No cenário de transformação digital do sistema financeiro, onde surgiram as fintechs – empresas de tecnologia e inovação para serviços financeiros -, surge uma dicotomia: bancos tradicionais e fintechs podem ser parceiros, ou irão preferir competir? Pesquisas feitas pela EY, realizada no primeiro semestre de 2022, e pela Finastra, de 2020, revelam que o consumidor espera a integração entre bancos tradicionais e fintechs. Em relação aos bancos, citam as vantagens: confiabilidade e relacionamento de longo prazo, e, quanto às fintechs, proximidade, jornada e experiência. Seria o casamento perfeito?
De acordo com o Banco Central, fintechs são empresas que introduzem inovações nos mercados financeiros por meio do uso de tecnologia, com potencial para criar novos modelos de negócios. A partir da implantação do open banking no Brasil, as fintechs surgiram com um papel relevante, já que o modelo que busca uma nova proposta de oferta e criação de produtos através do compartilhamento de dados dos clientes, tem nas fintechs a oportunidade de inovar com as tecnologias financeiras. Entre as novidades proporcionadas pelo open banking, a competição entre fintechs e bancos vem sendo discutida.
Segundo as pesquisas da EY e Finastra, trabalhando em conjunto com novos modelos de tecnologia, instituições financeiras ganharão market share (participação de mercado), aumento de receita em até 20% e redução de custos de até 25%, bem como facilitarão as jornadas de clientes vias canais próprios e de terceiros. Para Luiz Falbo Di Cavalcanti, CEO do Kalea, hub de crédito que promove relações entre empresas e o mercado financeiro, embora ainda haja casos de animosidades entre bancos e fintechs, em função de um antagonismo explícito, onde algumas fintechs ganharam porte e assumiram posição de ataque aos bancos, tem-se observado um cenário cada vez mais fundamentado “não só na integração – nos casos em que os modelos de negócios são complementares – como também na coopetição (cooperação+competição) – onde bancos e fintechs que aparentemente são concorrentes diretos têm achado maneiras de cooperar para benefícios mútuos”, explica Luiz Falbo.
Nos Estados Unidos, segundo pesquisa do Business Insider Intelligence, as principais razões apontadas para os bancos trabalharem com fintechs são abertura de conta digital (70%), pagamentos (53%), crédito e empréstimos (48%), gestão de fraude e riscos (35%), novos produtos bancários (34%), gestão financeira pessoal (20%), gestão de investimentos (16%) e seguros (9%). “A colaboração possibilita que os bancos possam ir de encontro às expectativas dos clientes quanto à jornada, experiência e proximidade, aspectos que veem nas fintechs, tendo a confiabilidade do relacionamento de longo prazo que têm com seus bancos tradicionais”, comenta Luiz Falbo.
Há um aspecto relevante apontado pelas pesquisas que pode se tornar um diferencial para os bancos: sua rede física. Aliada às novas possibilidades de jornadas criados pelas fintechs, esta rede pode ser utilizada para promover uma estratégia físico + digital, onde o cliente pode ser atendido por especialistas do banco – que vão cuidar de suas necessidades e desenvolver o relacionamento – enquanto a tecnologia facilita e agiliza os aspectos burocráticos junto ao cliente. “Assim, o banco qualifica seu atendimento através da atuação de sua equipe, ao mesmo tempo que reduz atritos burocráticos e facilita a vida para o cliente”, diz Luiz Falbo.
Para as fintechs, segundo Luiz Falbo, as principais vantagens de trabalhar em parceria com grandes instituições financeiras é de poderem usar a rede e estrutura dos bancos para escalar seus modelos de negócios e exercer plenamente os propósitos para os quais se constituíram.
No Brasil, uma pesquisa de Tecnologia Bancária realizada pela FEBRABAN revelou que, dos bancos brasileiros, 26% já contam com mais de 20 parceiros no ecossistema de inovação, 11% têm de 11 a 20 parceiros, 31% têm de 1 a 10 parceiros, mas 32% ainda não tem nenhum parceiro. Quanto maiores esses números, maiores serão os benefícios para o sistema financeiro e sociedade: mais competitividade, mais acessibilidade ao crédito, mais possibilidades, além da redução de custos e mitigação de riscos. “Nenhum casamento é perfeito, mas bancos + fintechs estão no caminho da construção de um relacionamento saudável”, diz Luiz Falbo.
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