“Covardia”, “patifes”, “jornalismo podre” e “canalhas”. Essas foram algumas das palavras do presidente Jair Bolsonaro contra a Rede Globo. A revolta do mandatário, registrada em vídeo de mais de 23 minutos, foi divulgada após o ‘Jornal Nacional’ exibir reportagem sobre o caso Marielle Franco. O conteúdo, disponível para visualização no G1, mostra que Elcio Queiroz, suspeito de envolvimento no assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, foi ao condomínio em que o então deputado federal tem casa no Rio de Janeiro e, conforme depoimento de porteiro, teria identificado que iria à casa do “seu Jair”. Como resposta, a equipe da emissora divulgou nota oficial. Afirma ter feito “jornalismo com seriedade e responsabilidade”.
Em pouco mais de 6 minutos, a reportagem de Paulo Renato Soares gira em torno de registros dos depoimentos de um porteiro do Condomínio Vivendas da Barra. Segundo as informações que a equipe da Globo garante ter obtido com exclusividade, o porteiro, que não teve o nome divulgado, afirmou à polícia que Elcio Queiroz se identificou como visitante de Bolsonaro e que a entrada fora liberada após a aprovação — via interfone — de alguém que se colocou como “seu Jair”. O dia foi 14 de março de 2018, horas antes da vereadora carioca Marielle Franco ter sido assassinada. O ‘JN’, que entrevistou o advogado do presidente, fez questão de informar que Bolsonaro estava cumprindo atividades parlamentares em Brasília na data em questão. O telejornal mostra, ainda, que, na verdade, Elcio foi para a casa de Ronie Lessa, acusado de ser o executor de Marielle.
A concessão em vigência para a Globo operar na televisão aberta do país vence em 2022. O ano será o último sob comando da chapa vencida por Jair Bolsonaro em 2018. Revoltado com a reportagem do ‘Jornal Nacional’ que citou o seu nome no caso Marielle Franco, ele afirmou que a emissora poderá “ter problemas” no momento de ter a sua concessão renovada. “Se o processo não estiver limpinho, não vou aprovar”, disse — aos gritos — o presidente da República. O mandatário do país disse que o canal trabalha contra o Brasil e que defendeu o “governo de plantão”, sobretudo o do Partido dos Trabalhadores. Acusou, sem prova alguma, o colunista Merval Pereira, de O Globo, de defender e aliviar críticas ao PT. “Vocês infernizam a minha vida, reclamou”. A Globo, por sua vez, pontuou que espera que o processo para renovação da concessão siga os trâmites corretos.
A Globo não fez patifaria nem canalhice. Fez, como sempre, jornalismo com seriedade e responsabilidade. Revelou a existência do depoimento do porteiro e das afirmações que ele fez. Mas ressaltou, com ênfase e por apuração própria, que as informações do porteiro se chocavam com um fato: a presença do então deputado Jair Bolsonaro em Brasília, naquele dia, com dois registros na lista de presença em votações.
O depoimento do porteiro, com ou sem contradição, é importante, porque diz respeito a um fato que ocorreu com um dos principais acusados, no dia do crime. Além disso, a mera citação do nome do presidente leva o Supremo Tribunal Federal a analisar a situação.
A Globo lamenta que o presidente revele não conhecer a missão do jornalismo de qualidade e use termos injustos para insultar aqueles que não fazem outra coisa senão informar com precisão o público brasileiro. Sobre a afirmação de que, em 2022, não perseguirá a Globo, mas só renovará a sua concessão se o processo estiver, nas palavras dele, enxuto, a Globo afirma que não poderia esperar dele outra atitude. Há 54 anos, a emissora jamais deixou de cumprir as suas obrigações.
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