Facebook X MBL: quem pariu Mateus que o embale

Rede social desmantela rede de fake news ligada ao grupo político. O problema é que fan pages vinculadas ao MBL só se popularizaram graças à guarida dada durante muito tempo pelo Facebook

Mais de 2,7 milhões. Este é o montante de seguidores que o MBL possui em sua principal página no Facebook. O número faz com que a rede social norte-americana comandada por Mark Zuckerberg seja o principal canal de distribuição das mensagens proferidas pelo grupo de ativistas políticos. A título de comparação, os perfis oficiais do Movimento Brasil Livre no YouTube, Instagram e Twitter não chegam, juntos, a 700 mil seguidores.

O Facebook foi, ao longo dos últimos anos, o maior parceiro do MBL. Isso é fato, mesmo que tal apoio tenha ocorrido de forma indireta, apenas por causa dos “algoritmos”. Foi pela plataforma dos likes, que o movimento ganhou força. Foi por lá que protestos foram convocados, adversários atacados e parceiros endeusados. Sem dúvidas, o espaço criado por Zuckerberg foi essencial para que integrantes do grupo iniciassem carreira na vida pública. Eis o vereador paulistano Fernando Holiday (DEM) que não nos deixa mentir.

Nem esse histórico de parceria fez com o que o Facebook escapasse das críticas do MBL. Em ação que retirou do ar mais de duzentas páginas e perfis que estariam ligados a uma rede de fake news, a rede social começou a ser acusada de promover a censura. Pior, os líderes da entidade espalharam o boato de que o Facebook, empresa defensora da economia de mercado e com ações sendo negociadas em bolsas de valores, estaria agindo contra apenas um lado: o da direita. A companhia dos Estados Unidos seria, segundo o grupo de Kim Kataguiri, instrumento da esquerda mundial.

“Nem esse histórico de parceria fez com o que o Facebook escapasse das críticas do MBL”

Dessa forma, o Facebook passa a sentir o que jornalistas, veículos de mídia, instituições e personalidades com pensamentos não alinhados aos do MBL sofreram ultimamente. Como não era alvo direto dos ataques até então, a rede social parecia fazer vistas grossas aos impropérios vindos de MBL e companhia. Em julho de 2017, por exemplo, o grupo liderou ataques e boatos contra a repórter Camila Olivo, da CBN. A comunicadora foi taxada de “mentirosa” por causa de uma reportagem com teor crítico a João Doria (PSDB). Então prefeito de São Paulo, o tucano e ex-apresentador de reality show era aliado ao movimento. Hostilizada, a jornalista chegou a fechar suas contas em redes sociais.

Além de tardia, a ação do Facebook contra a rede de fake news ligada ao MBL é obscura. A empresa não justificou de modo detalhado os motivos por trás das exclusões de páginas e perfis. Também não listou publicamente os nomes dos usuários e das fan pages banidas. Trabalho misterioso e que dá margem a boatos. Misterioso como quase tudo que cerca a mais popular rede social do Brasil. Misterioso tal qual a ação da plataforma em barrar cada vez mais o conteúdo noticioso sério produzido por veículos de comunicação. Não foi por acaso que a Folha de S. Paulo resolveu deixar de manter ativa a sua fan page. Misterioso como a falta de critérios para liberar – ou impedir – o impulsionamento de postagens.

“O Facebook passa a sentir o que jornalistas, veículos de mídia, instituições e personalidades com pensamentos não alinhados aos do MBL sofreram ultimamente”

Impulsionamentos, aliás, que foram utilizados pelo… MBL. Até o fim do ano passado era comum se deparar com alguma mensagem “patrocinada” pelo grupo na timeline. Obviamente, a marca conquistou alcance e engajamento com essa estratégia. Em meio a mentiras e acusações vazias em seu vídeo contra o Facebook, Renan Santos, fundador do movimento, expôs uma informação verossímil: de que funcionários da plataforma chegaram a entrar em contato com ele para auxiliar no impulsionamento de posts – algo que também aconteceu na redação do Comunique-se. Ontem, instigava o pagamento para promoção de conteúdo. Hoje, se põe contra as atitudes adotadas pelo movimento dito de direita. Estranho. Misterioso.

Para quem lida com conteúdo e jornalismo torna-se até fácil ligar os pontos. A empresa de Mark Zuckerberg nunca esteve nem aí para a propagação de notícias falsas. Há tempos, ela parece fazer questão de ser um lugar exclusivo para memes e assuntos irrelevantes. Postura que teve de ser mudada na marra, muito por causa da queda no valor das ações após o escândalo de vazamento de dados protagonizado pela Cambridge Analytica. Dessa forma, a rede passou a lutar contra as chamadas fake news – como, convenhamos, já luta contra a disseminação orgânica de notícias reais (para aparecer, só impulsionando!).

Batalha contra boatos na rede representa, finalmente, a derrocada do MBL e seus braços virtuais. Bom para o público, finalmente. Mas a verdade é que o MBL só se popularizou graças à ajuda vinda dos “algoritmos” do Facebook. Os dois, a rede social e o grupo de ativistas políticos, se merecem. Que um siga acusando o outro. E quem pariu Mateus que o embale.

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Anderson Scardoelli

Jornalista "nativo digital" e especializado em SEO. Natural de São Caetano do Sul (SP) e criado em Sapopemba, distrito da zona lesta da capital paulista. Formado em jornalismo pela Universidade Nove de Julho (Uninove) e com especialização em jornalismo digital pela ESPM. Trabalhou de forma ininterrupta no Grupo Comunique-se durante 11 anos, período em que foi de estagiário de pesquisa a editor sênior. Em maio de 2020, deixou a empresa para ser repórter do site da Revista Oeste. Após dez meses fora, voltou ao Comunique-se como editor-chefe, cargo que ocupou até abril de 2022.

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