Com a proximidade das eleições neste ano é crescente a preocupação dos especialistas com a distorção, a desinformação, a informação incompleta e enviesada e as mentiras disseminadas como verdades. Conhecidas pelo termo em inglês fake news, as notícias falsas podem provocar estragos expressivos em candidaturas e alterar os resultados eleitorais.
Com o uso massivo das redes sociais na internet, o perigo é ainda maior. Os próprios participantes do Facebook ou Twitter, por exemplo, colocam seus dados disponíveis na rede. Isso facilita o trabalho dos divulgadores de notícias falsas.
Gustavo Artese, da Information Accountability Foundation – fundação que busca a informação responsável –, explica que, nas redes sociais, os dados são coletados, processados. Depois é feita uma avaliação do comportamento do usuário para influenciar no processo eleitoral.
“Isso é perigoso. A comparação é com as bombas inteligentes na guerra. Antes, as bombas eram burras. Jogavam a bomba do alto, se acertasse ali, tudo bem. Agora é um ataque muito mais dirigido e efetivo no alvo, que é o eleitor”, afirma.
As redes sociais, conforme observa a pesquisadora em direitos digitais e privacidade Bruna Santos, da Coalizão Direitos na Rede, também colocam o cidadão dentro de uma bolha, onde estão todos aqueles que pensam igual. Segundo ela, as redes sociais se alimentam dessas bolhas porque os algoritmos, depois de um tempo, passam a te dar o conteúdo que eles acham que você quer.
“Quando você passa isso para o parâmetro da propaganda política, você está empobrecendo e segmentando o debate porque, para mim, passa a vir propaganda política só das pautas de um determinado candidato, possivelmente, pautas que eu goste. Ele não me fornece uma informação completa sobre o candidato”, explica.
Para sair das bolhas de conteúdo das redes sociais, o professor Fábio Gouveia, da Universidade Federal do Espírito Santo, sugere que o cidadão busque informações de fontes diversas.
“As pessoas devem usar informação que não venha só da rede social, mas também do jornalismo tradicional e dos seus espaços de convivência: a igreja, a escola, a comunidade… A lógica que sempre existiu na formação política das pessoas”, acrescenta.
O diretor do Coletivo Brasil de Comunicação Social (Intervozes), Jonas Valente, alerta que, além das notícias falsas, há a publicidade paga e os ‘conteúdos impulsionados’, em geral mal disfarçados.
“A liberação de conteúdo impulsionado e publicidade paga em plataformas como Facebook e o Google podem ter um efeito tão danoso como as chamadas notícias falsas. Infelizmente, isso foi aprovado na reforma eleitoral do ano passado, e a gente vai ter que garantir que essas plataformas tenham muita transparência para que as pessoas saibam quando um anúncio está chegando até elas, porque chegou até elas, quem anunciou e para quem chegou”, defende.
O professor de direito da PUC de São Paulo Paulo Brancher orienta que, para se defenderem de notícias falsas, os cidadãos verifiquem a origem das informações. “Há entidades especializadas em checar as informações veiculadas para validar ou não. É importante procurar saber se a informação realmente tem lastro, se tem origem, se é verdadeira”, afirma.
Ele alerta que é uma ilusão achar que não vamos conviver com as notícias falsas, com fake news. “É fundamental que se coloque a importância de o cidadão ser proativo e verificar a que aquela informação efetivamente diz respeito e se tem verdade nela”.
Recentemente, ativistas digitais lançaram a campanha #NãoValeTudo, com manifesto e carta de compromisso aos candidatos, assumindo o que vale e o que não vale no uso de tecnologia para fins eleitorais. Para acessar o manifesto, vá ao site naovaletudo.com.br.
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Reportagem: Newton Araújo
Edição: Rachel Librelon
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