Um estudo encomendado pela Open Society Foundations e divulgado na última quinta-feira, 21, mostra as principais estratégias de 15 veículos jornalísticos para recuperar credibilidade e se aproximar de sua audiência. As soluções vão desde investir mais na produção jornalística até abrir mais espaço para participação da comunidade.
O estudo “Bridging the Gap: Rebuilding Citizen Trust in the Media” (“Construindo pontes: recuperando a confiança do público na mídia”, em tradução livre) mapeia as estratégias de engajamento de 15 veículos e, com base nos resultados dessas práticas, aponta lições para outras empresas de comunicação. Há ainda uma bibliografia para quem busca se aprofundar em estudos sobre temas como credibilidade, pós-verdade e desinformação na mídia. Foram entrevistados representantes de meios como Chequeado (Argentina), Bristol Cable (Reino Unido), Coral Project (EUA), GroundUp (África do Sul) e Krautreporter (Alemanha). Não há veículos brasileiros no estudo.
“Encontramos um grupo de startups novas que acreditam que o melhor é oferecer informações que sejam relevantes para a vida de seus leitores”, diz Anya Schiffrin, diretora da especialização em mídia, tecnologia e comunicação da Universidade Columbia e uma das autoras do estudo. De acordo com a pesquisa, grande parte dos leitores aprecia que, por exemplo, veículos locais façam reportagens investigativas.
Segundo o relatório, ainda que os grupos entrevistados estejam preocupados com o fenômeno crescente de perda de credibilidade e desconfiança na mídia, a maioria tem focado em soluções imediatas para manter ou recuperar sua taxa de audiência. Alguns acreditam que a credibilidade de um veículo depende do quanto ele pode promover engajamento. Outros preferem se dedicar à produção jornalística, estabelecendo nova ética e novas práticas de apuração.
Uma prática recorrente entre os veículos analisados é o uso das redes sociais para a interação com o público. Metade dos veículos disse que responde aos comentários que os leitores fazem sobre seus trabalhos na internet. Alguns também envolvem sua audiência por meio de pesquisas on-line e colaborações para checagem de fatos.
“As redes sociais permitem feedbacks mais constantes e rápidos do trabalho que está sendo feito”, afirma Schiffrin. Para ela, o uso da tecnologia é o principal diferencial entre os veículos tradicionais e as startups que estão inovando.
Os dados do estudo mostram uma divisão de percepções sobre o tema: seis dos 15 entrevistados disseram acreditar que os critérios de credibilidade para o jornalismo não mudaram na era digital – para eles, basta que os veículos reportem os fatos com precisão e contem sempre a verdade –, outros seis afirmaram que, além de dizer a verdade, o jornalismo deve promover iniciativas que convençam os leitores e a sociedade como um todo de que é confiável. Essas iniciativas devem contemplar novas maneiras de se relacionar com o público.
Alguns veículos acreditam que devem manter contato pessoal com seus leitores, indo até as comunidades, deixando-os visitar a redação e oferecendo treinamentos que os capacitam para contribuir para reportagens no futuro. Doze afirmaram que já “usaram o conhecimento ou experiência de seus leitores ao produzir uma história”.
Os veículos também estão investindo na transparência. Dez das organizações disseram que explicam o processo de seleção de suas pautas aos leitores e oito os deixam participar de decisões editoriais. Seis revelam suas fontes de financiamento e quatro divulgam quem são seus proprietários.
“O jornalismo sempre se interessou em conhecer seus leitores e fontes, e sempre quis fazer parte da comunidade”, diz Schiffrin. “O que há de diferente é a forma como ele o está fazendo. Não sei se essas organizações [analisadas no estudo] poderão fazer muita coisa a respeito da desconfiança generalizada na mídia, mas elas parecem estar construindo comunidades junto a sua audiência.”
Na opinião de Schiffrin, “o Brasil tem um enorme mercado de mídia, que engloba desde as grandes empresas até os veículos independentes”. “É um cenário vívido, com muita inovação e energia”, diz.
A jornalista Angela Pimenta, coordenadora-executiva do Projeto Credibilidade, considera que, “em função das eleições [em 2018], a credibilidade jornalística será crescentemente testada”. “Por um lado, os veículos brasileiros estarão sob maior escrutínio político, o que consideramos saudável. Por outro, diante da polarização ideológica, o meio digital deverá ser a principal arena política. Neste cenário, maus atores tendem a produzir e compartilhar desinformação”, diz.
Em relação aos dados trazidos pelo estudo, Pimenta destaca: “ao reportar sobre a percepção dos veículos pesquisados de que os leitores de notícias desejam mais transparência sobre o processo de apuração e edição e também mais engajamento, o relatório da Open Sose alinha à nossa missão”. O objetivo do projeto, que desde 2016 tem trabalhado junto a veículos de jornalismo e organizações (entre elas a Abraji), é fazer com que os leitores cada vez mais obtenham o que Pimenta chama de “dados nutricionais da notícia”, como informações sobre como os repórteres decidiram apurar a matéria e o que fizeram durante o processo.
Para ajudar jornalistas e leitores, o Projeto Credibilidade acaba de lançar o “Manual da Credibilidade Jornalística”, que reúne conceitos básicos sobre jornalismo, credibilidade, desinformação e verdade, entre outros. Em 2018, o projeto buscará parcerias com novos veículos e trabalhará junto aos que já são parceiros para implementar os indicadores que tornam mais transparentes as notícias. “O combate à desinformação demanda três abordagens combinadas: a adoção do sistema de indicadores de credibilidade, checagem exaustiva de informações e educação midiática”, afirma Pimenta.
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