Coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos deixa de fazer parte do time de colunistas da Folha de S. Paulo. O fim da parceria entre o militante formado em filosofia pela USP e o veículo de comunicação foi divulgado nesta quinta-feira, 3. Foi o próprio articulista que se despediu da publicação no texto – veiculado no impresso e no online – em que revela ter recebido “uma ligação da direção”. Assim, a coluna assinada por ele desde junho de 2014 chega ao fim.
Ao comunicar sua saída do jornal, Boulos sugere que a decisão tomada pela direção do jornal estaria relacionada a pressões vindas da “maior parte dos leitores e anunciantes”. Ele relata, porém, que a justificativa dada pelo comando do diário era a de que o fim do espaço mantido por ele representa “renovação ‘natural'” no grupo de colunistas mantidos pela empresa. A alegação oficial não convenceu o militante social. O líder do MTST questionou se o fim de sua coluna não estaria relacionada ao acampamento mantido pelo movimento em frente ao prédio da Federação das Indústrias do Estado de S. Paulo (Fiesp). Para ele, a ação gerou “reações de hostilidade” por parte de empresários e associações.
Apesar de sugerir que pressões externas fizeram com que a direção da Folha – que tem o jornalista Sérgio Dávila como editor-executivo – “sucumbisse” e decidisse encerrar o vínculo com ele, o agora ex-colunista pontua que sempre teve autonomia para produzir seus artigos. “Saio pela porta da frente, sem ter recuado em nenhuma de minhas posições nesses mais de dois anos escrevendo para o jornal. Devo dizer também que em nenhum momento houve intervenção no conteúdo do que publiquei”, escreveu o coordenador do MTST.
No texto de despedida da coluna, o militante mescla críticas e elogios à Folha de S. Paulo. Em determinado trecho, garante que mantém amizade e respeito com outros colunistas da publicação, como André Singer, Gregório Duvivier, Juca Kfouri, Laura Carvalho e Vladimir Safatle. Mesmo com esse relato, ele afirma que o jornal optou por “reduzir seu já restrito grupo de colunistas afinados com o pensamento de esquerda e manter um batalhão de colunistas conservadores e de direita”.
Fora do jornal paulistano, Boulos informa que o público que acompanhava suas colunas semanais continuará a ter acesso a seus textos, que serão publicados na fan page e, posteriormente, “em algum novo front”.
Dois meses antes de ser dispensado pela Folha de S. Paulo, Guilherme Boulos se envolveu em confusão com policiais militares durante ação de desapropriação de um terreno em São Mateus, distrito da Zona Leste da capital paulista. O então colunista foi levado para delegacia e ficou 12 horas detido. Ao ser liberado, acusou o ato de algo “evidentemente político”.
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