Uma semana após iniciar uma parceria com agências brasileiras de checagem de dados, o Facebook divulgou uma nota criticando os “ataques” que as organizações têm sofrido de movimentos autointitulados de direita. Segundo a rede social, as agências verificadoras das chamadas fake news são certificadas e auditadas por uma instituição internacional apartidária. Nos últimos dias, após entrar em vigor a parceria, grupos como o Movimento Brasil Livre (MBL) criticaram a iniciativa. O trabalho foi classificado por eles como “censura”.
O acordo foi assinado no último dia 10 de maio entre o Facebook e as agências Lupa e Aos Fatos. Se uma notícia compartilhada no perfil de um usuário é denunciada por internautas e confirmada como falsa pelas agências, o Facebook automaticamente reduz sua distribuição no Feed de Notícias. Além disso, a ação visa impedir o impulsionamento de fake news.
Em vídeo divulgado na última quarta-feira, 16, o coordenador do MBL, Kim Kataguiri, criticou a ação. Ele disse que as agências são de esquerda e fazem a checagem de dados com “viés ideológico”. “Quando você vai ver quais são esses checadores, você vai ver que são pessoas absolutamente esquerdistas. Na verdade, todas as publicações com viés mais liberal, conservador e de direita, vão ser censuradas e ter seu alcance cortado. E ninguém vai poder falar absolutamente nada”, afirmou.
No vídeo, Kataguiri chegou a criticar nominalmente um ex-integrante da Agência Pública. A organização, no entanto, não faz parte da parceria com o Facebook. Sátiras foram publicadas também em outros perfis como o Carta Capitalista com ironias à Agência Lupa, na qual o mascote aparece alterado, portando um boné do MST. A organização ainda foi denominada “Agência Lula”, em referência ao ex-presidente.
Publicado na sexta-feira, 18, o comunicado do Facebook diz que a rede social está comprometida em combater a desinformação, motivo pelo qual lançou a ferramenta. Segundo a nota, as agências de checagem de dados fazem parte da International Fact-Checking Network (IFCN). Trata-se, para a plataforma, de organização que atesta o compromisso dos checadores com a “imparcialidade” e “transparência” de suas metodologias.
“O Facebook é um espaço para todas as ideias, mas não para a disseminação de notícias falsas. Nos últimos dias, nossos parceiros no Brasil têm sido alvo de ataques pelo trabalho que estamos fazendo para ajudar a construir uma comunidade melhor informada. O trabalho deles é checar fatos, não ideias. Condenamos essas ações. E seguimos comprometidos em trabalhar com organizações reconhecidas pela IFCN no nosso programa de verificação de notícias. Porque as pessoas não querem a disseminação de notícias falsas no Facebook. E nós também não”, disse o Facebook.
Durante a semana, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) também repudiou as reações à checagem dos fatos. Segundo a organização, os colaboradores das agências de fact-checking têm tido seus perfis “vasculhados e expostos em montagens” com o objetivo de vinculá-los a uma ideologia.
“Os conteúdos e falas incitam o público a ‘reagir’. Em alguns casos, fotos de cônjuges e pessoas próximas aos profissionais também foram disseminadas junto a afirmações falsas e ofensivas. Para a Abraji, a crítica ao trabalho da imprensa é válida e necessária. Ao incitar, endossar ou praticar discurso de ódio contra jornalistas, porém, aqueles que reprovam as iniciativas de checagem promovem exatamente o que dizem combater: o impedimento à livre circulação de informações”, criticou a associação.
Ao aderir à iniciativa, a agência Aos Fatos explicou aos internautas como eles podem reportar o conteúdo supostamente falso que, se confirmado, teria o seu alcance diminuído. Segundo a organização, a ferramenta já funciona nos Estados Unidos. Por lá, foi possível cortar em 80% a distribuição de informações consideradas falsas por agências de verificação.
As agências esclarecerem que não haverá censura dos conteúdos, já que os usuários que quiserem compartilhar as notícias falsas receberão apenas um alerta de que a veracidade da informação foi questionada. “Notícias consideradas falsas pelas plataformas de checagem não poderão ser impulsionadas no Facebook. E as páginas que publicarem com frequência tais conteúdos não terão mais a opção de usar anúncios para construir suas audiências”, informou a Aos Fatos.
De acordo com o Facebook, a ferramenta já alcançou “resultados encorajadores” nos primeiros dias de lançamento. Para a rede, a parceria tem contribuído para melhorar a “qualidade das notícias da plataforma”.
“Em sua primeira checagem de conteúdo no Facebook, nossos parceiros na Agência Lupa atestaram que era falsa uma notícia de que uma vacina contra gripe estaria causando um ‘surto mortal’ nos Estados Unidos. No momento da verificação, o conteúdo já tinha milhares de interações na nossa plataforma. O exemplo acima é uma demonstração da importância do trabalho feito pelos verificadores de fatos. Eles funcionam muitas vezes como um serviço de utilidade pública”.
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