Encerrar a versão impressa de um veículo representa, quase sempre, crise financeira que toma conta da empresa de mídia que o mantém. Definitivamente, esse não é o caso do Grupo Paranaense de Comunicação (GRPCom). De olho para o futuro, a companhia decidiu: é hora de focar de vez em jornalismo digital. Com isso, os exemplares diários da Gazeta do Povo vão se despedir das bancas em 31 de maio. No dia seguinte, 1º de junho, os trabalhos da redação serão ainda mais dedicados às plataformas online, sobretudo o novo site, app da marca e redes sociais.
Para apresentar a nova estratégia a ser adotada a partir do fim deste semestre, executivos do GRPCom estiveram no evento realizado na manhã desta quinta-feira, 6, em Curitiba. O encontro – que teve presença da reportagem do Portal Comunique-se (*) – serviu para mostrar como será a nova Gazeta do Povo. Os valores que foram aportados até aqui para o projeto não ficaram em segredo. A empresa revelou que o investimento em tecnologia já está na casa dos R$ 23 milhões. Dinheiro esse dedicado a otimizar a navegação dos leitores e facilitar a publicação de conteúdo por parte da reportagem. Os jornalistas da casa terão o publicador instalado em seus celulares, podendo subir matérias de qualquer lugar.
A estratégia de fazer com que o time de reportagem se desprenda cada vez mais da redação física vai além de mirar a agilidade do jornalismo digital. A ação compõe o plano de ter sintonia fina com a forma com a qual a maioria do público consome notícia. Tendo em mente que a maior parte dos internautas lê notícias e artigos por meio de dispositivos móveis, a redação da nova Gazeta do Povo vai trabalhar com o conceito de mobile first – todo material originalmente produzido para smartphones e afins, mas que também se adapta ao desktop e outras plataformas. Outras tecnologias, como geolocalização e integração às redes sociais, receberam investimentos e serão explicadas em outra reportagem do Portal Comunique-se.
“Acompanhamos o crescimento de leitura no digital, sobretudo no celular. No nosso caso, crescemos 89% no digital em dois anos”, comenta o presidente-executivo do GRPCom, Guilherme Döring Cunha Pereira. “O responsivo passa a ser o nosso foco. O jornalista não precisará mais estar na redação para divulgar o seu conteúdo. Isso vai permitir que o jornalista esteja mais na rua, apure e divulgue informações de onde estiver”, explica o gestor. Ele adiantou que a nova redação [no sentido físico] foi toda pensada para funcionar nesse ritmo. Inclusive, o endereço mudou. A sede da Gazeta do Povo será transferida para o bairro curitibano de Tarumã (Av. Victor Ferreira do Amaral, 306; CEP: 82530-230.)
Um conceito foi reforçado no evento de apresentação da nova Gazeta do Povo. Os representantes do GRPCom reforçaram que a empresa de mídia, por meio de sua tradicional marca de conteúdo, vai olhar com a devida atenção para o “jornalismo de impacto social”. Os executivos explicaram que, sob essa definição, a redação vai acompanhar os desdobramentos das reportagens noticiadas. Como verificar os veículos que se pautaram pela Gazeta, decisões políticas que foram tomadas após alguma denúncia publicada e a ressonância de determinado material nas redes sociais. Para colocar em prática essa diretriz, o Grupo Paranaense de Comunicação usará metodologia desenvolvida pelo Marshall Projetc, site americano voltado a assuntos sobre justiça criminal.
O jornal diário em papel irá acabar para a Gazeta do Povo. A decisão, contudo, não representará redução do time de jornalistas da publicação. Com o já citado foco no digital, a marca dedicou parte do investimento milionário justamente para ampliar a equipe. Diretor de redação do título, Leonardo Mendes Júnior relata que uma das novidades editoriais será a implementação de um novo conceito de âncoras, que vão trabalhar com vídeos, textos e áudios. Para o formato, foram contratados os jornalistas Leandro Narloch, Lúcio Vaz e Evandro Éboli e os economistas Luiz Gustavo “Teco” Medina, Ricardo Amorim e Rodrigo Constantino. Os detalhes desse novo projeto será apresentados na próxima reportagem do Portal Comunique-se.
Outra mudança no dia a dia da redação da Gazeta do Povo está relacionada à organização de editorias. Agora, os jornalistas passam a atuar em 15 grandes núcleos, com um editor à frente de cada canal:
“A redação tinha poucos times [editorias], mas que eram grandes. Agora, são mais grupos, só que com menos pessoas. Mais unidades de conteúdo, com poucas pessoas em cada”, conta Leonardo Mendes Júnior. “Temos times com duas pessoas, por exemplo. O maior é o de ‘República, nossa equipe politica nacional, que conta com nove pessoas, tendo jornalistas em Curitiba e Brasília”, informa o diretor de redação que está na função desde outubro de 2015.
Aquele público fiel, que se propõe a assinar a Gazeta do Povo, passa a ter mais destaque por parte do veículo de comunicação. O diretor de negócios digitais e multiplataforma do GRPCom, Guilherme Vieira, pontua que a marca passa a ser guiada pelo relatório apresentado há dois anos pela Associação Mundial de Jornais e Publishers de Jornais (WAN-IFRA). A entidade internacional detectou, na época, que o leitor se tornou a principal fonte de receita de publicações espalhadas pelo planeta, superando os valores adquiridos por meio de anúncios publicitários. A expectativa do veículo é alcançar a base de 300 mil assinantes até 2019, sendo responsável por boa parte da operação do veículo. A expectativa é de que 70% da receita venha de planos de assinaturas. Os 30%, com anúncios. É o que estima o presidente do grupo.
“O modelo econômico agora destaca o assinante. Queremos fortalecer nossa relação com eles”, comenta Guilherme Vieira. O executivo ressalta, contudo, que o mercado publicitário não foi abandonado pelo veículo. Pelo contrário, argumenta. A empresa segue com núcleo especializado em branded content e publicidade customizada. Além disso, passará a fornecer informações do público leitor aos anunciantes. O trabalho fará com que marcas e agências consigam “escolher a melhor estratégia” para cada ação. “Não existem novos modelos de publicidade. Estamos dando prioridade aos formatos que são padrões no mercado, principalmente para atender a demanda de automação do digital”, prossegue o executivo.
Apesar do investimento pesado em jornalismo digital, a Gazeta do Povo não deixará de vez o mercado impresso. A edição de fim de semana, que começa a circular na manhã de sábado, será mantida. O mesmo ocorerrá como as revistas mensais Haus e Bom Gourmet. Com cada exemplar vendido a R$ 8,00 nas bancas (e entregue nas casas dos assinantes), o formato do jornal semanal será modificado. O foco passará a ser o trabalho com conteúdo de caráter especial, sob a proposta de aprofundar e explicar os principais assuntos do momento e apresentar artigos exclusivos (com intuito de gerar debate de qualidade). Tudo isso sendo dividido em 64 páginas. “Nossa entrega impressa será de alta qualidade de conteúdo e também de impressão. Será um produto premium, com qualidade estética de alto padrão”, promete Leonardo Mendes Júnior, o diretor de redação por trás da nova Gazeta do Povo.
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