Cinco dias para respirar poesia falada, literatura, debate, fotografia e artes plásticas. No centro dos holofotes, artistas mulheres negras. A Festa Literária das Periferias, a Flup, que começa nesta quarta-feira e vai até o próximo domingo, conta, neste ano, a história daquelas que precisam resistir ainda mais para mostrar sua arte.
Realizada pela primeira vez no Museu de Arte do Rio, o MAR, na região portuária da cidade, localidade também conhecida como Pequena África, a Flup tem como temática central neste ano o feminismo negro e a poesia falada.
A programação inclui mesas de debates sobre o papel das mulheres nas artes, a literatura como mobilidade social, a diversidade do continente africano, o avanço do feminismo negro no Brasil, o sexismo, a homofobia, os impactos dos conflitos socioambientais na população negra, entre outros temas.
A costura se faz também pela escolha do homenageado nesta edição: o poeta, dramaturgo e artista Pernambuco Solano Trindade, responsável pelo I Congresso Afro-Brasileiro, realizado em 1934, no Recife. Um dos fundadores da Flup, Julio Ludemir, detalha que a programação, com 100 autores de 20 países – 12 africanos -, evidencia o quanto o feminismo negro tem forjado um lugar de destaque no Brasil e no mundo.
“Não existe nada mais relevante no Brasil do que esse feminismo negro. E vale lembrar que eu estou falando na cidade onde se matou Marielle Franco. Num momento como esse ter mulheres negras protagonizando um festival literário, acho de uma importância fundamental e uma das maneiras de dialogar com a obra de Solano Trindade, que era um poeta engajado”.
Entre as convidadas, estão a nigero-americana Funmilola Fagbamila, uma das criadoras do movimento Black Lives Matter, a jornalista francesa Audrey Pulvar, uma das principais referências atuais sobre conflitos socioambientais, a socióloga e professora Patricia Hil Collins, a rapper Akua Naru, as brasileiras Conceição Evaristo, Flávia Oliveira, Ana Paula Lisboa, Cidinha da Silva, Preta Rara e muitas outras e outros.
Uma das marcas da Flup, a batalha mundial de poesia falada, que está na 6ª edição, neste ano contará apenas com participantes mulheres negras, com competidoras de 14 países. Julio Ludemir destaca o quanto o Slam tem sido a forma pela qual as poetas negras forjam suas artes.
“O Slam, que é uma batalha de poesia, têm sido uma plataforma para que, pela primeira vez na história do país, a gente tenha a mulher negra com absoluto destaque. Existe uma geração absolutamente relevante de mulheres negras que ganham todas as batalhas de poesia que a gente tem organizado no Brasil”.
Nas noites da Flup, a programação inclui também shows e rodas de dança e música, como a apresentação do cantor Lenine, que faz uma homenagem ao centenário de Jackson do Pandeiro, e grupos de maracatu e coco que seguem em cortejo do MAR até o Largo São Francisco da Prainha, também na região portuária.
A festa se encerra no domingo, 20, com uma grande ciranda comandada pela cantora, também pernambucana, Lia de Itamaracá. A programação completa, totalmente gratuita, pode ser conferida no site flup.net.br.
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