Fake news: não espere que os outros façam por você

Nada de comodismo: verifique se a informação que você recebe pelas redes sociais é verdadeira. Se não for ou você tiver dúvida, não espalhe

O Brasil terá eleições gerais neste ano. Em dezembro, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) criou uma força-tarefa contra as fake news (notícias falsas) que circularão contra candidatos a todos os cargos em disputa.
Entre os membros do grupo, estão representantes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e do Exército. Segundo o TSE, servirá para “propor ações e metas voltadas ao aperfeiçoamento” das regras eleitorais e “opinar sobre as matérias que lhe sejam submetidas pela Presidência do TSE”.
Para os que acreditam em soluções salvadoras na política, seria maravilhoso. Alguém veria as informações que jogam na internet e são compartilhadas, por exemplo, no Facebook e no WhatsApp. Caso julgasse que fossem mentirosas, iriam atrás do responsável e o puniriam.
Você, cidadão, não se deixe levar por essa mágica. Por mais boa vontade que a força-tarefa tenha, ela será incapaz de detectar toda a enganação que desfilará no seu computador e no seu celular antes, durante e depois das eleições. Não há gente, dinheiro nem estrutura para tanta coisa.
E há outro problema: nem tudo o que se compartilha e provoca dúvidas é falso. Há reportagens verdadeiras nas quais não se conseguiu ouvir a outra parte. Não foi por preguiça nem de propósito: o chamado outro lado não quis responder ou preferiu desqualificar a imprensa.
Sobre a ideia de “aperfeiçoamento” das leis apresentada pela força-tarefa, a Constituição brasileira assegura liberdade de expressão, desde que de forma responsável e citando possíveis punições (Artigo 5º, incisos IV, V, IX e X). E o Código Penal (artigos 138 a 145) cita os crimes contra a honra, que podem, até, resultar em multa e cadeia.
Nada de comodismo: verifique se a informação que você recebe pelas redes sociais é verdadeira. Se não for ou você tiver dúvida, não espalhe. Chame a atenção de quem a mandou para você, caso seja mentirosa. Se for verdadeira e, na sua opinião, útil para os outros, compartilhe sem medo.
Não deixe uma tarefa que é sua nas mãos de outros.
Rafael Motta. Jornalista, editor assistente de Cidades do jornal A Tribuna, de Santos (SP), e autor do curso Jornalismo Simples (jornalismosimples.wordpress.com), sobre identificação de informações falsas e uso de técnicas jornalísticas para benefício coletivo.
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