De estudante de jornalismo, que se prepara para encarar o último semestre da graduação na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a “pastor-ninja” responsável por criar mais uma religião. Esse é o jovem Mateus Mognon, de 20 anos, que, intrigado, questionou: é fácil registrar uma nova igreja no Brasil? Mais do que descobrir que, sim, é muito simples fundar oficialmente alguma entidade – supostamente – de cunho religioso no país, ele constatou outros pontos. O custo para isso é baixo e há até a possibilidade de o estatuto da instituição ir contra as leis previstas na Constituição Federal.
Mateus, que é colaborador do site Adrenaline, descobriu esses fatores porque recebeu a missão de produzir uma reportagem para a disciplina de Jornalismo Investigativo. O assunto da não ficou só no título da aula. Depois de ler reportagem do site de O Globo sobre o fato de que “uma nova organização religiosa surge por hora” no Brasil desde 2010, ele se aprofundou no tema e decidiu ver até onde conseguiria levar adiante a fundação de uma religião que não faria sentido algum. Assim, apareceu a “Igreja Nacionais de Hanzo”, que tem como única divindade sagrada o personagem do game Overwatch.
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Com a ideia organizada e a figura a ser cultuada definida (o flecheiro Hanzo Shimada), Mateus Mognon fez partes dos processos necessários para se ter uma organização religiosa legalmente reconhecida no Brasil. Conciliando com as obrigações acadêmicas na UFSC e as atividades profissionais, o futuro jornalista se dedicou durante três meses ao projeto, do início de abril ao começo de julho. Na saga investigativa, ouviu lideranças de igrejas, leu sobre a legislação específica, entrevistou advogados e foi ao cartório quatro vezes. Dessa forma, chegou a elaborar o estatuto da “Igreja Nacionais de Hanzo”.
Durante os trâmites para registrar a sua própria igreja, o estudante de jornalismo não chegou a gastar diretamente R$ 10,00. Entre o registro de assinatura (reconhecimento de firma) em cartório e cópias do estatuto e da ata, ele investiu R$ 8,50. O custo – ou melhor, a falta de – chamou a atenção do repórter e “pastor-ninja”– conforme brincou à reportagem do Portal Comunique-se. “Eu pensava que os processos iniciais para se consolidar uma igreja no Brasil fossem mais burocráticos e caros. Nada disso. Se quisesse levar a ideia até o fim, a minha religião surgiria graças a mim e a mais cinco amigos”, conta Mateus, explicando que para se conseguir o registro desse tipo basta apenas contar com assinaturas de seis pessoas. Sobre documentação, diz que só teve de apresentar comprovante de residência (apartamento de um amigo em São José, município da Grande Florianópolis) e o já mencionado estatuto.
O “pastor-ninja” revela que só não foi até as últimas etapas do processo de se criar uma igreja com medo de sofrer processos posteriormente. O temor se justifica por partes do estatuto da “Igreja Nacionais de Hanzo” serem inconstitucionais. É o caso do artigo em que fala sobre o consumo e a propagação de produtos falsificados. “Conversei com advogados que me alertaram de que eu poderia ter problemas judiciais se de fato registrasse a minha entidade”, diz Mateus Mognon. Até as fases que realizou, porém, não teve nenhum revés no âmbito jurídico. O que causou espanto. “Coloquei pontos que vão contra o que está na Constituição, como defender a pirataria, para ver o que aconteceria. Ninguém me questionou, o único problema que tive foi com a diagramação do documento oficial, que me mandaram refazer para seguir o padrão”.
A ausência de questionamento sobre as normas assustou e indignou. “O que mais me assustou foi perceber a facilidade com que pessoas podem usar a fé, a religião, para cometer ilegalidades”, afirma Mateus. “Quantas não estão por aí cometendo crimes?”, questiona o fundador da “Igreja Nacionais de Hanzo”. A indignação do estudante se amplifica pela razão de que entidades religiosas têm o direito de pleitear isenção de tributos como IPTU, IPVA e imposto de renda. “Ninguém me questionou sobre a crença. Se fosse mal intencionado, eu iria registrar a igreja, tendo de apenas pagar a taxa para ter o CNPJ e enfrentar a burocracia da prefeitura”, relata. “Aí, teríamos uma religião reconhecida pela lei que defende a pirataria”, critica o idealizador do projeto investigativo.
Criador de toda essa história, Mateus Mognon conta que brincadeira de fundar a “Igreja Nacionais de Hanzo” chega ao fim, mas com objetivos alcançados, a começar pela repercussão da pauta. “Fiquei feliz com o alcance. Vi que virou notícia em alguns sites e fóruns de games”, comemora o repórter que se despede precocemente da função de “pastor-ninja”. Apesar da descontinuidade da instituição, ele crê que as bênçãos do personagem podem fazer com que o seu projeto no jornalismo online, o site nacionais.net, ganhe relevância no mercado da comunicação do país. “Tenho fé de que o nacionais.net vai crescer”, profetiza o falso religioso que, mesmo ainda estando na graduação, já provou ser um jornalista de verdade.
A “Igreja Nacionais de Hanzo” deixa documentado seus seis mandamentos, além da diretriz de que seus seguidores podem “ser fonte de distribuição de produtos, meios e materiais com a palavra de Hanzo”…
http://nacionais.net.br/index.php/2017/07/10/igreja-nacionais-de-hanzo-prova-como-e-facil-conseguir-imunidade-tributaria-no-brasil/
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