Niterói – RJ 26/5/2020 –
A pandemia do novo coronavírus é o maior desafio médico desde a gripe espanhola em 1918. Apesar de a insuficiência respiratória ser um dos principais sintomas, disfunções em outros órgãos, como os do sistema nervoso, também têm sido observadas por cientistas e podem ser subnotificadas.
Um estudo do Complexo Hospitalar de Niterói, em parceria com a Fiocruz, intitulado New Coronavirus and the Nervous System: Should Neurologists Be Concerned?, tem o objetivo de analisar o perfil neurológico dos pacientes infectados pela Covid-19 e observar como o vírus pode comprometer o sistema nervoso, para orientar os profissionais da saúde sobre os protocolos clínicos adequados.
Marcus Tulius Silva, neurologista do Complexo Hospitalar de Niterói e um dos autores do estudo, explica como o microrganismo pode chegar ao cérebro. “O vírus, também conhecido como SARS-CoV-2, invade as células do organismo, através de um receptor celular, com as quais apresenta alta afinidade. Ainda que a infecção seja, primordialmente, respiratória, os receptores por onde acontecem a invasão são encontrados em todo o organismo, inclusive no tecido cerebral.”
Os principais impactos neurológicos observados em pacientes infectados são a encefalite, a encefalomielite e crises convulsivas, além da diminuição do nível de consciência, em alguns casos. Tais problemas podem apresentar alto índice de mortalidade e causar graves sequelas. Ainda que os desdobramentos neurológicos em pacientes com Covid-19 representem um número menor de casos, também há evidências de que há maiores riscos de ocorrência de acidente vascular cerebral (AVC) durante a doença. “Por isso, é necessário que os neurologistas também estejam muito atentos”, comenta o médico.
O estudo também traça dados comparativos entre a pandemia da Covid-19 e os desdobramentos neurológicos observados na epidemia de SARS, ocorrida em 2002, também causada por um tipo de coronavírus. Em 2005, no final da epidemia, especialistas realizaram autópsias em oito pacientes infectados pelo SARS e observaram que todos apresentavam vestígios do vírus no tecido cerebral.
“Novas informações a respeito dos efeitos do novo coronavírus no organismo são constantes, mas já se sabe que não se trata de uma simples infecção respiratória inofensiva. Portanto, medidas de prevenção propostas pela OMS e pelo Ministério da Saúde, como o isolamento social, o uso de máscaras de proteção e a higienização regular das mãos, devem ser adotadas amplamente para frear a curva de propagação do vírus.
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