Especial investiga a geração digital que vive em busca de likes

Especialistas e jovem revelam como a internet pode interferir no comportamento

Desafios perigosos, cyberbullying e superexposição. Conteúdos cada vez mais comuns na internet e que, muitas vezes, colocam em risco a saúde e a vida de crianças e adolescentes pautam a edição do ‘Caminhos da Reportagem’ desta quinta, 27, às 22h, na TV Brasil.

Em tempos do jogo da Baleia Azul e da série ‘13 Reasons Why’, pesquisadores, psicólogos, crianças e adolescentes vão falar sobre como vídeos e comentários postados na internet podem influenciar nos interesses e nos comportamentos de cada pessoa.

O Brasil ainda não tem dados oficiais sobre acidentes relacionados a desafios perigosos, mas uma pesquisa realizada pelo Instituto Dimicuida, destinado à orientação e ao combate de atividades arriscadas na internet, mostra que das 17 pessoas que morreram no país tentando praticar algum desafio, sete eram de Fortaleza.

A equipe do ‘Caminhos da Reportagem’ foi até a capital do Ceará para conhecer famílias que convivem com essa dor e que lutam para alertar sobre os perigos desses jogos. Demétrio Jereissati fundou o Instituto Dimicuida após seu filho Dimitri, de 16 anos, falecer ao praticar o desafio da asfixia.

“No momento do acontecido a gente não sabia sequer da existência do jogo ou o que tinha motivado essa prática. Tentando buscar conhecimento e compreensão, nós chegamos a essa prática e, ainda, a uma coisa muito mais assustadora, o quanto ela é comum, o quanto ela é praticada não só no Brasil, mas em todo o mundo e o quanto ela ainda é desconhecida”, conta Demétrio.

Em Fortaleza, o programa jornalístico também visita a família do Kauã Peixoto, de onze anos. Ele teve 40% do corpo queimado ao tentar imitar desafio com fogo e álcool gel. Quando a equipe de reportagem esteve na casa do garoto, ele ainda estava internado e já havia passado por várias cirurgias.

“Infelizmente vai ficar sequelas no corpo dele e na memória também. Para a família está sendo muito doloroso. A gente não gosta de passar isso pra ele, o nosso sofrimento. A gente passa força pra ele diz que tudo vai passar, de que tudo vai voltar ao normal, que vai ficar bem, mas pra gente é bem difícil também”, conta Cleyton Peixoto, pai do Kauã.

A psicóloga Fabiana Vasconcelos orienta: “Mudanças no comportamento, na forma de usar suas roupas, se ele começa a aparecer todo coberto algo pode estar sendo escondido, mudanças no humor repentino, criança bem alegre, extrovertida, agora ela é introspectiva. Se você percebe que existe alteração física, comportamental, emocional no seu filho, algo tem que ser conversado. E as brincadeiras perigosas elas têm que fazer parte dessa lista”.

Além dos desafios, o discurso de ódio também está cada vez mais presentes na rede. Pesquisa do Comitê Gestor da Internet revela que em 2015 quatro em cada dez crianças e adolescentes usuários de internet no Brasil declararam ter visto alguém ser discriminado no meio virtual até um ano antes, o que equivale a 9,3 milhões de pessoas.

Segundo a ONG Safernet Brasil, que monitora violações de direitos humanos na internet, de 2015 para 2016, o número de vítimas de cyberbullying que procuraram apoio junto à organização aumentou. Foram 265 registros em 2015 e 312 em 2016. A entidade também revela que, ao mesmo tempo, houve queda de 6,5% no número de vítimas de vazamento de nudes. Em 2015 foram registradas 322 queixas e, em 2016, 301.

Catarina Bernardes, de 14 anos, acredita que a prática do bullying é forma de infringir a liberdade do outro. “Qualquer opinião contrária, qualquer padrão que esteja fora, você quer julgar a pessoa e é bem aí que você tá invadindo o espaço. Invadindo esse espaço você pratica o bullying”, opina.

Segundo o procurador da República Carlos Bruno Ferreira, que é coordenador do Grupo de Trabalho de Tecnologia da Informação e Comunicação, “o ambiente da internet, por permitir mais expressão de opinião e garantir cenário de expressão maior, permitiu que certos comportamentos e certas opiniões que estavam um pouco escondidas na sociedade fossem expostas nesse ambiente que consegue chegar em tanta gente em tão pouco tempo”.

Durante entrevista ao ‘Caminhos da Reportagem’, o procurador ressalta, ainda, que “não há terra sem lei”. Ele explica que qualquer ambiente em que convivem seres humanos pode ser regulado pelo Direito e que há meios de identificar tudo o que acontece na internet.

Era dos youtubers

Além de facilitar a disseminação de conteúdos ofensivos e perigosos, o programa da TV Brasil mostra que o acesso fácil à internet também criou uma nova era: a dos youtubers. Whindersson Nunes está entre os mais famosos do mundo. Com quase 20 milhões de likes em seu canal, ele acredita que a simplicidade é a fórmula do seu sucesso.

Whindersson, Juliana Baltar e muitos outros youtubers inspiram cada vez mais crianças e adolescentes a seguirem os mesmos passos, como Allana Victória. Aos nove anos, ela já tem seu canal no youtube. “Um dos meus sonhos é ser, tipo, youtuber famosa, conhecer algumas pessoas que eu sou fã, conhecer vários famosos também, ir à Disney, que eu nunca fui”, conta.

Letícia Almeida tem sete anos, já acompanha alguns canais do Youtube e sonha em ter seu próprio canal. Seu pai, James Marcelo Almeida, manifesta preocupação com o desejo da filha. “Ela é bem insistente de querer o canal dela, de compartilhar as coisas que ela gosta de fazer, de mexer e tudo. A gente entende que não está na idade, que está muito nova para se expor ainda”, diz.

De acordo com Luciana Correia, pesquisadora da ESPM Media LAB, confirma a tendência das crianças participarem desse ambiente. “O que tem chamado a atenção e tem crescido nos últimos seis meses, principalmente, e no último ano, se a gente compara fevereiro de 2016 com fevereiro de 2017, que já teve mais de 300% de crescimento, é a categoria das youtubers mirins”.

Estudo da ESPM Media Lab também mostra que entre os cem canais de maior audiência no Brasil, 48 têm conteúdo direcionado ou consumido por crianças de zero a 12 anos. A pesquisadora acredita que os pais devem se aproximar cada vez mais e acompanhar o que os filhos estão assistindo.

“Eu costumo dizer bastante, tira o fone e aumenta o som, ao invés de falar pra criança ‘abaixa o volume, não quero mais ouvir esse youtuber, não quero mais ouvir esse aplicativo, abaixa isso!’, eu costumo dizer: ‘eu quero estar perto, eu quero entender o que você tá fazendo’”, sugere Luciana.

Serviço:

Caminhos da Reportagem – quinta-feira, 27, às 22h, na TV Brasil.

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