas pessoas que foram infectadas pelo EBV”, explica.
No entanto, o vírus é muito comum na população em geral, cerca de 90% das pessoas já tiveram a infecção em algum momento da vida, sendo que o EBV também é relacionado a outras doenças autoimunes.
“É importante salientarmos que somente a infecção pelo vírus não determinará se a pessoa terá ou não a EM. Para ter a esclerose múltipla, a pessoa provavelmente terá o vírus e também outros fatores de risco, tais como: questões genéticas, estilo de vida, tabagismo, absorção de vitamina D, obesidade na infância, etc”, frisa Vassão.
Esclerose Múltipla
A esclerose múltipla é uma doença crônica, autoimune, desmielinizante, inflamatória, que afeta o sistema nervoso central, ou seja, as células de defesa do organismo atacam o próprio sistema nervoso central, provocando danos à mielina – material gorduroso que isola os nervos, afetando a maneira como os impulsos elétricos são enviados de e para o cérebro.
É uma doença que, quando não tratada, tem como características principais a disseminação no tempo, ou seja, a pessoa apresenta sintomas de piora em diferentes momentos da vida, como ondas e disseminação no espaço, apresenta inflamações atingindo diferentes áreas do cérebro e medula espinhal.
“O curso clínico é, na grande maioria das vezes, caracterizado por períodos de crise, os chamados surtos, seguido por períodos de remissão ou recuperação”, explica a especialista.
A condição atinge geralmente pessoas jovens entre 20 e 40 anos de idade, sendo mais predominante em mulheres.
Causas da Esclerose Múltipla
A causa da doença ainda não é totalmente conhecida, porém, sabe-se que múltiplos fatores ambientais e genéticos estão associados a fisiopatologia da doença, ou seja, o risco de desenvolvê-la. Dentre os fatores ambientais associados a etiologia da esclerose múltipla, temos a infecção por alguns agentes virais e bacterianos, como o herpesvírus tipo 6, vírus Epstein-Barr, retrovírus endógeno humano.
Apesar de estar relacionada ao vírus Epstein-Barr, a esclerose múltipla não é um vírus e não é contagiosa, ou seja, não se “pega”. “É muito importante frisar e deixar claro que o fato de uma infecção viral estar relacionada ao desenvolvimento da EM, não quer dizer que você pega a EM de alguém”, salienta Raquel.
“O que acontece é que você vai ter um aumento do risco do desenvolvimento da doença junto com esse vírus, além dos fatores genéticos, ambientais, etc”, finaliza.
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