Visando a romper com estigmas e preconceitos sobre mulheres que já fizeram um aborto e promover o acesso à informação sobre o tema no Brasil, a Think Olga trata do assunto na 6ª edição do Minimanual do Jornalismo Humanizado, lançado em dezembro.
Dividido em seis partes, o manual apresenta informações sobre o aborto e dá orientações para a abordagem pela imprensa. Uma lista de fontes, documentos e estatísticas reconhecidos pela Think Olga também estão disponíveis para quem busca produzir qualquer pauta sobre o tema.
Segundo a jornalista Nina Neves, autora do material, “ao quebrar tabus, circular informações sobre o corpo, os direitos e a lei”, o jornalismo sensibiliza mais pessoas para o tema e contribui para o debate sobre o aborto e outras decisões reprodutivas femininas. “Falar de aborto deve ser um tema de saúde da mulher, não uma questão de cadeia. Os veículos e jornalistas têm um papel central na virada necessária desse ponto de vista”, ela diz.
Do ponto de vista médico, chama-se de aborto toda interrupção da gravidez, que pode acontecer de forma voluntária ou espontânea. Informações da Pesquisa Nacional do Aborto (PNA), desenvolvida em 2016 pelo Instituto Anis, mostram que uma em cada cinco brasileiras de até 40 anos já o realizou ao menos uma vez, e cerca de metade das mulheres que o fizeram em 2015 tiveram de ser internadas após o procedimento.
Nina Neves lembra que promover o acesso à informação sobre o aborto não é crime. Nesse sentido, ela afirma, os jornalistas interessados em falar sobre aborto devem sempre apresentar informações corretas sobre o tema e dar visibilidade aos serviços de saúde que existem. Além disso, ela recomenda que todos tomem cuidado para não propagar preconceitos e busquem fontes que falem do assunto de um ponto de vista humanizado. “É fundamental priorizar especialistas que trabalham regularmente com o tema, instituições e profissionais de saúde e do direito e organizações da sociedade civil, incluindo as feministas”, diz.
No manual, há informações sobre os procedimentos pelos quais a aborto é praticado no mundo, os medicamentos mais usados nos países e a relação entre aborto e estupro no Brasil. Há também dicas para evitar o uso de palavras inadequadas geralmente usadas para se referir às mulheres (uma mulher grávida ou que fez um aborto não deve ser chamada de “mãe”, por exemplo) ou a um embrião ou feto (que não devem ser tratados como “filho”, “bebê” ou “criança”).
No caso de entrevistas com pessoas que fizeram um aborto, a atenção deve ser redobrada. “Antes de mais nada, o repórter deve pensar se essa entrevista é mesmo necessária e qual o papel dela na cobertura do tema”, diz Neves. “Caso seja indispensável, o ponto de partida é nunca, jamais, ter qualquer atitude que possa expor a identidade dessa mulher, que ficaria vulnerável a julgamentos morais e a um processo legal, no caso de o aborto ter acontecido há menos de oito anos”.
“Acredito que temos uma grande força quando se trata da circulação e reiteração de discursos – pensando discurso inclusive no sentido do poder de formar uma ‘verdade’, construção coletiva capaz de validar condições sociais e históricas”, diz Neves. “Enquanto jornalistas, pessoas que falam para muitos, acho fundamental não perdermos de vista esse poder do discurso com que trabalhamos diariamente.”
Para ela, pautar adequadamente questões de desigualdade de gênero e violência contra as mulheres é “fundamental para que se possa construir uma realidade diferente da compreensão hegemônica dos lugares da mulher e do homem – que, ainda bem, já estão em disputa há muito tempo. Quanto mais ferramentas tivermos e pudermos oferecer para o debate informado e construtivo, melhor”.
Além da leitura do minimanual, Nina Neves recomenda a jornalistas interessados na cobertura do aborto que conheçam os relatos da campanha “Eu vou contar”, empreendida pelo Instituto Anis e apoiada pela Think Olga. A campanha reúne histórias reais de brasileiras que fizeram um aborto em algum momento de suas vidas. Toda semana, há um novo relato. “É uma ótima maneira de receber um choque de realidade e humanidade sobre o assunto”, diz a jornalista.
O Minimanual de Jornalismo Humanizado sobre aborto é o último de uma série de seis guias que também trata de violência contra as mulheres, pessoas com deficiência, racismo, estereótipos nocivos e cidadania da população LGBT* (leia aqui reportagem da Abraji sobre o quinto minimanual). Em todos os livros, a Olga avalia erros e acertos da imprensa e dá dicas aos jornalistas de como melhorar sua cobertura, com base na consulta a organizações da sociedade civil e representantes de grupos minorizados.
A edição sobre aborto teve consultoria de conteúdo da Anis – Instituto de Bioética. O material teve apoio da Global Health Strategies.
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