Profissional com 30 anos de carreira na crônica esportiva, Jorge Vinícius não esconde: está com saudades de narrar jogos de futebol pelo rádio. Saudade que chegará ao fim logo no início de 2019. Após passar oito anos como contratado do Grupo Globo, onde se destacou em jornadas pelo SporTV, ele acertou sua volta ao dial. Retorno que, conforme enfatiza, será “avassalador”, igual ao apelido que ganhou entre o público e colegas.
Contratado pelo Grupo Thathi de Comunicação, Jorge Vinícius será mais do que o principal locutor esportivo da empresa de mídia sediada em Ribeirão Preto (SP). Na cidade do interior paulista, a qual classifica como a principal de sua vida, ele desempenhará função de liderança. Com a mulher e a filha, o comunicador regressa ao município, onde já trabalhou em emissora de rádio e ostenta o título de cidadão, para atuar como gerente de esportes.
Além da múltipla função, o jornalista “Avassalador” terá atividades multimídia. No rádio, Jorge Vinícius narrará jogos dos dois times de Ribeirão Preto, Botafogo e Comercial, e ficará de olho em competições como o Campeonato Brasileiro e Libertadores. Na televisão, será figura presente em programa esportivo. Trabalhará, ainda, para montar uma equipe cada vez mais dinâmica na internet, com força nas redes sociais.
Sobre o retorno “avassalador” ao rádio, a experiência de anos na televisão e a relação pessoal e profissional que mantém com o interior paulista, o jornalista e locutor esportivo Jorge Vinícius conversa de forma EXCLUSIVA com a reportagem do Portal Comunique-se. Confira, abaixo, a íntegra da entrevista:
Por oito anos, você foi contratado do Grupo Globo e narrou para o SporTV. Vindo do meio radiofônico, além de passagem pela TV Cultura de São Paulo, qual foi o processo para se adaptar ao ritmo da transmissão na televisão?
No começo da TV, tive uma certa dificuldade no aspecto de querer preencher toda transmissão. No rádio, você precisa estar o tempo todo falando, narrando. A televisão já te dá o produto pronto, a imagem é a mesma que o telespectador está vendo. Não havia a necessidade de preencher toda transmissão, de ficar o tempo todo narrando. Tive que me adaptar. Existia até um trabalho de transcrição da minha narração. Eu fazia o jogo na televisão e, em casa, fazia o exercício de pegar a transmissão toda e transcrever. Nesse processo, eu percebia a repetição de palavras. Logo, fui percebendo que de fato não havia necessidade de ficar o tempo todo falando. Por si só, a imagem por si só já levava a informação em determinados momentos.
Falamos da adaptação de quem veio do rádio. E na TV, quais diferenças da aberta para a de assinatura?
A diferença é que a TV fechada tem o público específico. O cara está ali para ver o jogo, independentemente da modalidade. Ele conhece o evento que está assistindo. Na TV aberta, não. Ali, tem a possibilidade de falar para senhoras, jovens e para as pessoas que estão no mesmo ambiente de quem realmente quer ver o jogo. Na TV aberta, dá para trabalhar esse lado de ser mais popular. Dá para ser mais um comunicador do que um narrador que fica transmitindo o factual e apegado ao que a imagem já está mostrando.
Quem o acompanha nas redes sociais tem na mente o histórico de mensagens de você informando que estava escalado para ser o stand by das transmissões conduzidas pelo Cléber Machado na TV Globo. Como funciona esse trabalho?
A questão do standy by é muito engraçada. O que é o standy by? Quando a Globo manda a equipe para o estádio para fazer uma transmissão, é preciso ter ao menos um narrador que fique no estúdio. O narrador que fica no standy by também participa do show do intervalo, narrando os gols dos jogos que já aconteceram na rodada.
Já precisou – ou quase precisou – assumir a narração de alguma partida em cima da hora?
Bateu na trave uma vez, bem na final da Copa do Brasil de 2015. Palmeiras e Santos jogaram no Allianz, e a equipe da Globo teve problema para chegar nas proximidades do estádio porque estava um tumulto muito grande. O Cléber Machado se viu em meio àquela situação. Ele, que precisava fazer participação ao vivo no ‘Jornal Nacional’ e já estava vestido de terno da Globo, saiu do carro, largou o Casagrande e o Caio Ribeiro e pegou um motoboy para ver se chegaria a tempo na cabine de transmissão do estádio. Por outro lado, os dois comentaristas decidiram voltar para a sede da emissora…
Enquanto isso, fui para o estúdio e o meu coordenador falou: “arruma aí porque pelo jeito deu um problema com a nossa equipe lá no estádio do Palmeiras e acho que você que vai ter que abrir a transmissão”. Fui para o local onde eu ficava, que no caso é o mesmo estúdio do ‘Globo Esporte’ e fiquei preparado. De repente, chegaram o Caio e o Casagrande. Eles já estavam microfonados e se posicionaram. O Paulo César de Oliveira, que era o comentarista de arbitragem da partida, também chegou. E nada do Cléber aparecer…
Quando acabou a novela [que antecedia o futebol], o meu coordenador estava me orientando, dizendo: “abre rapidamente. Faz o que você faz no SporTV, coisas simples, e já chame as escalações que está quase na hora do início do jogo”. Isso porque a Globo entra praticamente em cima da hora, as vezes até no meio da execução do hino nacional. Eu estava preparado, mas…
Na hora que entrou a vinheta dos 5 segundos anunciando os patrocinadores, o Cléber Machado chegou. Eu saí rapidinho do meu lugar e a transmissão entrou no ar com o comando do Cléber. Fiquei com ele o tempo todo no estúdio. Foi engraçado, não deu nem tempo de dar um friozinho na barriga, tamanha a correria naquela hora e o momento também. Era decisão de Copa do Brasil e um baita clássico entre Palmeiras e Santos.
No SporTV, além de narrar jogos de futebol, você foi escalado para ser locutor de eventos de outras modalidades. Como funciona essa mudança de um esporte para o outro?
Tive a felicidade de narrar praticamente tudo. Vôlei, inclusive só narrei vôlei nas Olimpíadas de 2016. Narrei basquete, futsal, futebol de areia, vôlei de praia e natação. Cheguei até a narrar patinação no gelo ano passado, no Ginásio do Ibirapuera. O evento era sábado à noite, um duelo de ex-patinadores, entre norte-americanos e europeus. Fui escalado na quarta-feira e eu não tinha noção do que era patinação artística no gelo. Foram dois dias inteiros debruçados em cima de informação, de procurar vídeos, de entrar na história de cada atleta. Existe toda uma preparação especial para quem está mais habituado com o futebol. Quando se vai de um esporte para outro, é preciso estudar, se preparar muito mais, saber cada regra.
Há o relato de que o Jota Júnior foi o único a retornar o seu contato enquanto você estava fora do ar (antes do SporTV). O que o JJ significa para você?
O Jota Júnior é um cara fora de série, uma pessoa que está no mundo apenas para fazer o bem. Ele tem uma presença de espírito, é uma pessoa iluminada. Jota Júnior é um ser humano fantástico e, de fato, quando eu saí da Rádio Record de São Paulo, ele me ajudou. Hoje, a gente tem WhatsApp, temos a internet mais rápida e as redes sociais. Você manda uma mensagem e consegue conversar imediatamente com alguém. Naquela época, em 2009, eu tive que correr atrás de e-mail e celular das pessoas para poder entrar em contato.
Com o Jota foi desta forma. Mandei o e-mail e ele me retornou em questão de 20 minutos, já me orientando, dizendo que tinha acompanhado minhas transmissões do Campeonato Italiano na TV Cultura e que era para eu enviar esse material para o SporTV. Foi o que eu fiz isso. O Jota me orientou e, na sequência, o SporTV entrou em contato comigo.
Ano novo, emprego novo. Em 2019, você assume a gerência de esportes do Grupo Thathi de Comunicação. Sediada em Ribeirão Preto (SP), a empresa conta com emissora de TV, duas estações de rádio e um portal de notícias. Como será a sua missão?
Vou gerenciar o departamento de esporte com o novo núcleo criado, fazendo escala, orientando em contratações, formando equipes, fazendo logística, viagens, escolhendo os jogos que vamos transmitir. Diariamente, vou participar do programa que é transmitido de modo simultâneo no rádio e na televisão. Vou narrar os jogos do Botafogo e do Comercial, além de acompanhar os campeonatos nacionais e estaduais — no caso, o Campeonato Brasileiro e Campeonato Paulista. Vou fazer de tudo aqui, vou trabalhar bastante, até porque será um ano bom para o futebol da região, com o Botafogo no Paulistão e na Série B do Brasileiro. E o Comercial acabou de subir para a A3 do Campeonato Paulista.
Em anos de trabalho, você somou passagens por emissoras de rádio da capital paulista e do interior de São Paulo. Em 2019, você voltará a narrar jogos para o meio radiofônico. Estava com saudades?
Já estava com uma saudade incrível de narrar no rádio. Inclusive, neste ano completei 30 anos de carreira. Comecei em 1988, como repórter esportivo na rádio Difusora de Penápolis. Estou muito feliz. Adoro narrar no rádio. A televisão vai te moldando para usar um linguajar mais popular, vai te engessando, te privando de certas situações. No rádio, não! No rádio, você tem que usar a criatividade, despertar a imaginação do ouvinte,fazer com o que ele viva o que você está ocorrendo no local do jogo.
No rádio, você ficou conhecido pelos bordões declarados ao longo das transmissões. Afinal, seu apelido “Avassalador” não é por a caso…
Vou colocar em prática a minha criatividade. Aos poucos, você vai criando bordões. No meu caso, um jogador que se destaca ganha o rótulo de “avassalador”. “Audácia pura”, uso para motivar o time, jogar junto com o torcedor. Em Ribeirão, muito mais, porque aqui é uma cidade do interior, com Comercial e Botafogo. Ficamos mais próximos do torcedor e se torna mais fácil fazer a festa com eles. Em São Paulo, eu também usava o “na direção da emoção”. O Luís Roberto sempre usava “no caminho da emoção” na Rádio Globo e eu, que sou fã dele e o tenho como referência, falei uma vez: “Luís, você usa ‘no caminho da emoção’; vou usar ‘na direção da emoção”. Agora, além desses, vou trabalhar para encontrar outros bordões.
Além de locutor esportivo, você chega ao Grupo Thathi de Comunicação com cargo de liderança. Como o novo gerente de esportes, o que pode ser adiantado da equipe e do modo de transmissão?
Para minha grata surpresa, a equipe está praticamente pronta. Temos um comentarista mais experiente, que é o João Gilberto. Temos o Igor Ramos, escritor, ex-Lance e que recentemente se lançou como cineasta, fazendo um filme em homenagem à conquista do Botafogo no primeiro turno do Paulistão de 1977. Lucas Bretas, por sua vez, é um rapaz muito bom, de excelente nível, um cara que teve passagem pela EPTV. E também já contamos com o Correia Junior. um rapaz cheio de vontade que é um coringa na equipe. É narrador e produz reportagens e pode nos ajudar no trabalho multiplataforma, integrando rádio, internet e televisão. Para completar o time, devemos fechar com mais um repórter.
Acredita que, cada vez mais, os jornalistas devem se adaptar a esses meios de comunicação? Como você está planejando a integração de mídias entre as plataformas?
Essa questão da multiplataforma já é realidade por aqui, o Grupo Thathi é pioneiro na região, com programa de TV sendo transmitido no rádio e iremos investir na internet, nas mídias digitais. Mas, por ser uma coisa nova, é um processo de adaptação para todo mundo e nesses momentos o improviso salva bastante, principalmente a experiência com a televisão, que ajuda na hora do direcionamento e no trabalho com as câmeras.
Você faz referência à estrutura organizado pelo Grupo Thathi. Ao que se deve esse investimento?
O Grupo Thathi de Comunicação é do empresario Chaim Zaher, uma referencia na educação. Ele é o dono do COC, a rede SEB. Na comunicação, ele sempre foi uma pessoa que teve emissora de rádio e de televisão e, agora, se motivou. Criou uma estrutura maravilhosa. Montou todos os estúdios das rádios do grupo: Difusora FM, Thathi FM e 79 AM. Ele comprou a antiga fábrica de cervejaria Antártica, famosa aqui em Ribeirão Preto.
No espaço, além de ter construído as redações, os estúdios e equipamentos super modernos, ele está criando um lugar voltado ao social e ao cultural, está abrindo um restaurante, um espaço kids. Além disso, ele dá acesso a pessoas carentes, que não podem pagar uma escola particular, cursinho para prestar vestibular. O Chaim dá um amparo na área social. Ontem foi a inauguração desse espaço, do Instituto SEB, e o evento contou com as presenças do jornalista Gilberto Dimenstein e do maestro João Carlos Martins.
Natural de Penápolis, vivendo em Sorocaba e com passagens profissionais por Ribeirão Preto. Qual a sua relação com o público da região?
Sou o penapolense que saiu da cidade com 16 anos já trabalhando, fez faculdade na PUC em Campinas e foi o primeiro narrador da CBN de Campinas. Minha relação com as pessoas da comunicação e com os torcedores é muito sadia. No interior, a repercussão é de imediato. Em São Paulo, é difícil a pessoa identificar com o narrador. Por aqui, quando acaba o jogo o torcedor já espera você deixar a cabine. pois ele já tem acesso.
E sua relação com Ribeirão Preto vai além do futebol, não é?
Passei seis anos da minha vida em Ribeirão Preto e, em 2007, fui agraciado com o título de cidadão ribeirão-pretano. Hoje, sou uma pessoa muito feliz e realizada por voltar a Ribeirão Preto, inclusive trazendo a minha família. Minha esposa e minha filha vão morar aqui. E espero que seja para sempre. Estou me despedindo de Sorocaba, que é uma cidade maravilhosa e onde fiz muitos amigos. Mas Ribeirão tem uma coisa espiritual, que está me trazendo de volta. De volta para a principal cidade da minha vida.
Mais de 30 anos de trabalho na imprensa esportiva e com formação em jornalismo pela PUC de Campinas, qual é a sua análise a respeito da oferta de conteúdo – informativo e esportivo – no interior de São Paulo?
Infelizmente, a região do interior de São Paulo tem muitas rádios largadas, abandonadas. Outras emissoras estão entregues a grupos religiosos. O que o Chaim está fazendo é uma verdadeira revolução em Ribeirão Preto se tratando de comunicação. Lamento que parece não existir mais um ou dois com a mesma disposição, com o mesmo entusiasmo e com o mesmo grau de investimento que o Chaim. E isso é ruim para classe, pois o interior formava sempre profissionais que iam para São Paulo. Isso não existe mais. Dificilmente o interior manda narrador, comentarista ou repórter para a capital.
Com essa relação com o interior paulista, você pensa em colaborar com algum jornal impresso da região. Aceitaria alguma proposta para assinar uma coluna de esportes, por exemplo?
Aceitaria, sim! Escrever uma coluna em algum jornal de Ribeirão Preto ou de outra parte do interior. Posso ter um trabalho semanal ou mensal em jornal ou revista. Toparia o desafio, até porque já fiz isso no passado, eu tive uma coluna de esportes, tinha espaço semanal numa publicação. Temos que estar em todas as mídias.
Por fim, para quem vive e trabalha no interior de São Paulo: qual a mensagem que você deixa para os estudantes de comunicação e jovens jornalistas da região? Vale acreditar na expansão da imprensa paulista?
A mensagem que eu deixo para essa geração é: tenham o envolvimento mais rápido possível para estagiar e entender na prática o que é o veículo de comunicação em que ela está disposta a trabalhar. Não basta ter só vontade, tem que ser muito determinado. É preciso persistir, pois os obstáculos são grandes e as dificuldades crescem a cada temporada. Sem contar que temos poucos espaços para se trabalhar no meio. Infelizmente, esse poço não tem fundo. A gente escuta muita demissão e pouca contratação. Tem que ter perseverança e tem que estar preparado para quando a oportunidade surgir.
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Com colaboração de Gabriel Tripodi, estagiário da Unidade de Monitoramento de Mídias do Comunique-se.
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