A difusão de fake news pode influenciar nas eleições de 2018. A afirmação é do coordenador do Monitor do Debate Público no Meio Digital da Universidade de São Paulo (USP), Pablo Ortellado. Ele foi um dos palestrantes do painel “Fake News: como enfrentar o tsunami”. O evento foi promovido na tarde desta quinta-feira, 24, dentro do seminário O Legislativo e as Mídias Sociais.
Ortellado definiu a notícia falsa como uma simulação jornalística, com texto jornalístico, com aparência de jornalismo, mas sem os critérios da apuração jornalística. Ele disse que uma fake news é diferente de um boato, que não tem aspecto jornalístico e é espalhado com base em testemunhos.
Segundo Ortellado, as notícias falsas normalmente não aparecem em grandes sites. Nem são reproduzidas em jornais tradicionais. Ele apontou que o recorrente é que a notícia falsa seja publicada em “sites hiperpartidarizados” e divulgada por pessoas altamente engajadas na divulgação de informações nas redes sociais, comumente ligadas à polarização política. Ortellado acrescentou que os sites de notícias falsas também usam várias notícias verdadeiras, recortadas conforme seu interesse ideológico, para dar uma espécie de legitimidade.
“O Brasil corre o risco de votar com base em informações altamente viciadas. A sociedade precisa olhar criticamente para aquilo que acredita. Quando estamos muito apaixonados por um assunto, fica difícil ter critério”, alertou o professor da USP.
Ortellado ressaltou que a difusão de fake news e a polarização política são fenômenos que não se limitam ao Brasil, mas ocorrem em todo o mundo. Ele apontou, no entanto, que é preciso aprender a conviver com o outro e a tolerar o pensamento diferente. Segundo o pesquisador, um dos caminhos apontados para enfrentar as notícias falsas é criminalizar e censurar essa divulgação. Ortellado disse, porém, que não é um grande entusiasta dessa medida. Ele defendeu uma maior conscientização do cidadão, com mais critérios de confirmação, e atribuiu às agências de checagem de fatos um papel pedagógico na pesquisa de notícias falsas.
Para Sivaldo Pereira, professor da UnB e especialista em comunicação política e regulação da comunicação digital, a regulação dos meios em comunicação existe em vários países do mundo. E é importante para garantir direitos. Ele fez questão de destacar que a regulação não quer dizer censura e defendeu que o debate regulatório alcance todos os tipos de mídia e não apenas a internet. Sivaldo acrescentou que, para combater a desinformação, é preciso que o cidadão tenha educação e informação de qualidade.
“As pessoas precisam ter vergonha de compartilhar notícia falsa. Quando isso ocorrer, não haverá mais fake news“, afirmou o professor da UnB.
A pesquisadora Laura Tresca, da ONG Artigo19, apontou que as notícias falsas podem trazer grandes prejuízos para a população. Ela citou como exemplo as fake news que envolvem questões de saúde. Para Laura, a regulamentação não deve responsabilizar os intermediários, mas sim o autor da notícia falsa.
O secretário-geral do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Carlos Eduardo Frazão, lembrou que o tribunal criou um conselho para lidar com fake news. Ele reconheceu que a questão é bastante complexa. Para Frazão, o controle sobre notícias falsas deveria ser feito fora do Estado, pela sociedade civil.
“O TSE não pode dar um selo para o que é verdade e o que não é. Temos que olhar para a sociedade e a sociedade é o local por excelência onde esse controle deve acontecer. Precisamos ter educação e consciência digital”, declarou o representante do TSE.
O seminário O Legislativo e as Mídias Sociais foi promovido pelo Senado. O evento tem objetivo de contribuir para a consciência ética e para a reflexão sobre a importância das mídias sociais; e para a atualização do Parlamento frente às novas demandas de divulgação do trabalho legislativo. O evento começou na manhã desta quinta-feira e foi encerrado na manhã de sexta-feira, 25.
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