Pablo Albarenga é um fotógrafo uruguaio, de 29 anos, que se apaixonou pela causa indígena brasileira e, desde outubro de 2016, dedica-se a registrar o cotidiano e a luta desses povos. “É um momento importante para trabalhar, há muitas histórias para serem contadas e tomara que muitas se somem a essa luta tão justa e necessária”, disse à Agência Brasil.
A vida do fotógrafo mudou completamente nos últimos anos. A guinada de Pablo Albarenga começou em 2015 quando, em um curso de fotorreportagem, o professor lhe mostrou imagens que tinha captado 20 anos antes, em uma comunidade indígena da etnia Guarani, no Paraguai.
“Aquelas fotos foram surpreendentes e muito importantes para mim, porque pela primeira vez eu estava vendo imagens de indígenas que rompiam com o estereótipo que eu tinha construído. Eles estavam com roupas ocidentais, relógios. Na cultura popular do Uruguai, a imagem construída socialmente de um indígena difere muito disso. É uma imagem que se aproxima mais de algo que você poderia encontrar em um museu, de um indígena que segue pelado e descalço e sem nenhum tipo de acesso à tecnologia”.
Nascido em Montevidéu, Pablo Albarenga afirma que, assim como ele, muitas pessoas que vivem na cidade tendem a perceber a própria realidade como se fosse de todo país: “Estive em várias cidades do Brasil e conversei com pessoas que não tinham a menor ideia da situação dos indígenas [que vivem] a poucos quilômetros. Essa brecha que nos separa, entre a cidade e o campo, não nos permite saber o que está passando lá na outra ponta”.
Nos últimos três anos, o fotógrafo uruguaio tem viajado pelo Brasil e acompanhado a questão indígena de perto. Ele critica as políticas sociais e ambientais da América Latina como um todo. “Quando o negócio é gerar lucro infinito com recursos finitos, o problema nunca acaba. Em algum momento isso colapsa, e os que estão pagando o preço são as populações mais vulneráveis. No caso dos indígenas, as políticas governamentais têm que ver com a exploração dos recursos naturais da terra. Essa visão não aceita os indígenas com a sua cosmovisão, sua forma de ser e viver”.
Pablo Albarenga acredita que, embora os livros de escola tratem a colonização como um evento encerrado, o processo ainda ocorre nos dias de hoje. “O Uruguai tem uma cultura de negação, de invisibilização dos povos indígenas. A partir da minha primeira viagem [a Mato Grosso do Sul, em 2016], o que ficou claro foi que a colonização não foi um processo que acabou há vários anos, ela segue totalmente vigente. A violência típica e característica de um processo de colonização, que nós estudamos como terminado, como algo do passado, na verdade, segue vigente”.
Para o fotógrafo, ainda há muitas histórias para contar por meio da sua fotografia e ele já tem um novo projeto, que se chama Rainforest Defenders (Defensores da Floresta Amazônica, em português). “Retratamos a história de cinco jovens que vêm defendendo seu território, a Amazônia brasileira, mais especificamente o território do Baixo Tapajós. Essa experiência foi muito interessante, contar as histórias desses defensores de suas terras, que estão ainda de pé, lutando e sobrevivendo contra um sistema e um modelo econômico”.
Pablo Albarenga acredita que o direito dos indígenas de permanecer em seus territórios ancestrais está sendo suprimido. “Estamos diante de uma perda de diversidade cultural muito grande que não vai ter volta. Temos uma população fragmentada e polarizada, onde as opiniões vão em direções aos extremos, perdemos a maravilhosa oportunidade de nos encontrarmos com o outro na discussão e na diferença. A diferença que em algum momento enriqueceu hoje é a diferença que separa e que marca dois lados inimigos. Tanto no Brasil quanto no Uruguai não estamos juntos lutando pelos nossos direitos. Estamos vendo a politica como se fossem jogos de futebol. Temos os nossos favoritos, temos torcida, e são eles os que vão, em teoria, velar pelo nosso bem-estar. Mas já temos mostras de que isso não acontece”.
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Reportagem: Marieta Cazarré
Edição: Denise Griesinger
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