As próximas edições da Veja irão circular sem o nome de Rodrigo Rangel constando no expediente como editor-executivo da sucursal em Brasília. Depois de quase oito anos de trabalho, com inúmeras reportagens exclusivas voltadas à política do país, o premiado jornalista deixa a revista da Editora Abril para traçar novos planos na carreira. Ele se prepara para trocar a mídia tradicional pela digital. Fora do meio impresso, estará à frente de projeto jornalístico nativo da internet e idealizado pela turma de O Antagonista, site criado por Diogo Mainardi e Mario Sabino.
Fora da Veja, o jornalista terá a missão de dirigir a Crusoé, futura revista 100% digital que pretende apresentar conteúdos exclusivos e investigativos a cada semana. Ele aceitou o desafio ao receber o convite de Mario Sabino, ex-redator-chefe do semanário da Abril. A partir de agora, caberá a Rodrigo Rangel ir atrás de profissionais para compor a redação do novo veículo da imprensa online brasileira. A equipe, que ficará baseada no Distrito Federal, será enxuta, mas “de primeira”. Apuração do Portal Comunique-se dá conta que os sócios de O Antagonista querem gente com experiência, capaz de contar boas histórias e produzir furos de reportagem.
Ainda sem a definição do time que irá ajudá-lo na produção de conteúdo do novo projeto, o profissional se despede da Veja nesta segunda-feira, 26. O nome da revista a ser lançada é baseado na saga de Robinson Crusoé, protagonista do livro homônimo escrito pelo inglês Daniel Defoe no século XVIII. No clássico, Crusoé sai em busca de algo diferente, fora da vida modorrenta, enfrenta uma grande tempestade no caminho e vai parar numa ilha deserta. Lá, é obrigado a enfrentar os múltiplos desafios de um lugar inóspito, selvagem. E se vê obrigado a refletir sobre valores fundamentais da civilização – e se reencontra com esses valores.
Natural de Vitória, Rodrigo Rangel é formado em jornalismo pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Depois de iniciar a carreira na imprensa em solos capixabas no fim dos anos 90, chegando a ser correspondente local de O Globo, partiu para Brasília. Na capital federal, já são 15 anos de trabalho. Nesse tempo, passou pelas redações dos jornais Correio Braziliense, O Globo (mais uma vez) e Estadão. Além da Veja, as outras duas principais revistas semanais – em tiragem – do país contaram com suas reportagens: Istoé (Editora Três) e Época (Editora Globo).
Seja no Espírito Santo ou no Distrito Federal, o futuro diretor de redação conta com premiações no currículo. Só Esso, foram três. O primeiro, quando ainda trabalhava em Vitória, foi sobre corrupção no poder Judiciário, mais precisamente denúncias de vendas de sentenças no Tribunal Regional Federal da 2ª Região. Pelo Correio Braziliense, foi contemplado pela série que apresentou documentos inéditos da Guerrilha do Araguaia. No Estadão, seu último emprego antes da Veja, fez parte da equipe que colocou no noticiário o escândalo dos atos secretos do Senado. Na ocasião, José Sarney, então senador, tentou censurar judicialmente o jornal.
Indicado em três oportunidades ao Prêmio Comunique-se na categoria “Repórter – Mídia Escrita”, o jornalista conquistou outras premiações fora o Esso. Justamente pelas reportagens sobre os atos secretos do Senado, ganhou a principal categoria do Prêmio Imprensa Embratel de 2010. Nos tempos de Época, foi reconhecido como o “Jornalista do Ano”, em 2008. Quatro anos depois, recebeu título similar, o de jornalista do ano, só que da premiação promovida pela Editora Abril. Na empresa da família Civita, foi, ainda, contemplado em seis oportunidades do Prêmio Abril – devido a reportagens produzidas em parceria com colegas de redação.
Além dos materiais enaltecidos com premiações, Rodrigo Rangel é autor de reportagens que serviram para denunciar casos de corrupção. Durante o período na Veja, acompanhou de perto os desdobramentos do mensalão e a “fáxina ética” durante o primeiro governo de Dilma Rousseff. Em uma das ocasiões relacionadas à “faxina”, foi agredido por Júlio Fróes, lobista ligado ao então ministro da Agricultura, Wagner Rossi. O caso ganhou repercussão, com o jornalista ganhando apoio de colegas e entidades de imprensa, e levou a abertura de investigações oficiais por parte da Polícia Federal e do Ministério Público.
Por meio das páginas da Veja, foi um dos primeiros jornalistas a denunciar a nada republicana relação de Demóstenes Torres (à época senador pelo DEM de Goiás) com o contraventor Carlinhos Cachoeira. Mais recentemente, sinalizou, com base em declarações de Paulo Roberto Costa, que a Operação Lava-Jato poderia ter amplitude maior do que investigar esquemas de corrupção na Petrobras. Foi, ainda, o responsável pelo conteúdo que apresentou “os segredos de Marcos Valério”, corruptor suprapartidário envolvido nos mensalões do PSDB e do PT, matéria que abordou a suposta ligação direta do ex-presidente Lula com atos ilícitos no mundo da política.
Nem só de denúncia envolvendo partidos e autoridades vive a carreira do jornalista capixaba. Ao lado de Solange Azevedo, ele contou a história de Fernando Alcântara de Figueiredo e Laci Marinho de Araújo. Os dois eram sargentos do Exército e namorados. A revelação de que formavam um casal gay foi a reportagem de capa da edição da revista Época que chegou às bancas em 31 de maio de 2008. A história, que é relembrada pela imprensa de tempos em tempos, serve para mostrar o estilo que Rodrigo Rangel quer implementar na Crusoé: pautas exclusivas, ótimos textos e apurações irretocáveis. Combinação que chamará a atenção dos leitores.
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