Conteúdo publicado em primeira mão pelo BuzzFeed News agitou a TV Globo. O site informou que a emissora foi acusada por delator do escândalo da Fifa de pagar propina a dirigentes. A ilegalidade estaria relacionada a compra de direitos de transmissão de eventos esportivos. Repercutida em portais da internet e outros canais de televisão, a notícia fez com que emissora usasse o seu principal telejornal para se defender. O caso ocupou quase seis minutos da edição desta terça-feira, 14, do ‘Jornal Nacional’.
Divulgada no fim da tarde de terça-feira, a reportagem do BuzzFeed News gira em torno do depoimento empresário argentino Alejandro Burzaco à Justiça norte-americana. Delator do “escândalo da Fifa”, caso em que autoridades dos Estados Unidos investigam esquema de corrupção no futebol, ele acusou empresas de mídia de pagar propinas em negociações para obter direitos de transmissão de torneios como a Libertadores da América e a Copa Sulamericana. As duas competições são organizadas pela Confederação Sulamericana de Futebol (CSF ou Conmebol).
Assinado por Ken Bensinger e Alexandre Aragão, o conteúdo do BuzzFeed News informa que outros grupos de mídia foram mencionados por Burzaco. A matéria chega a citar Fox Sports (Estados Unidos), Televisa (México) e Traffic (Brasil). O foco da reportagem, contudo, é a menção à TV Globo. O título atenta ao suposto pagamento de propina por parte do canal. A linha fina garante ser a “primeira vez que a maior empresa de mídia brasileira é citada no caso”. No texto, o leitor fica sabendo que um ex-diretor do veículo mantinha “relação próxima” com Ricardo Teixeira.
O ex-executivo da TV Globo citado na reportagem do BuzzFeed News – e no depoimento de Burzaco – é Marcelo Campos Pinto. O delator argentino afirma que o então diretor da emissora teria acertado o pagamento de propina durante um jantar realizado em 2012. O evento teria ocorrido na Argentina com as presenças de José Maria Marin e Marco Polo Del Nero. Eles são, respectivamente, ex e atual presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Segundo a acusação, os dois dirigentes brasileiros seriam os beneficiários do pagamento fraudulento. Segundo o acusador do escândalo da Fifa, o esquema já existia, mas Ricardo Teixeira era o destinatário.
Cinco minutos e 58 segundos. Esse foi o tempo exato que a TV Globo usou de seu principal noticiário, o ‘Jornal Nacional’, para repercutir o depoimento de Alejandro Burzaco, o delator argentino do escândalo da Fifa, e, consequentemente, se defender da acusação de pagamento de propina. O canal reforçou que “não tolera” esse tipo de infrações. No ‘Jornal Nacional’ foi exibido trecho do diálogo do delator com o promotor norte-americano Samuel Nitze. Nele, Burzaco cita outras seis empresas. Fox Sports, Televisa, Media Pro (Espanha), Full Play (Argentina), Traffic e Grupo Clarín (Argentina) foram as companhias mencionadas. O delator garantiu que o Clarín foi o único da lista a não pagar propina.
Ainda sobre a pauta relacionada ao escândalo da Fifa exibida no ‘Jornal Nacional’, a TV Globo informou que Burzaco não deu detalhes da acusação contra a empresa. O canal disse em nota (reproduzida abaixo) que realizou investigação interna para apurar o caso que está na mira nas autoridades dos Estados Unidos. Segundo o próprio veículo, nada de irregular foi constatado.
Sobre o depoimento ocorrido em Nova York, no julgamento do caso Fifa pela Justiça dos Estados Unidos, o Grupo Globo afirma veementemente que não pratica nem tolera qualquer pagamento de propina. Esclarece que, após mais de dois anos de investigação, não é parte nos processos que correm na Justiça americana.
Em suas amplas investigações internas, apurou que jamais realizou pagamentos que não os previstos nos contratos.
O Grupo Globo se surpreende com o relato envolvendo o ex-diretor da Globo Marcelo Campos Pinto. A ser verdadeira a situação descrita, o Grupo Globo deseja esclarecer que Marcelo Campos Pinto, em apuração interna, assegurou que jamais negociou ou pagou propinas a quaisquer pessoas.
O Grupo Globo se colocará plenamente à disposição das autoridades americanas para que tudo seja esclarecido. Para a Globo, isso é uma questão de honra. Os nossos princípios editoriais nem permitiriam que fosse diferente. Mas o Grupo Globo considera fundamental garantir aos leitores, aos ouvintes e aos espectadores que o noticiário a respeito será divulgado com a transparência que o jornalismo exige.Em nenhum momento, o ‘Jornal Nacional’ citou que o assunto ganhou destaque na imprensa graças à reportagem do BuzzFeed. A TV Globo também não mencionou que o dono da Traffic, uma das empresas mencionadas por Alejandro Burzaco, é parceiro da emissora. Responsável pela empresa de marketing esportivo, José Hawilla também controla a TV Tem. Sediado em Sorocaba (SP), o canal é afiliado à Rede Globo. Na parceria, cabe à TV Tem exibir a programação da emissora nacional a quase metade territorial do interior paulista. Além da televisão, ele chegou a controlar a Rede Bom Dia de jornais e o Diário de S. Paulo.
No escândalo da Fifa investigado nos Estados Unidos, J. Hawilla, como é conhecido, é réu confesso. Na mira das investigações controladas pelo Ministério Público norte-americano e o FBI, a polícia federal do país, delatou dirigentes da CBF e fez acordo para devolver à Justiça local o equivalente a R$ 575 milhões – conforme reportagem especial de Jamil Chade para o Estadão em outubro de 2015. Fez acordo e não pode deixar os Estados Unidos sem liberação das autoridades. A trajetória do empresário corruptor será apresentada em livro escrito pelos jornalistas Allan de Abreu e Carlos Petrocilo, ambos do Diário da Região de São José do Rio Preto (SP). A obra, de título O Delator, deve ser lançada pela Editora Record em maio de 2018.
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